domingo, 30 de dezembro de 2012

SNS em dificuldades ou medicina preventiva?

Francisco Moita Flores correu em defesa do secretário de Estado da Saúde que foi alvo de críticas à sua insensibilidade em relação aos portugueses com problemas de saúde, quando disse que «por mais impostos que possamos cobrar aos cidadãos, o SNS, mais tarde ou mais cedo, será insustentável. Não basta só cobrar impostos. É preciso que as pessoas façam alguma coisa para que recorram menos aos serviços». Tais críticas surgiram através da Comunicação Social e da Interner, em que se inclui o post anterior.

Transcreve-se o artigo de Moita Flores seguindo de NOTA:

Patetices
Correio da Manhã 29-12-2012. 1h00. Por: Francisco Moita Flores, Professor Universitário

Um ano que se arrastou com tantos disparates a colorir os dias cinzentos que vivemos não poderia terminar sem mais patetices para alegrar a quadra. E sendo um episódio pateta é bem revelador da crispação e do estado de espírito a que se chegou onde se inventam motivos para estar em desacordo.

A crise tornou-nos especialistas na discórdia. Nem que seja por embirração ou amuo. Desta vez, ouvi o homem falar. Foi o Secretário de Estado da Saúde. A propósito do Serviço Nacional de Saúde, alertou para o facto de termos de contribuir para a redução dos custos assumindo comportamentos de menor risco. E recordou: gastam-se 500 milhões de euros por causa das doenças associadas ao tabaco, 200 milhões pelas que resultam do excesso de álcool e só em medicamentos para diabéticos a coisa chega aos 100 milhões. Percebi que estaria a falar de medidas preventivas, sugerindo que se reduzisse o consumo de cigarros, álcool e doces. Ouvi o Professor Fernando Pádua nos seus programas sobre o coração dizer isto milhares de vezes.

Em Portugal a maior causa de morte são as doenças cardiovasculares, coisa que leva especialistas a alertarem para o excesso de consumo destes bens. Achei o discurso sensato e repetitivo. Esqueceu-se do excesso de consumo de gorduras, mas dei de barato o lapso. Qual não é o espanto quando, na hora a seguir, a TSF retransmite as mesmas palavras e a resposta de alguém de uma Associação de Utentes dos Hospitais Públicos em que denunciava a conversa como típica da política de direita. Nem mais. Daí ao habitual burburinho político com as declarações do homem foi um instantinho e choveram os mais desencontrados discursos.

A tempestadezita no copo de água que tanto prezamos e que é o sinal da desorientação geral no que respeita a saber aquilo que se discute. Pouco importa. Importante é inventar um arraial sobre tudo e nada. Neste caso descobrindo que o País fecha 2012 com uma verdade tonta: uma boa política de esquerda apoia mais cigarros, álcool e doces. E sabendo-se que também não é assim, ficamos à espera que 2013 traga um pouco mais de sensatez e menos quezília a um país que tanto precisa de inteligência e já produziu em excesso todas as patetices.


NOTA: Compreende-se que Moita Flores está politicamente correcto ao procurar agradar aos sociais-democratas para conseguir a vitória nas autárquicas de Oeiras. Mas o SE da Saúde, como se vê da frase transcrita, não referiu claramente o conselho aos cidadãos para usarem prioritariamente a medicina preventiva, para benefício da sua própria saúde. Pelo contrário, o que pode ter sido uma explicação infeliz por parte do SES, e que chocou foi a argumentação com base nas despesas e a referência aos nossos impostos. Isso é que pode ser considerado «patetice», uma obsessão neurótica pelo dinheiro que, para o cidadão comum, pode ser traduzido: Evite ir ao SNS, aguente o seu incómodo e deixe para o SNS a passagem da certidão de óbito.

A criticada falta de compreensão e de sensibilidade para os portugueses com problemas de saúde não constitui um aspecto de luta inter-partidária mas de um apelo a que os governantes não se esqueçam do juramento feito na tomada de posse de lealdade aos cidadãos e às suas funções de defender, com permanência e perseverança, os interesses nacionais, dos cidadãos, contribuindo para o seu bem-estar e segurança. Sendo o Estado constituído por três pilares – população, território e organização política – não se deve esquecer que o factor principal é o primeiro, as pessoas, e estas não devem ser lembradas apenas durante as campanhas eleitorais.

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sábado, 29 de dezembro de 2012

Evitar o médico !!!

O Secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa, disse que «é preciso que as pessoas façam alguma coisa para que recorram menos aos serviços» do SNS» porque, «por mais impostos que possamos cobrar aos cidadãos, o SNS, mais tarde ou mais cedo, será insustentável».

Tenho lido e ouvido muito sobre as vantagens pessoais e sociais da «medicina preventiva» mas, apesar da insensibilidade dos actuais governantes em relação às pessoas e aos respectivos problemas, não esperava esta argumentação de tão alta entidade. O meu espanto vai ao ponto de pensar que isto possa ter sido uma brincadeira da Comunicação Social, porque ou esta forma de dizer as coisas tem intenções humorísticas ou, por outro lado, poderá ser interpretada como uma preparação para em breve ser criada legislação para a eutanásia que, depois, passará a obrigatória para as doenças mais caras ao Estado e, mais tarde, para todos os inactivos logo que adoeçam (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Realmente os impostos são insuficientes para suportar todos os sanguessugas que vivem à larga à custa do Estado (com pensões milionárias e acumuladas, nas fundações, nos observatórios, nas empresas e nas instituições públicas e autárquicas, como assessores e especialistas nos gabinetes dos governantes, nas PPP, nas empresas de consultadoria que trabalham para o Governo, etc. etc.). Mas, em democracia e num Estado civilizado regido por valores morais éticos, humanitários, seria mais ético, mais moral, mais democrático, que o dinheiro dos impostos revertesse prioritariamente para benefício directo dos contribuintes e dos cidadãos mais carentes, finalidade que deveria estar acima das mordomias e dos interesses das sanguessugas do feudalismo dos grupos económicos.

Afinal para que pagamos impostos? Será apenas para recapitalizar bancos mal geridos e empresas e instituições destinadas apenas a dar salários e regalias a tentáculos do polvo?

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2013 será mais do mesmo? Ou pior?


Em diálogo com comentador de blogue surgiu a ideia de 2013 poder trazer violência (caçador) para resolver a crise ou suicídio colectivo por incapacidade de resistir.

Das alternativas indicadas, é realmente mais positivo ser caçador do que recorrer ao suicídio, embora haja muitos que depois de grandes caçadas se suicidam… Mas nunca fui apologista do uso das armas para resolver litígios que podem e devem ser resolvidos por forma menos primitiva, mais civilizada, pelo diálogo e pela negociação, em vez de violência que atinge inocentes e destrói património e recursos que depois fazem falta.

As palavras com que nos embriagam e obscurecem o espírito crítico são uma arma poderosa e tudo devemos fazer para incitar as pessoas a usar o seu próprio raciocínio, o seu espírito crítico, para não se deixarem arrastar por palavras patéticas, por promessas de falso optimismo. Muitas vezes, é preferível errar pela sua própria opinião do que o fazer pela opinião dos outros. Se tem receio de a sua opinião estar errada, a dos outros também pode não estar certa e eles podem estar a defender interesses ocultos. A simpatia e as palavras promissoras são arma dos vigaristas, o que não significa que não possam ser utilizadas também por pessoas bem intencionadas e nossas amigas, mas devemos estar preparados para discernir e escolher. Por isso tem sido aqui referido que é necessário pensar antes de decidir.

Quando os cidadãos se habituarem a olhar esclarecidamente para os seus deveres e direitos de cidadania, compreenderão que devem agir responsavelmente guiados pelo seu raciocínio e não por propagandas e por promessas falaciosas, veiculadas por discursos de água destilada, sem conteúdo credível. Como podemos acreditar em promessas de indivíduos que já muito prometeram e, depois, nada alteraram ou até agiram em sentido oposto ao prometido. Muitas vezes, tais indivíduos comportam-se como aquilo que José Gil, já aqui citado, denominou de «neuróticos obsessivos» que se convencem que as suas ideias são acções. Porém, na realidade, o facto de muito teimarem numa ideia do «custe o que custar», não significa que ela seja posta em prática e, se for decidida, pode ter de vir a recuar, como tantas vezes tem acontecido, porque estava distante da realidade, porque não foi racionalmente preparada, porque não foi precedida pela metodologia «pensar antes de decidir» ou por outra semelhante.

