sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pobreza e cinismo vergonhoso dos ricos

Do artigo de Zita Seabra «O fato usado do presidente» retiro, resumindo, o facto que mais me impressionou.

«A RTP, Telejornal à hora nobre, filmou o comovente gesto do presidente da EDP, a maior empresa pública portuguesa, a levar dois saquinhos de papel com roupa usada e um brinquedinho (usado) para uns caixotes de cartão, cheios de coisas usadas para oferecer no Natal. Fiquei comovida. Que imagem de boa pessoa, que gesto bonito: pegar num fatinho usado do seu guarda-vestidos que deve ter uns 200 e num pequeno brinquedo de peluche, e depositar tudo no caixote de cartão para posteriormente ser redistribuído? À administração da empresa? Não, a notícia explica que é para oferecer aos pobrezinhos, que estão a aumentar com a crise.»

«Alguém vai ter no sapatinho um fato de marca. Olhando para os sacos de papel, percebe-se que esse alguém também receberá umas meias usadas e talvez mesmo uma camisa de marca usada.» «Para os pobres os fatos em segunda mão de marca assentam como uma luva. Um velhinho num lar de Vila Real vestido Rosa & Teixeira sempre é outra coisa. Ou o homeless na sopa dos pobres com Boss faz outra figura, ou o desempregado com Armani numa entrevista do fundo de desemprego»...

«Os que recebem prémios de milhões em empresas públicas e ordenados escandalosos e que puseram o mundo e o país como se vê»…

Depois de ler o artigo, não resisti à tentação de ir procurar um e-mail recebido há dias e que por acaso ainda não tinha ido para o lixo

Recebido por e-mail (Data: Thu, 23 Dec 2010 14:54:52 +0300)

O Presidente da República considerou que os portugueses têm de se sentir "envergonhados" por existirem em Portugal pessoas com fome, um "flagelo" que se tem propagado pelos mais desfavorecidos de forma "envergonhada e silenciosa".

Se há alguém que se deva sentir envergonhado por haver quem passe fome em Portugal não são os portugueses, mas sim aqueles que nos últimos anos tiveram a responsabilidade de estar à frente do Estado e nada fizeram para o evitar. Pior, impuseram políticas e soluções económicas que não só não evitaram a fome e a pobreza como contribuíram para o seu aumento. Quem lutou por menos direitos, menores salários e maior precariedade no emprego é que se deve sentir envergonhado pelas culpas que tem no cartório. Eu, não é vergonha que sinto por haver quem passe fome, mas uma vontade enorme de contribuir para o fim das causas que a criaram, ou seja correr com a corja que se tem alimentado e engordado à custo do que devia ser distribuído por todos. Certamente que o Sr. Silva não se lembra dos que passam fome quando oferece os grandes banquetes com copos de cristal e talheres de prata, nem quando mostra satisfação pela realização de grandes cimeiras, como a da NATO que custou muitos milhões a Portugal. Certamente não era no problema dos que passam fome que pensa quando abraça os Dias Loureiros deste país. Vergonha devia ter quando recebe as confederações patronais e lhes sorri quando estes afirmam que as empresas não podem pagar mais 80 cêntimos por dia a quem recebe o ordenado mínimo. 

Mas, realmente há uma coisa de que nós portugueses podemos e devemos ter vergonha, é a de termos como Presidente da Republica uma pessoa como o Sr. Silva. Disso tenho vergonha, muita vergonha.

O e-mail trazia como comentário:

«Como o «Sr Silva» é muito cuidadoso naquilo que diz quando não está sob o efeito do TABU, isto leva a crer que para ele portugueses são apenas os governantes e demais eleitos. Ora isto é que é muito grave e vergonhoso. Além desses «portugueses» que recebem salários vergonhosamente milionários e reformas acumuladas, como é o caso de Sua Excelência, além desses vergonhosos, há mais de metade dos portugueses a passar fome e a contarem os cêntimos para que não sobre mês, que não deixam de ser portugueses e que não são culpados da injustiça social que nos oprime.»

Haja justiça social, haja bom senso e dignidade e procure-se reduzir o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Como diz o Patriarca de Lisboa «não é mau ser rico», mas muitos deviam ter vergonha da forma como conseguiram a riqueza.

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