quinta-feira, 4 de setembro de 2014

RÚSSIA E O ACESSO A ÁGUAS QUENTES


Os interesses estratégicos não se compadecem com decisões rápidas e sonantes. Ontem de manhã, foi muito agradável deparar com a notícia de que Putin e Poroshenko acordam cessar-fogo permanente na Ucrânia, mas o balde água fria não tardou muitas horas, com outra notícia Ucrânia dá dito por não dito após versão dissonante do Kremlin.

Convém olhar para os aspectos de geoestratégia aplicáveis. A Rússia, desde o tempo dos czares, sentiu necessidade de contornar o cerco de mar gelado na sua costa norte que a impedia de poder dispor de uma marinha proporcional ao seu espaço e com capacidade de poder chegar a todos os pontos dos oceanos, em qualquer data do ano. Por tal motivo, era para ela de capital interesse o acesso ao Mediterrâneo e ao Índico, o primeiro ficava para lá do Mar Morto e do estreito dos Dardanelos, o segundo estava para lá do Afeganistão e dos seus vizinhos.

Estes objectivos têm estado presentes em várias decisões estratégicas soviéticas e russas e do seu grande adversário os EUA.

Não foi por acaso que a Turquia foi convidada para fazer parte da NATO e que esta, agora, se tenha interessado pela Ucrânia. Também não pode esquecer-se que a Rússia invadiu o Afeganistão e sempre mostrou interesse pelos estados do seu flanco sul.

O actual caso da Ucrânia e da Crimeia pode potenciar um conflito armado, totalmente indesejável pelo perigo de escalada e, por isso, se impõe uma solução negociada que não é fácil de efectuar directamente entre Putin e Poroshenko como fora anunciado. Haverá que, com o beneplácito da NATO e da UE, encontrar forma de a Rússia poder dispor de uma base Naval segura e espaçosa na Crimeia para poder, sem conflito, aceder ao Mediterrâneo. Não seria caso único, pois os EUA dispõem da base de Guantânamo, na ilha de Cuba.

A diplomacia tem possibilidades para evitar a Guerra e esta acaba por ser forçada a encerrar com a assinatura de acordo diplomático (acordo de paz). É, por isso, ilógico que em vez de acções militares, não se recorra apenas à força da diplomacia, com ou sem o apoio de terceiros intermediários e mediadores. Passados tantos séculos depois das guerras da antiguidade e da Idade Media, vai sento tempo de os Estados se poderem entender por forma a evitar os elevados danos de uma guerra.

A João Soares

Imagem de arquivo

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

CONVERGÊNCIA DAS CIVILIZAÇÕES


Na humanidade, como em qualquer parcela da Natureza, tudo muda e nada se repete «a papel químico». A mudança raras vezes é fácil e não é sempre bem aceite pelos que a ela são obrigados, mas acaba por se concretizar, melhor ou pior. Eas pessoas para simplificara vida e o seu trabalho desenvolvem a ciência e a técnica e criam ferramentas que facilitam as tarefas mais árduas e dão visibilidade à mudança.

No entanto, há valores de convivência social que são sempre válidos e é lamentável que alguns sejam menosprezados no caminho da modernização.

No caminho das mudanças e da modernização, a história recorda-nos que das tribos que, para sobreviverem, tinham de guerrear entre si para a a obtenção e a defesa de recursos, passou-se às nações e, depois, aos estados que congregam pessoas de diversa origem, com hábitos e costumes diferentes mas que se adaptar a conviver em convergência de actividades para objectivos comuns.

Devido às tecnologias da comunicação, em modernização acelerada, as pessoas de todos os continentes sentiram haver vantagem numa convergência para a Paz e o Desenvolvimento e criaram a Sociedade das Nações e, depois, a Organização das Nações Unidas e, recentemente, começou a desenvolver-se a ideia da aldeia global e, até, de uma república mundial única, numa sintonia total dos esforços da Humanidade. Certamente esta República pouco teria de democrático.

Independentemente de congeminações mais ousadas, já começa a sedimentar a noção da conveniência de os Estados resolverem os seus conflitos pela via diplomática e abandonarem o hábito desumano do recurso ao poder militar, por ser destruidor de pessoas, de património e de recursos naturais. E, depois de iniciado, fica difícil de controlar e com tendência de escalada de violência.

No entanto surgem tentativas de radicais islâmicos, saudosistas de glórias do passado e da ambição de poder surgida após 632 (falecimento do profecta). Agora surge a intenção de criar um Estado Islâmico. Não é novidade na história universal, mas será mais um facto a ilustrar a história. Talvez sem continuidade. Vem em sentido contrário ao da evolução da convivência das civilizações em que é desejável a convergência para uma vida pacífica e harmoniosa em que o respeito to mútuo, a aceitação dos gostos do vizinho, a vida harmoniosa para a Paz e a Tranquilidade de todos, gerando condições de progresso.

Samuel Huntington, há 18 anos alertava para o perigo de um eventual choque de civilizações, como cita o General Loureiro dos Santos em artigo do Jornal Público de 21 de Agosto.

A Nova Ordem Mundial deve assentar nos condicionalismos actuais para, a partir deles, desenvolver uma Humanidade mais pacífica e, para isso, não pode destruir os progressos de séculos para regressar a situações conflituosas já ultrapassadas. Para construir um futuro melhor para toda a Humanidade, há que escolher, de entre as vias possíveis, aquela que for melhor, com menos inconvenientes e mais vantagens para as pessoas, a fim de criar uma Nova Era em que as pessoas possam ser mais felizes e solidárias.

´È nesse sentido que que deve ser interpretado o movimento referido no artigo «oposição ao projecto do califado está a aumentar».

A João Soares

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