O povo está a ficar mais esclarecido e os próximos dois meses obrigá-lo-ão a ver claramente o buraco em que as más políticas dos últimos tempos o lançaram. E, depois, talvez comece a funcionar a democracia, no seu significado etimológico.

Foram desrespeitados «direitos adquiridos» dos cidadãos da classe média, mas quando se fala dos abusos do poder em benefício das hidras que sugam o país, é argumentado que se trata de direitos adquiridos e não se lhes pode tocar. Estão neste caso as reformas milionárias e acumuladas (ainda não foi decretado limite máximo para tais despesas do Estado), a tolerância para o enriquecimento ilícito (não querem mexer no «ónus da prova»), as muitas dezenas de «observatórios» de utilidade duvidosa ou inúteis, os apoios a fundações que servem para enriquecimento de «tentáculos do polvo», o critério das nomeações dos «administradores» de empresa e de instituições públicas dependentes do Governo ou das autarquias, etc, etc.

Enfim, cada um usará a ferramenta que achar melhor para acabar com as fugas abusivas do dinheiro que nos é sacado. Uma ferramenta pode ser a escrita que deve ser usada com finalidade didáctica, generosa, altruista, construtiva, esclarecedora, incitando ao raciocínio para a livre formação de opinião pessoal.

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Você está On ou Off ?



Para reflexão, no início de um Novo Ano que se desejamos nos traga a satisfação dos nossos desejos.
BOAS FESTAS.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sinais de esperança ou de preocupação ?

Extracto de notícia do Público (para a ler tudo faça clic no texto entre aspas):

«Dados cedidos ao PÚBLICO pelo Instituto Informador Comercial (IIC), uma empresa de gestão de crédito que compila as insolvências publicadas em Diário da República e no portal Citius (do Ministério da Justiça), mostram que entre 1 de Janeiro e 26 de Dezembro de 2012 foram declarados falidos 18.627 empresas e particulares, a um ritmo de 52 casos por dia. Um número que compara com os 11.515 processos registados no ano passado e que, face a 2010, representa um acréscimo de 174%.»

Realmente, esta notícia vem provar que este «não foi o Natal que merecíamos”, depois de tantos sacrifícios e privações desde há mais de ano e meio. Precisamos de um raio de esperança que surja de entre as núvens escuras que nos impedem de ver um futuro, no mínimo, condizente com um passado não muito distante.

Oxalá os governantes sejam capazes de nos satisfazer, proporcionando-nos esse raio de esperança, concreto, viável, racional, sem fantasias nem falácias. Por favor, tornem o próximo ano melhor do que aquele que agora termina sem deixar saudades.

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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Património alienado à balda

Transcrição de artigo seguida de NOTA:

Atraso de papéis custa milhões
Correio da Manhã. 27-12-2012 Por: Raquel Oliveira

Património: Reclamadas compensações de 20,1 milhões de euros.

O Tribunal de Contas diz que as vendas por ajuste directo colocam em causa “a transparência” .

O Estado vende os seus imóveis a empresas públicas, por ajuste directo, sem apresentar justificações e sem a documentação necessária. Procedimentos "insuficientes" e "inapropriados" que, por vezes, dão origem a compensações de milhões de euros, ou seja, saem caro ao próprio Estado. Só a sociedade de capitais públicos, Estamo, reclama 20,1 milhões de euros a título de compensação financeira por falta de documentação e atrasos nos processos.

É este o retrato traçado pelo Tribunal de Contas após uma auditoria a vendas efectuadas entre 2006 e 2011 de património público no valor de 1,4 mil milhões de euros, correspondentes a 721 processos. De acordo com uma auditoria, divulgada ontem, a maioria dos imóveis – 96 por cento do valor das transacções – foi vendida a quatro empresas públicas: Sagestamo, Estamo, Lazer e Floresta e Baía do Tejo.

 A análise dos documentos permitiu aos juízes concluir que não foram "realizados estudos fundamentados à luz de critérios adequados para sustentar as decisões de alienar e a selecção dos imóveis alienáveis"

. O procedimento escolhido foi o ajuste directo, o que, segundo o Tribunal de Contas, "desvirtua o regime legalmente previsto pondo em causa os princípios da transparência e da concorrência". Dos processos, 333 envolveram a celebração de contratos de compra e venda sem que tivessem reunidos os documentos necessários às respectivas transacções.

Esta falta de documentação está na origem dos pedidos de compensações financeiras realizados pelos compradores dos prédios. Numa venda à Estamo, dos 50 processos transaccionados, foram reclamadas compensações para 40, no valor global de 20,1 milhões de euros. Até 13 de Julho último, o Estado já teria entregue cerca de 40 por cento do valor reclamado, ou seja, 8,1 milhões de euros.

NÃO HÁ INDICAÇÃO DE RESPONSÁVEIS NEM SANÇÕES

O Tribunal de Contas salienta, na auditoria realizada à venda de imóveis do Estado, que dos processos "não constava evidência de terem sido instituídos procedimentos para identificar os responsáveis pelo atraso das diligências" de modo a regularizar as situações. Por outro lado, "não foi prevista a aplicação de sanções a responsáveis pela não regularização tempestiva dos imóveis". Esta "insuficiência" deverá ser corrigida, de acordo com a recomendação dos juízes.

NOTA:Esta pressa descontrolada, saltando por cima das regras estabelecidas faz concluir que realmente como diz Passos, «este não foi o Natal que merecíamos» e, também, estes não são os governantes que merecíamos e de que precisávamos. Podem argumentar que foram os portugueses que os elegeram e será por isso mesmo que no futuro os filhos e os netos acusarão os seus pais e avós de erro tão grosseiro. Como disse D. Manuel Martins Governantes "não estão à altura do momento".

Perante isto, o povo está a ficar mais esclarecido e os próximos meses obrigá-lo-ão a ver claramente o buraco em que as más políticas dos últimos tempos o lançaram. E, depois, talvez comece a funcionar a democracia, no seu significado etimológico, porque o povo é soberano e cada um tem que assumir o seu papel na reconstrução de Portugal, fazendo tudo o que estiver ao alcance das suas possibilidades, no sentido mais correcto e adequado ao momento que atravessamos. Não se deve esquecer a ética, o patriotismo, a acção didáctica e altruísta, pensando nos vindouros. A essa acção conjugada e voluntária de cada português se poderia chamar a recuperação ou reconstrução de Portugal.

Imagem do CM

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Em 2013, haja alguma esperança

Gostaria de desejar a todos os amigos, a todos os portugueses, que 2013 lhes traga aquilo que mais desejarem, que se sintam felizes. Mas, dada a previsão da notícia referida a seguir e não se prever bonança tenho que acrescentar «quanto possível».

- “2013 vai ser pior do que 2012”, diz Marcelo Rebelo de Sousa

Talvez o amigo visitante pretenda ver também as seguintes notícias que pode abrir fazendo clic no título respectivo.

- Mensagem de Natal de Pedro Passos Coelho na íntegra

- Cardeal exorta católicos a estarem “atentos” às inquietações das pessoas

- Discurso Natal: Passos Coelho a (tentar) seduzir Marcelo Rebelo de Sousa!

- Oposição critica mensagem de Natal do primeiro-ministro

- PS diz que mensagem de Passos "não cola com a realidade"

- BE diz que sempre que Passos anuncia fim da crise seguem-se mais sacrificios

- Mensagem do primeiro-ministro foi "patética"

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Presidente cauteloso !!!

Transcrição de artigo de opinião, seguida de NOTA:

Um Presidente que não conta
Diário de Notícias. 23-12-2012. por PEDRO MARQUES LOPES

É um tempo para pararmos um pouco, olharmos à nossa volta e reflectirmos sobre aquilo que fizemos, aquilo que deixámos de fazer, aquilo que não devíamos ter feito, aquilo que podíamos ter feito melhor", afirmou Cavaco Silva durante a sessão de apresentação de cumprimentos natalícios por parte do Governo.

Não é de crer que o homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas tenha, por uma vez, resolvido anunciar uma introspecção. De alguém que continua a tentar fazer-nos de parvos e diz que as suas palavras sobre as suas pensões foram mal interpretadas quando todos as ouvimos claramente, não podemos esperar grandes actos de contrição.

Por estas e outras não faltou gente a interpretar aquela frase como um recado ao Governo e não como uma espécie de mea culpa. No fundo, uma troca de recados: o primeiro-ministro mandou um recado a Cavaco Silva quando falou - de forma ignorante e imprudente pondo em causa a solidariedade entre gerações, essencial ao equilíbrio da comunidade - sobre "pessoas" que não descontaram o suficiente para ter as reformas de que hoje desfrutam e o Presidente da República tratou de mandar outro recado incentivando Passos Coelho a reflectir. Digamos que estamos bem entregues quando, num momento como o que passamos, Presidente e primeiro-ministro se divertem a mandar recados um ao outro.

É provável que a santíssima trindade composta por Passos, Gaspar e Relvas, essa entidade una e indivisível, não tenha consciência do mal que está a fazer ao País e da catástrofe que está a semear. O Presidente da República também ainda não percebeu que está a ser conivente por acções ou omissões da dita trindade, e que os cidadãos entendem que ele é parte integrante da equipa que está a destruir a classe média, a condenar gente, sobretudo de meia-idade (que não mais vai conseguir arranjar emprego) à miséria e a fazer regredir social e economicamente o País muitas dezenas de anos.

Não, não foram apenas as suas infelicíssimas declarações sobre as suas pensões, não foi aquele inominável discurso em que ofendeu tudo e todos aquando da sua vitória eleitoral, não foi o episódio das escutas (que em qualquer país civilizado teria levado à demissão do Governo ou do Presidente da República) que faz com que Cavaco Silva seja o Presidente da República mais impopular da história da democracia. Não é em vão que sondagem após sondagem Cavaco Silva reúna mais opiniões desfavoráveis que Seguro, Paulo Portas ou até do duo dinâmico Martins/Semedo - só mesmo Passos Coelho é mais impopular que ele. Nada disto surpreende: além de o sentirem colaborar com o Governo, os portugueses não conseguem perceber a sua importância. Cavaco Silva conseguiu tornar o cargo de Presidente da República irrelevante.

O Presidente renunciou ao seu papel de provedor do povo quando não fala dos problemas, das angústias, dos verdadeiros dramas dos seus representados e gasta o tempo com recados que apenas servem para que mais tarde venha com o seu habitual e fútil "eu tinha avisado" que nada acrescenta e apenas lembra a sua inutilidade . Não cumpriu o seu juramento de "defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa" quando deixou que um grupo de deputados fizesse o que ele devia ter feito mandando o orçamento de 2012 para o Tribunal Constitucional. Não pediu a fiscalização preventiva do Orçamento para 2013 quando, segundo todos os constitucionalistas, todos os observadores independentes e até do próprio partido do Governo, este tem várias normas inconstitucionais e apenas 7,6% dos portugueses acham que ele o deve promulgar.

Ouviu-se, aliás, muito o argumento de que o Presidente não iria enviar a lei para o Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva por existir o risco de não haver orçamento nas primeiras semanas de 2013. Cavaco Silva pode invocar todas as razões para não o ter feito menos essa. O Presidente não jurou cumprir e fazer cumprir um qualquer orçamento, jurou sim fazer cumprir a Constituição. Mais, se as dúvidas são muito fortes não faz sentido que não requeira a fiscalização deixando assim que muito provavelmente entrem em vigor leis inconstitucionais.

Quando, lá para Março, toda a gente perceber a catástrofe orçamental, o Governo entrar em colapso, os tribunais, departamentos do Estado e sociedade civil mergulharem numa crise sem precedentes vamos ter um Presidente descredibilizado, impopular, barricado em Belém e em que ninguém confia. Nem os partidos, nem a comunidade em geral. E logo quando mais precisávamos dum Presidente da República.

NOTA: É pena que o cronista não tenha referido a comprovada discrição, precaução, prudência, segurança, cuidado para evitar errar, recorrendo a «tabus» e, mesmo, a pedaços de pão-de-ló. Consegue levar tais cuidados virtuosos ao ponto de parecer hesitação ou dificuldade em decidir e, entretanto, o problema resolve-se e deixa de ser oportuno ou necessário arriscar. Homem prudente que não se mete em aventuras…

Imagem do DN

Para um Ano Melhor

É preciso que o Governo tome medidas para evitar que o bom povo português perca a esperança e entre em perigosa depressão. Depois de ler a notícia Milhares de portugueses deixaram de pagar condomínio para poderem comer, o estado de alma ficou logicamente abalado.

Mas, felizmente, pouco depois encontrei um outro texto com sinais de haver soluções possíveis, luz ao fundo do túnel, ideias de alguém que sugere pistas que, se adoptadas, criam a esperança desejada e conveniente. Dele se retiram as seguintes ideias:

Falta emprego e esperança aos portugueses e sobram dificuldades e incertezas, pelo que é preciso acção adequada.

O actual modelo de governação precisa de mudanças, de ajustamentos.

Há que apostar em políticas que tenham as pessoas como prioridade, e ultrapassar as políticas assentes em modelos que esquecem as pessoas e que consideram o desemprego e a pobreza como danos colaterais.

É imperioso criar condições que evitem que haja crianças que chegam com fome às escolas, idosos e reformados que deixam de comprar os medicamentos ou deixam de ir a consultas médicas e de famílias a viver no limite da dignidade.

São precisas políticas públicas de saúde, educação e segurança social, essenciais para combater as desigualdades, garantir a dignidade de cada cidadão e promover a coesão social.

Enfrentar o Novo Ano com esperança lúcida para que todos deixem de ter um presente de incerteza e de falta de esperança e para que o futuro não seja receado com angústia e preocupação.


Trata-se de linhas positivas de espírito natalício que, embora teóricas e vagas, merecem muita atenção por parte dos detentores do poder e da oposição para irem ao encontro das melhores medidas práticas a fim de termos um ANO MELHOR e recuperar a economia nacional e incentivar o bem-estar social.

Imagem do JN

sábado, 22 de dezembro de 2012

Lições persuasivas são úteis

Por vezes não basta o despertador anunciar a hora de acordar, sendo indispensável algo que desperte totalmente os demasiado dorminhocos e os que estão sob o efeito de pesadelos totalmente irreais.

A notícia deputada dos Verdes recorda a Passos promessas de recuperação em 2012 mostra que não é fácil fazer sair da neurótica obsessão que pretende criar um infundado optimismo, usando argumentos de que não pretende mais recordar-se, por não serem aceites e responde de forma menos formal, correcta, cortês e democrática , mas arrogante e autoritária quando é colocado perante afirmações anteriores.

Por outro lado tal arrogância e preocupação de impor os seus desejos irreais levam a ignorar a força dos números dificilmente contraditada que conduz à notícia de que receita fiscal acentua queda em Novembro.

Perante isto e as vozes de que eles precisam de uma boa lição que os faça «cair na real», recordei-me de um caso ocorrido há pouco mais e 30 anos, em Évora. Os polícias andavam a ficar desmotivados porque qualquer infractor que fosse levado à presença do juiz era de imediato por este devolvido á liberdade e os agentes policiais, ficavam a ouvir um discurso de que não havia provas credíveis de flagrante delito e que houve abuso de autoridade, etc. Como isto se repetia diariamente e as infracções de roubo, agressões, etc se tornavam mais frequentes, alguém dentro da esquadra pensou em dar uma lição ao juiz, o caso foi apresentado ao chefe, de forma pormenorizada, ele achou viável e deu conhecimento ao comando distrital que acabou por dar o seu assentimento, embora de forma informal.

Foram a casa do juiz, na sua ausência, e trouxeram um saco cheio de bibelôs de estimação.

Quando o juiz chegou a casa, deu pela falta das suas «preciosidades» e telefonou logo ao comandante distrital que lhe respondeu correctamente: Há por aqui muitos larápios, capazes disso e de muito pior, como o meritíssimo bem sabe, pois todos os dias lhe são presentes alguns que acabam por ser postos em liberdade e ficam mais incentivados a continuar com as suas infracções. Esta de irem a casa do meritíssimo é realmente o cúmulo do seu avontade. Iremos procurar com o máximo empenho descobrir e procurar recuperar os seus objectos.

No dia seguinte o Juiz já foi mais severo para os casos que lhe foram presentes. E assim continuou, até que passado alguns dias (duas ou três semanas), a polícia considerou que o juiz aprendeu a lição e o comandante acompanhado por um agente que carregava o saco, dirigiu-se a casa do meritíssimo, para ele ver se algum dos objectos encontrados numa casota dos arredores lhe pertencia. O juiz ficou encantado ao ver que o primeiro objecto era seu, e por ai fora… eram todos seus, e estavam ali todos os que lhe tinham sido furtados. Perguntou quem foi o ladrão como descobriram, etc? A resposta foi : O meritíssimo compreende que não devemos revelar um informador para não deixarmos de poder contar com a sua prestimosa colaboração.

Isto mostra que uma boa lição, persuasiva é eficaz para trazer à realidade muitas pessoas que vivem de sonhos, distantes da realidade.

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Greves. Porquê tantas ?

Ultimamente, apesar de a situação de crise aconselhar a aumentar a produtividade, em benefício da economia nacional, isto é, do aumento do bem-estar dos portugueses, tem-se usado e abusado das greves, algumas que nada prejudicam os causadores do mal-estar, mas que provocam sérios incómodos aos inocentes utentes dos serviços públicos.

A notícia intitulada Tribunal intima administração da RTP a reunir-se com trabalhadores sugere meditação sobre as relações entre trabalhadores e entidades patronais.

Primeiro a interrogação: porque será que, dizendo-se que estamos em democracia, essa reunião entre administração e trabalhadores não teve já lugar, de forma espontânea, sem ser necessário a imposição do tribunal? A resposta não pode afastar-se da qualidade dos administradores e gestores de instituições e empresas públicas e ou dependentes de dinheiro público.

Geralmente, salvo eventuais excepções, eles não ocupam os cargos por reconhecida competência técnica e de liderança, mas apenas por troca de favores, compadrio, cumplicidade ou conivência com os detentores do Poder político. Como estão ali para receber um bom salário e pouco ou nada sabem, não têm possibilidade de dialogar com os representantes dos trabalhadores.

Por estas razões, o diálogo, que deve ser uma análise das realidades e dos pontos de vista dos litigantes e consta de cedências de ambas as partes para encontrar o ponto de entendimento, nunca é concludente, porque há um grande desequilíbrio entre as capacidades das partes dialogantes: dum lado, está o sindicato, com profundo conhecimento dos problemas em litígio, e experiência de argumentação, obtida ao longo de anos de luta. Do outro lado, está o administrador sem a mínima capacidade, interessado em agradar ao Poder para manter o tacho, com a agravante de usar da arrogância devida ao apoio que a política lhe concede, e não está disposto a fazer cedências. O resultado é o sindicato suspender a fantochada das negociações e ir para a greve.

A greve constitui o último degrau da escalada de conflito entre a entidade laboral e a entidade patronal, como a guerra o é nos conflitos entre Estados. Muitas vezes a guerra é dispensada por ter havido acordo, em diálogo directo ou por intermédio de mediadores aceites pelos dois lados. No diálogo há sempre cedências de ambas as partes, as quais são maiores ou menores conforme a capacidade de diálogo, os argumentos utilizados pelas partes.

Há dias, um amigo salientava a ausência de greves nas instituições militares, mas há uma explicação para isso. É uma questão da reconhecida competência e valor da autoridade patronal, neste caso dos comandantes das unidades e da instituição. Entre os militares, normalmente o comandante, pela sua preparação inicial e continuada, a experiência adquirida ao longo do tempo de serviço, o ascendente que tem sobre o pessoal e, porque não, a disciplina por todos assumida, compreendida e aceite, tornam desnecessária a greve. Esta só poderá acontecer com a conivência do comando contra a tutela política (só em situação pré-revolucionária).

O militar, desde os primeiros postos, aprende o trabalho de equipa e a compreensão dos subordinados, por forma a que no combate, quando olhar para os lados e para trás veja que os seus colaboradores estão consigo e não se encontra isolado em frente do inimigo.

Nas empresas com características públicas ou municipais, os responsáveis, muitas vezes, não possuem saber, sensibilidade e experiência para liderar a equipa em cuja chefia foram colados artificialmente.

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu e os Outros. Nós e a Natureza

Nesta quadra natalícia, e obedecendo à tradicional frase de que «o espírito de Natal deve estar presente todo o ano», convém fazer uma análise do ano findo, rever comportamentos e aperfeiçoar a conduta a fim de o próximo ano ser melhor e iniciarmos um futuro construtivo seguindo os melhores valores de convivência com os outros e com a Natureza.

Não é preciso inventar nada. Desde há séculos que se recita a ideia de que deveis «amar os outros como a vós mesmos» ou de que «não devemos fazer aos outros o que não desejamos que nos façam». Neste conceito, os outros são todos os que estiverem para além da nossa pele, sejam familiares ou amigos, do nosso clube ou de outros, independentemente da cor da pele, da nacionalidade, das convicções, etc.

É nosso dever não hostilizar os outros e respeitar seriamente os seus legítimos direitos. Nos anos mais recentes instalou-se o fanatismo dos direitos, toda a gente fala nos seus variados direitos, mas ao pronunciar a palavra esquecem que deve haver deveres para que os dois pratos da balança – direitos e deveres - estejam em equilíbrio. E o principal dever é respeitar os outros, não os prejudicar no exercício dos seus legítimos direitos.

Este dever de respeitar os direitos dos outros é muitas vezes esquecido e muitas autoridades esmagam, sem a mínima consideração, os que dependem de si e que, por isso, ficam mais desprotegidos. É dever também desempenhar as suas tarefas honestamente com permanente vontade de ser eficiente, excelente. Os que têm o dever de zelar pelo bem-estar da população, devem ser escrupulosos e não viver acima das possibilidades dos contribuintes, isto é, devem fazer escrupulosa utilização do dinheiro público. Para isso, a estrutura deve ter apenas o peso e o volume indispensável à finalidade de governar bem o país, sem burocracias excessivas, sem instituições desnecessárias, sem mordomias desproporcionais às possibilidades dos contribuintes. As tarefas de cada órgão devem ser claramente definidas, com rigorosa atenção ao interesse dos cidadãos. O controlo das actuações deve ser isento e imparcial e a aplicação da Justiça deve ser geral sem criar excepções de imunidades e impunidades injustificáveis.

Mas além do nosso respeito pelos outros, há um outro dever que costuma ser esquecido é aquele que se refere à casa de todos nós, à Natureza. A nossa vida depende do ambiente, não apenas daquele que fica ao alcance da nossa mão, da nossa visão, mas de todo o planeta. Cada gesto nosso tem influência na saúde ambiental: a água que consumimos, o lixo que produzimos, os gases e vapores que enviamos para a atmosfera, o excesso de consumo e, principalmente, o desperdício, empobrece o património colectivo, os recursos que escasseiam e nos farão falta e aos vindouros.

E além da Natureza como nosso habitáculo, devemos respeitar os seus habitantes, animais e vegetais. Quanto aos animais, não posso deixar de sublinhar o egocentrismo e a arrogância que levou os humanos a considerarem-se «racionais» em oposição aos restantes habitantes da terra que qualificou de «irracionais». Tal classificação foi devida a ignorância e presunção dos humanos, pois, os animais não humanos raciocinam de forma mais coerente e pragmática do que muitos humanos e, frequentemente, dão lições de convivência, de afecto entre os familiares, os do mesmo bando e, o que é impressionante, em relação a tipos de outras espécies e raças. Nisto aparecem exemplos que devem envergonhar os humanos racistas, xenófobos, com aversão aos que seguem religião diferente ou são adeptos de outros clubes ou de outros partidos.

O espírito de Natal deve ser aproveitado para reflectir nestes problemas, de forma simples e sem preconceitos e, depois, procurar rever os comportamentos habituais de maneira a contribuir para maior harmonia e paz em relação aos outros e à Natureza em todas as suas facetas. «Amai os outros como a vós mesmos».

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Quem paga o Estado Social em Portugal



Entrevista para ouvir atentamente, a fim de compreendermos a chantagem de que somos vítimas e a quantidade de sanguessugas, o polvo, que vive à nossa custa acima das nossas possibilidaes.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Dar prioridade aos gastos sociais

Oxalá o espírito de Natal ilumine a mente dos governantes e que estes pensem na frase do Marquês de La Fayette, «quando o Governo viola os direitos do povo, a insurreição é o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres». Felizmente, já há sinais de bom senso entre os ministros dos assuntos sociais da UE, na convenção europeia contra a pobreza e exclusão social, em Bruxelas, como se vê na notícia ministros da Europa pedem fim a cortes nos gastos sociais de que a seguir se transcrevem algumas frases:

- "A União Europeia não pode ter uma política de apoio aos bancos, uma política de "nenhum banco fica para trás", e não canalizar dinheiro para as pessoas". Disse Mota Soares.

- "A Europa está a sofrer. Há pessoas sem emprego, sem rendimento, sem esperança. Temos que pensar nisso todos os dias". Disse a ministra dinamarquesa Karen Haekeruup.

- "Queremos que os governos sejam mais honestos em relação às verdadeiras causas da pobreza e tenham coragem de as enfrentar. Fechem os paraísos fiscais, parem com os cortes nas despesas sociais [e] não combatam a pobreza só com caridade." Disse Sérgio Aires, o português que preside à Rede Europeia Anti-pobreza

- "Está na hora de impor sanções aos Estados que não cumprem as metas da pobreza". Pediu Conny Reuter, da Plataforma Social.

- Em França a prioridade são as famílias monoparentais e numerosas e os imigrantes.

- A Irlanda mostra-se preocupada com os sem-abrigo.

- A ministra dinamarquesa sublinhou que a aposta é "em melhorar a qualidade de vida", garantindo subsídios a quem não tem rendimento.

- "O que dizemos é que a despesa social é um investimento". "As pessoas têm que se convencer disto." Rematou Koos Richelle, director-geral do Emprego, na Comissão.

Imagem do Google

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Evitar o desperdício

Isabel Jonet aconselhou que devemos controlar o consumo e evitar coisas dispensáveis para vivermos dentro das possibilidades reais. O despesismo, a ostentação e o desperdício, não são boas ferramentas para se recuperar o atraso do desenvolvimento.

Em consonância com tais conselhos foi publicado por Celle no Sempre Jovens um texto de autoria atribuída a Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, escritor de "As veias abertas da América Latina".

Trata-se de um texto que, apesar de extenso, merece ser bem analisado e meditado. Aprecia muito bem a diferença entre o ontem e o hoje vivendo-se agora uma adoração das coisas, de preferência novas e inovadoras para ostentar poder de compra e importância pessoal, obesidade do ego, da auto-estima num mundo demasiado industrializado em que todos somos escravos da máquina produtora. Somos assediados, induzidos e quase obrigados a descartar coisas ainda úteis e em bom estado de funcionamento, a adquirir e a mostrar coisas novas e de última moda para que as indústrias não parem. Delapida-se a natureza e, em troca, enche-se a mesma de lixo. Somos levados a concordar com o autor, e a reagir e abandonar, na medida do possível, a sociedade do desperdício. Eis a transcrição do texto:


CAÍ DO MUNDO E NÃO SEI VOLTAR

O que acontece comigo, que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte, só porque alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco?

Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos no varal junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujas. E eles, nossos nenês, apenas cresceram, tiveram seus próprios filhos e se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Entregaram-se, inescrupulosamente, às descartáveis!

Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.

Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, eu me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.

O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.

Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez. Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!

É mais! Compravam-se para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.

E acontece que em nosso, nem tão longo casamento, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes. Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar.

Nada se arruma, não se conserta. O obsoleto é de fábrica. Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos ténis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas eléctricas: o afiador ou o electricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os seleiros?

Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.

Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos carros e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava.

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já tem um novo modelo".

Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas... por amor de Deus! Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real. E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, a mesma e o mesmo nome? Educaram-me para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Porque, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir. Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocó.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular poucos meses depois de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?

Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres. A terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres.

E guardávamos... Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrigerantes!!! Como, para quê? Fazíamos capachos, colocávamos diante da porta para tirar o barro dos sapatos. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.

Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar isqueiros descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para isqueiros descartáveis. E as Gillette até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de fiambre, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.

E as pilhas! As pilhas dos primeiros radiozinhos de transiístores passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim.

As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.

Os jornais!!! Serviam para tudo: como de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas para enrolar. Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um embrulho de bananas. E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Cosmopolita era a marca de um fogão que funcionava com gás) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de paus".

As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.

Eu sei o que nos acontecia: custava-nos muito declarar a morte de nossos objectos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar e ser úteis. Aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!d

E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, nos disseram: comam o sorvete e depois joguem o copinho fora! E nós dizíamos que sim, mas, imagina que a lançávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as rolhas de cortiça esperavam encontrar-se com uma garrafa.

E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!! Morro por dizer que hoje não só os electrodomésticos são descartáveis; também o casamento e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objectos com pessoas.

Mordo-me para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória colectiva que se vai descartando, do passado efémero. Não vou fazer! Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno. Não vou dizer que aos velhos se declara a morte quando apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com gel no cabelo e glamour.

Esta só é uma crónica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilómetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar neste mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue...

Autoria atribuída a Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, escritor de "As veias abertas da América Latina"

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mar, Agricultura e Indústria

Transcrição de artigo de opinião que convida a meditar sobre as palavras, ideias ou intenções e as realidades visíveis:

A expiação de Cavaco
Económico. 22/11/12 00:25 | Helena Cristina Coelho

Rodeado por criativos e especialistas em tecnologia e inovação, Cavaco Silva subiu ao palco para falar do futuro.

Rodeado por criativos e especialistas em tecnologia e inovação, Cavaco Silva subiu ao palco para falar do futuro. Mas foi ao passado que acabou por regressar ontem, na abertura do Congresso das Comunicações. Os portugueses, alertou o Presidente, precisam de voltar a olhar para os sectores que esqueceram nas últimas décadas: o mar, a agricultura e a indústria. Isto porque, justificou, é preciso ultrapassar estigmas, é obrigatório criar riqueza no país, é urgente gerar novas bases de crescimento económico. E isso deverá passar por produzir mais e melhor esses produtos e serviços, para chegar aos mercados externos.

Se Cavaco Silva acredita mesmo que a regeneração económica do país passa por voltar a investir em sectores que passaram as últimas décadas a ser esvaziados, é bom que saiba como isso se faz. Porque, nesses mesmos anos, pouca gente ou quase ninguém soube como (ou conseguiu) travar o declínio das pescas, o abandono das terras ou o fecho sucessivo de fábricas.

O próprio Presidente, num artigo de opinião publicado há um ano no ‘Expresso', já discursava nesse sentido. Que venham mais apoios para a agricultura, que se incentivem os jovens, escreveu na altura. Metas bem intencionadas - só é pena que colidam com os números que seguem em sentido contrário.

Já nessa altura, apenas 2% dos agricultores tinham menos de 35 anos e 10% tinham menos de 45 anos, com tendência a agravar-se. É possível que hoje sejam mais, empurrados pela crise e pelo desemprego a criar novas oportunidades onde (ainda) há abandono e desinvestimento.

Mas quantos destes - apesar de tudo, nobres e necessários - projectos empreendedores podem dar verdadeira escala à economia portuguesa? E quantos serão necessários para que Portugal resgate da sombra sectores tão maltratados como o mar, a terra ou a indústria?

Haverá muitos culpados nesta história, desde as políticas e quotas comunitárias que condicionaram os volumes de produção no país, aos subsídios que fomentaram muita dependência e comodismo em vez de competitividade, sem esquecer o próprio plano económico do país que, a certa altura, preferiu o betão das autoestradas a pastos e searas.

Cavaco Silva estava lá e sabe como poucos o impacto que essas decisões tiveram na sobrevivência desses sectores. O que faz parecer esta sua proposta um acto de expiação pelos factos passados. Os portugueses, ao contrário do que diz o Presidente, não esqueceram esses sectores - tanto é que muitos estão a regressar a esses negócios, investindo, inovando, diversificando. Porque sabem que o mar, a agricultura e a indústria estão longe de se esgotar no peixe, na fruta ou numa peça de roupa. Mas acreditar que isso basta para alavancar a economia não é um plano para o futuro. Parece mais uma remissão do passado.


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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Governar é tomar medidas a favor da Nação

Governar é tomar decisões e medidas, para o que devem ser tidos em consideração todos os factores que levem às melhores soluções e, para isso, não pode esquecer-se as pessoas que vão sofrer as consequências ou delas beneficiar. As pessoas são a principal componente dos interesses nacionais.

A componente fundamental de um Estado é a Nação, isto é, o conjunto dos cidadãos, e nada deve ser feito em seu prejuízo, mas sim tudo deve ser feito para seu benefício. Não deve ser esquecido o velho lema «Tudo pela Nação, Nada contra a Nação».

Um governante da área das finanças não pode limitar-se a ser «operador de calculadora», a usar apenas os números gerais e estatísticos, dentro das paredes do gabinete, ignorando os portugueses, riscar planos teóricos em papel branco, como se o país não fosse uma geografia variada de pessoas e outros condicionamentos, como diz Santana Lopes ao exortar a troika a deixar de impor medidas de «régua e esquadro». Não podem ser desprezadas sugestões, porque de entre todas pode aparecer algo de muito positivo e útil como esta, de político experiente.


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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Bullying no POLVO ???

O Ministério das Finanças impediu Justiça de comprar carros usados quando o secretário de Estado da Administração Patrimonial da Justiça, Fernando Santo, pretendia comprar viaturas com menos de quatro anos e número reduzido de quilómetros, para renovar 10% da frota e esbarrou com o parecer negativo da ANCP, entretanto fundida num novo organismo, a Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública.

Esta posição por parte das Finanças é lógica!!! A Justiça iria dar um exemplo que os governantes e outros utilizadores de carros de alto preço e último modelo não estão interessados a seguir. Seria um termo de comparação desagradável para os outros membros do POLVO. O fenómeno não é novo e tem sido muito falado a propósito da intimidação e ameaça nas escolas (bullying) aos melhores alunos, por «estarem a prejudicar a turma» com o «péssimo exemplo» que dão, deixando os colegas em má posição em qualquer comparação.

Se a argumentação das Finanças assenta no valor das despesas de manutenção, pergunta-se porque não impõem à Justiça a compra de carros novos de menor cilindrada e preço, para não ultrapassar o total que querem gastar? É certo que aí também não caem por não se sintonizar com o bullying que estão a impor dentro do polvo.

Parece confirmar-se o que tem sido dito: a crise desenvolveu-se porque o Polvo vive acima das nossas possibilidades.


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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ensino Dual e Reindustrialização

Por vezes, é indispensável um facto especial para ser chamada a atenção para ideias com interesse. É o caso da visita de Merkel.

O ministro da Economia diz que Portugal está interessado em apostar na reindustrialização. Explica que «temos de voltar a apostar na indústria. Será através da industrialização que voltaremos a ser mais competitivos e a crescer». E aponta o caso da Alemanha que« tem dado o exemplo de como a aposta na indústria é a melhor maneira de criar emprego».

E para atrair investimento estrangeiro destacou as «reformas para o fiuturo» que o país está a fazer: mercado de trabalho, licenciamento empresarial, novo código de insolvências, nova lei da concorrência, um pacote de privatizações ambicioso, fim das golden share, liberalização do mercado de energia. Diz que "Estamos a reconstruir Portugal, a devolvê-lo à indústria, ao sector produtivo e à agrícola... Fazemo-lo por nós".

Por outro lado, o jornalista Pedro Sousa Carvalho informa que «o ministro da Educação e Ciência, que segundo consta é economista e doutorado em Matemática Aplicada, está a fazer uma verdadeira reforma estrutural no ensino que, se for levada até ao fim, pode ter um impacto verdadeiramente importante na economia: o ensino dual.»

Diz que «o ensino dual, se for levado a sério, pode ser uma das soluções para o crescimento da economia a longo prazo. É Nuno Crato a importar o que de melhor se faz na Alemanha. No País de Merkel, onde o sistema dual envolve empresas que representam mais de 80% do PIB, os alunos desde os 10/11 anos são encaminhados, por recomendação dos professores e com o consentimento dos pais, para um sistema de ensino profissional, e quando terminam a formação técnica estão aptos para trabalhar nas Audis, Volkswagen, Bosch e Siemens desta vida.

«O ensino dual não é só importante para atenuar o desfasamento entre o que se aprende nas escolas e as necessidades do mercado de trabalho. Também é importante para contrariar uma tendência preocupante que se tem instalado na economia portuguesa nas últimas décadas que é uma grande predominância do sector dos serviços sobre a actividade industrial, que não se desenvolve e não atrai mais empresas estrangeiras também por culpa da falta de técnicos qualificados (…) E aqui, seja feita justiça a Álvaro Santos Pereira que nos últimos tempos tem batido muito na tecla da necessidade de reindustrialização para inverter uma lógica pouco saudável que se tem instalado no nosso tecido produtivo.

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sábado, 10 de novembro de 2012

Evitar desperdícios



Temos que evitar o secundário e supérfluo para todos termos o necessário e útil.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Obstinação perigosa

Transcrição de artigo do Ionline:

Recessão de 1% em 2013. Gaspar e Coelho orgulhosamente sós
Ionline. 30 Out 2012 - 03:10. Por António Ribeiro Ferreira. Com Lusa

Conselho Económico e Social junta a sua voz à dos que consideram irrealista previsão do governo, em que já nem a troika acredita

Ontem foi o Conselho Económico e Social (CES) a considerar que o cenário macroeconómico apresentado na proposta do Orçamento do Estado (OE) para 2013 será difícil de concretizar e classifica como “irrealista” a previsão de uma recessão de apenas 1% no próximo ano. Mas não está sozinho. Antes já o Necep, da Universidade Católica, tinha avançado com uma recessão de 2%, o BPI fica-se por 1,5%, o Citigroup não é de meias medidas e prevê uma recessão de 4,6%, o banco japonês Nomura admite 2,7% e o próprio FMI, para não falar dos outros dois parceiros da troika, estima um impacto negativo no PIB das medidas do Orçamento do Estado para 2013 entre 2,8% e 5,3%.

Feitas as contas, só mesmo Vítor Gaspar, pai das previsões macroeconómicas para 2013, e Passos Coelho acreditam na recessão de 1% em 2013. Ou talvez nem acreditem e a teimosia no 1% seja apenas mais um exercício de dar as más notícias aos portugueses a conta-gotas, como aconteceu nos recuos com a TSU e mais recentemente com os cortes de 10% nos valores mínimos do subsídio de desemprego. Uma política de comunicação deveras peculiar, em que depois de um recuo surgem sempre mais medidas de austeridade para compensar as que o governo vai atirando para o caixote do lixo. É natural que no decorrer de 2013, à medida que se forem conhecendo as execuções orçamentais, o ministro Gaspar comece a corrigir os cenários macroeconómicos e, a exemplo do que aconteceu este ano, avance com orçamentos rectificativos e muito provavelmente novas medidas de austeridade.

No parecer sobre o Orçamento do Estado que será votado no dia 5 de Novembro, o CES adverte que “o aumento da carga fiscal sobre as famílias acentuará a quebra do rendimento disponível, a qual terá efeitos recessivos, afectando não apenas o consumo, mas também o investimento”. Nesse sentido, o Conselho “vê com muita preocupação o aumento do IRS, que irá ter efeitos imediatos no rendimento disponível devido à alteração dos escalões e das tabelas de retenção na fonte e à sobretaxa de 4%”. Este aumento da carga fiscal, alerta o CES, irá conduzir à “contracção da procura interna, que se vem tornando patente através do número elevado de insolvências e falências”.

MENOS 647,7 MIL EMPREGOS

De acordo com o projecto de parecer sobre o Orçamento do Estado para 2013, ao qual a Lusa teve acesso, o CES salienta o facto de Portugal ser dos países que mais estão a reduzir o nível de emprego e em que a taxa de desemprego mais tem subido. Prevê por isso que “no final do terceiro ano do programa de ajustamento (PAEF) Portugal terá menos 428 mil empregos que no início do PAEF (–4,3% em 2012 e –1,7% em 2013)”.

“Se atendermos a que o nível de emprego era de 5,198 milhões em 2008, prevemos que em 2013 terão sido suprimidos 647,7 mil empregos”, lê-se no documento. O CES manifesta ainda preocupação perante o facto de o Orçamento “consagrar uma diminuição significativa do nível de protecção social e da despesa social em geral”.
Com Lusa

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Jovens que nem estudam nem trabalham

A notícia do PÚBLICO Não estudam nem trabalham. O que fazem (e no que pensam) estes jovens? é preocupante, por traduzir desaproveitamento de mão-de-obra válida, por desmotivação de pessoas no vigor da vida em que é bom ter sonhos e poder lutar para os realizar, por empobrecimento do futuro de Portugal devido à impreparação de grande camada de população.

Qual é a tutela que deve procurar remédio para isto? No mínimo poderia pensar-se em criar organizações simples e sem custos elevados, de desporto, de arte, de artesanato, de agricultura, de jardinagem e cuidados com a Natureza vegetal, etc. Seria útil a ocupação do tempo em algo útil e uma refeição.

Imagem do PÚBLICO

domingo, 28 de outubro de 2012

Decisões com vista a resultados

O Sr PM afirmou que «sobre as possíveis medidas de redução da despesa impende esta obrigatoriedade, que temos de levar inteiramente a sério: na posição delicada em que nos encontramos, têm de ser medidas que nos garantam resultados com um grau elevado de certeza».

O Sr. PM diz muito bem e essa obrigatoriedade deve aplicar-se a qualquer decisão, porque os portugueses não devem ser obrigados a suportar erros dos governantes. É para isso que aqui muitas vezes se aconselha que é indispensável «Pensar antes de decidir».

Mas quando se iniciou a austeridade, parece que o Sr PM não usou desse cuidado de garantir «resultados com grau elevado de certeza». Certamente que não, pois os resultados têm-se manifestado no aumento do desemprego, no encerramento de empresas por a queda do poder de compra dos consumidores lhes ter reduzido a facturação, na diminuição da colecta de impostos, no recurso crescente à esmola das IPSS, etc

Os «bons resultados» da austeridade imposta levianamente, sem analisar seriamente outras soluções, têm apenas sido vistos pelos bancos e grandes empresas (BPI , Santander Totta, Jerónimo Martins, etc), que obtiveram benefícios na falta de equidade da austeridade. Pela sensata afirmação do Sr PM parece poder concluir-se terem sido esses os resultados que desejava, ou será que considera que errou nas suas decisões e agora quer mudar de metodologia para preparar as futuras decisões?

Feitas do Amaral sugeriu medidas diferentes. O mesmo aconteceu com João Salgueiro. E, agora Marques Mendes está mostrar caminhos que parecem conduzir a resultados «com um grau elevado de certeza». O que será que falta para que seja seguida uma boa escolha de entre as soluções possíveis?

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Bruxelas ampara Gaspar

É ridículo que tenha que ser lembrado aos «operadores de calculadoras» que o défice é o resultado de uma operação aritmética denominada subtracção e que ocorre quando o aditivo é inferior ao subtractivo, isto é, quando as receitas são inferiores às despesas. Dito de forma a ser melhor compreendido, no caso actual, há défice sempre que as despesas são superiores às receitas, quando se gasta mais do que se pode pagar.

Isso foi explicado no post Governo não pensa em orçamento. Só pensa em receitas, isto é, os «operadores das calculadoras» centraram toda a sua capacidade nas receitas e criaram a austeridade que deu recessão mas, não satisfeitos com os maus resultados, agravaram as medidas antes aplicadas. Depois, o post Défice, receita e despesa. Bruxelas avisa mostrou que a UE pretendia chamar à razão os nossos fanáticos dos números e indiferentes às pessoa, para os levar a ver alternativas e o nosso compatriota João Salgueiro explicou que Há alternativa para a austeridade.

Mas a obsessão é tal que nada demoveu os autores do OE de seguirem pelo caminho pedregoso que conduz ao despenhadeiro e a UE não resistiu á tentação de intervir ostensivamente para impedir a catástrofe e, depois de os avisos terem batido contra orelhas moucas, decidiu ser mais acutilante e impôs que o Governo tem um mês para apresentar um plano B a Bruxelas, com medidas de redução da despesa, para a eventualidade de a receita fiscal não atingir valor suficiente. Esta medida apresenta-se muito paternalista dado que o Governo parece indiferente ao facto de que a receita fiscal já caiu 4,9% até Setembro.

E é preciso reflectir que as despesas a reduzir não devem ser aquelas que vão prejudicar os cidadãos mais carentes que, devido à austeridade, já apertam o cinto á volta das vértebras descarnadas. Há que olhar seriamente para o esbanjamento do dinheiro público como as despesas inúteis, não essenciais e desnecessárias, com apoios financeiros às «fundações» que os não mereçam pela fraca qualidade ou ausência de resultados realmente úteis para os cidadãos e/ou com gestão desadequada e exageradamente custosa que só dão benefício para os administradores tachistas da amizade e da «confiança» dos políticos. O mesmo se pode dizer de observatórios sem utilidade prática ou proporcional aos custos, de apoios a actividades sem justificação que não seja apenas o apoio a amigos, de quantidade desnecessária de assessores, de especialistas, de conselheiros, de consultores, etc. Por exemplo, para que servem tantos deputados eleitos pelo povo se, apesar da sua qualidade e quantidade, o Parlamento vai gastar 406 mil euros em estudos encomendados a gabinetes amigos, nos quais, eventualmente, poderão trabalhar deputados?

Também o Governo, apesar da quantidade de assessores e especialistas, não se poupa à generosidade de encomendar estudos e pareceres a gabinetes de advogados amigos. Recorde-se que o Governo anterior tinha pago centenas de estudos e pareceres a justificar o Aeroporto de Lisboa na OTA, o qual acabou por ser destinado à região de Alcochete. Assim se criam e agravam as crises que resultam no empobrecimento imposto à classe média e baixa, apesar de, ocasionalmente, se ouvir falar do desejo de obter «justiça social».

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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mendes defende o rumo do OE 2013

Transcrição de artigo de opinião seguida de NOTA:

Linha de rumo
Correio da Manhã. 22-10-2012. 1h00. Por: Luís Marques Mendes, Conselheiro de Estado

1. Há quem sustente que a coligação governamental vai ruir, mais dia, menos dia. Pode ser que assim suceda. De facto, estatisticamente falando, nenhum governo de coligação conseguiu, até hoje, cumprir na íntegra o seu mandato.

Porém, se analisada a situação com frieza e sem estados de alma, facilmente se chega à conclusão de que a única forma de os dois partidos poderem sair vitoriosos desta empreitada é justamente levando a sua tarefa até ao fim. Vejamos: se romperem a coligação, o País jamais lhes perdoará, penalizando-os nas urnas por serem instáveis, imaturos e irresponsáveis; se, ao contrário, cumprirem integralmente o seu mandato, PSD e CDS poderão ter no final um discurso imbatível – herdámos o País ao pé da bancarrota e tirámo-lo da bancarrota, herdámos a troika e acabámos com ela. É difícil ter, em termos eleitorais, um discurso tão forte, assertivo e compensador. Conclusão: manter a coligação é simultaneamente uma boa solução para o País e para ambos os partidos. Este é dos poucos casos em que o interesse nacional e o interesse partidário coincidem. Será assim tão difícil perceber isto?

2. É muito habitual em Portugal, a meio de um caminho, haver dúvidas, hesitações e tentações de mudar de caminho. Também desta vez a situação não foge à regra. Multiplicam-se as vozes que estão cépticas, aumenta o número dos desconfiados, está paulatinamente a perder-se o contributo das elites. Aqui chegados, entendamo-nos: uma coisa são os fins, outra coisa são os meios para os alcançar. Podemos discordar de várias medidas adoptadas, em particular da brutal carga fiscal que o País vai suportar. Esta discordância é um contributo útil do ponto de vista da cidadania, porque a melhor forma de ajudar não é aplaudir de forma acrítica e hipócrita. Coisa diferente é pretender mudar o caminho que o País está a seguir. Isso, sim, seria irresponsável. Chegados onde chegámos, mudar radicalmente de rumo seria fatal: primeiro, deitávamos a perder os sacrifícios feitos; depois, mandávamos às urtigas os progressos alcançados; terceiro, passávamos para o exterior uma desastrosa imagem de instabilidade; mais tarde, teríamos de repetir os sacrifícios. Ganhávamos alguma coisa?

NOTA:
Luís Marques Mendes, depois de ter criticado o excesso de austeridade e a orientação do OE para as receitas em vez de reduzir as «gorduras», usa, neste artigo de opinião, principalmente na segunda parte, um estilo «politicamente correcto», um pouco à semelhança do seguido por Portas para evitar a crise política.

No entanto, há dúvidas se não seria preferível enfrentar a doença de frente e extrair o tumor, em vez de contemporizar com paliativos à espera da morte lenta. Mas, mesmo com o orçamento proposto, penso que nada impedirá de reduzir as despesas inúteis, não essenciais e desnecessárias, cortando apoios financeiros às «fundações» que os não mereçam pela fraca qualidade ou ausência de resultados realmente úteis para os cidadãos ou com gestão desadequada e exageradamente custosa que só dão benefício para os tachistas administradores. O mesmo se pode dizer de observatórios sem utilidade prática ou proporcional aos custos, de apoios a actividades sem justificação que não seja apenas o apoio a amigos, de quantidade desnecessária de assessores, de especialistas, de conselheiros, de consultores, etc.

Essa redução de despesas não prejudicará o rumo referido na parte final do artigo e poderá minorar os piores efeitos da austeridade excessiva, diminuir a gravosidade da recessão, permitir a retoma da economia e deixar respirar mais livremente as populações mais carentes e oprimidas.

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sábado, 20 de outubro de 2012

Voluntária honra Portugal

Transcrição de notícia de um caso exemplar que prestigia Portugal:

Portuguesa é melhor voluntária do ano na Europa
PÚBLICO. 19.10.2012 - 10:46

Isabel Fernandes, 24 anos, recebe hoje o prémio europeu na categoria de “Melhor Voluntário”. “Não necessito de prémios, porque esses os tenho sempre no terreno, nos sorrisos e abraços que recebo ao final do dia - disse ao PÚBLICO agora de manhã.

"Estou aqui no aeroporto a pensar que sou rosto de todos os que trabalhamos para este e outros projectos de voluntariado e que isso é um orgulho”, diz Isabel Fernandes ao PÚBLICO momentos antes de embarcar para Florença, onde hoje à noite irá receber o prémio de “Melhor Voluntário” atribuído pela Active Citizens of Europe.

Isabel Fernandes, natural de Famalicão, esteve um ano em Moçambique a coordenar o projecto Tutor à Distância, o principal projecto da organização não governamental portuguesa ataca. “A ataca abriu-me as portas em 2011, quando me seleccionou para o projecto e parti rumo à minha casa”. É assim que Isabel Fernandes se refere a África e ao programa que a levou ao trabalho comunitário de ajuda a 900 pessoas na província de Gaza, no sul de Moçambique.

Com dois coordenadores no terreno – “damos sempre emprego a pessoas das comunidades locais” – e oito que chegaram de Portugal, Isabel Fernandes coordenou um projecto que pretende "combater a pobreza extrema de crianças entre os dois e os 18 anos". “Se todos dessem um pouco, às vezes um euro por dia, quase o valor de um café, já faria toda a diferença”, diz Isabel Fernandes.

“E sou a prova de que todas as doações chegam aquelas crianças e de que vemos os resultados. Por exemplo, quem não tinha sequer uma casa a que se pudesses chamar casa, agora pode ter uma latrina melhorada, algo a que damos imensa importância por todas as razões de higiene e segurança sanitária. E as crianças podem ter uniforme, que é um passaporte para irem à escola”, acrescenta.

Já em 2009 Isabel Fernandes tinha estado em Moçambique, ao abrigo de um outro programa de voluntariado da organização não governamental Associação e Integração para o Desenvolvimento Global (www.aidglobal.org). “Morre lentamente, quem não troca o certo pelo incerto, em busca de um sonho”. Isabel Fernandes socorre-se das palavras do poeta chileno Pablo Neruda para resumir o seu espírito de missão.

Licenciada em Psicologia, no desemprego, sabe que África será novamente o seu próximo destino e para isso trabalha a associação que criou juntamente com outros voluntários, Kutsemba (www.kutsemba.pt) e que conta com 25 pessoas que em Portugal prestam apoio a várias comunidades moçambicanas com material escolar, jogos didácticos, roupa. “Somos uma associação ainda muito pequenina e nem temos ninguém no terreno.

Trabalhamos daqui de Portugal, ainda há pouco enviámos um contentor para Moçambique com material variado. Mas esta nova realidade de crise em que vivemos afecta todos e sente-se isso até porque as próprias empresas não podem apoiar como gostariam.”

O painel de júris foi constituído por elementos da Comissão Europeia e Organizações da Sociedade Civil e por voluntários, que reconheceram o mérito do excelente desempenho da Isabel na promoção da coesão, justiça e solidariedade.

A cerimónia da entrega do prémio de “Melhor Voluntário” (cujo painel de júris foi constituído por elementos da Comissão Europeia e Organizações Não Governamentais) realizar-se-á hoje, pelas 20h30, no Palácio Medici, em Florença.

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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Comunicar com objectividade

Se o aparecimento de responsáveis políticos nos órgãos de comunicação não for para comunicar com verdade, clareza e precisão, pode tornar-se perda de tempo, propaganda ou pantomina de diversão.

«O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, criticou nesta quinta-feira os anos de governação socialista e acusou o PS de ser o responsável pelo Orçamento do Estado que o Governo apresentou na segunda-feira ao país.»

No momento actual, nada adianta estar a tomar culpas aos causadores da crise. Esses deveriam estar a contas com a Justiça se ela funcionasse. Os actuais governantes é que têm responsabilidade de resolver todos os problemas agora existentes e procurar, para eles, as melhores soluções. Foi para isso que nos pediram o voto. É para isso que lá estão.

O nosso papel de eleitores e contribuintes deve ser a crítica civilizada e construtiva para os pressionar a reparar aquilo que não está bem. Um político, por norma, como ser humano, é avesso à mudança, às alterações, e preguiçoso e, diz a experiência que, nada fará se não for pressionado e empurrado.

O nosso dever é estimular a sua acção para defender os interesses nacionais e melhorar a vida dos portugueses. Fazer isso não é ser do contra, nem revolucionário, é ser patriota, amigo de Portugal.

O ministro da economia, mostrou grande incompetência ontem por ter dito mal do governo anterior, já saído há quase ano e meio, em vez de mostrar obra feita neste já largo tempo de governação do actual Governo. Ou será que, ao fim de todos estes meses, não tem resultados a mostrar, de que se orgulhe? É pena ver políticos no poder a perder tempo fazendo guerras partidárias, em vez de falarem dos reais problemas que afectam os portugueses. Em momento de grave crise, todos os esforços devem ser orientados para atrair todos os sectores a colaborar na escolha das melhores soluções com consenso alargado, a fim de serem obtidos os melhores resultados para bem dos portugueses. Lutas partidárias não são, neste momento, o que o país mais precisa nem são patrióticas. Façam e digam os resultados, mostrem as razões que os levam a tomar cada decisão. Tal informação, com verdade, transparência e objectividade, é que deve ser o tema das suas palavras em público, para conseguir a maior convergência de esforços.

Essa é que será a mais eficaz propaganda que os eleitores gostarão de ouvir.

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