quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Para restaurar Portugal

Transcrição seguida de Nota

Primeiro o PS depois o PR
Jornal de Notícias. 28 de Dezembro de 2009. Por Mário Crespo

Portugal tem tido muita gente esquisita a governá-lo mas, com Cavaco Silva e José Sócrates, atingimos um elevado grau de desconforto. O semipresidencialismo destes dois homens produziu um regime híbrido que não executa nem deixa executar. Semi-governante e semi-presidente ao fim de quatro anos de semi-vida institucional aparecem embrulhados numa luta por afirmação confusa e desagradável de seguir.

O embaraço público que foram os cumprimentos de Natal adensou a sensação de incómodo. O regime poderia funcionar se os actores se quisessem complementar. Mas estes actores, por formação e deformação, não têm valências associáveis. O voluntarismo de que os dois vão dando testemunho não chega para disfarçar as suas limitações. Com eles a circular a alta velocidade nos topos de gama à prova de bala e nos jactos executivos do Estado, o futuro de Portugal fica hipotecado ao patético despique da escolha de impropérios numa inconsequente zaragata de raquíticos. Até que alguém de fora venha pôr ordem na casa. A menos que venha alguém de dentro.

Semi-governante e semi-presidente tornaram-se descartáveis e, dada a urgência, é preciso começar pelo Partido Socialista. A crise no PS com a ausência de resultados desta direcção é muito mais séria para Portugal do que o tumulto no PSD.

Porque o PS governa e o PSD não. O PSD morreu. Ressuscitará ao terceiro dia para um mundo diferente. Um mundo em que homens casam com homens e mulheres com mulheres e onde se morre, ou se mata, por uma questão de vontade, requerimento ou decreto. Um mundo cheio de coisas difíceis de descrever. Coisas que precisam de muitas palavras para serem narradas e, mesmo assim, não fazem sentido. Como por exemplo a "activista-transexual-espanhola" que é alguém que frequenta o Parlamento de Portugal pela mão deste PS segundo José Sócrates. Um PSD ressuscitado vai ter que incorporar estas invenções na matriz de costumes de Sá Carneiro, inovadora à época, monástica hoje, ainda que, provavelmente, adequada para o futuro.

Até lá, é aos Socialistas a quem compete definir alguém para governar. Alguém que quando falar de educação não nos faça recordar a Independente. Alguém que quando discutir grandes investimentos não nos faça associar tudo ao Freeport. Alguém que definitivamente não seja relacionável com nada que tenha faces ocultas e que quando se falar de Parlamento não tenha nada a ver com as misteriosas ambiguidades de Carla Antonelli "a activista transexual espanhola" que, com Sócrates, agora deambula pelos Passos Perdidos em busca do seu "direito à felicidade".

O governo não pode estar entregue a um PS imprevisível e imprevidente, menor em qualidades executivas e em ética, capturado nos seus aparelhos por operadores desalmados e oportunistas.

Recuperar a majestade das construções ideológicas e políticas de Salgado Zenha, Sottomayor Cardia e Mário Soares é fundamental nesta fase da vida, ou da morte, do país. No Partido Socialista há gente seguramente preparada para governar e começar a recuperar o clima de confiança e respeito pelos executivos nacionais que Sócrates e Cavaco arruinaram.

Substituir Sócrates é já um dever. Na hierarquia de urgências o problema Cavaco Silva vem depois mas, também aqui, Portugal tem que ter na Presidência alguém que não possa ser nem vagamente relacionável com nada onde subsistam incógnitas. E há muitas incógnitas no BPN. Mas cada coisa a seu tempo. Primeiro o PS, depois o PR.

NOTA:
Há quem diga que em 2010, centenário da implantação da república devia haver reformas positivas no País por forma a restaurar a vitalidade nacional para o desenvolvimento e a felicidade das pessoas. O ideal seria os partidos entenderem-se, unirem esforços em sólidos consensos para acelerarem a evolução com o mínimo de custos de todos os géneros, evitando soluções dramáticas como as já aqui referidas e de que o caso Berlusconi parece ser uma centelha. Seria de evitar ver estragar miniaturas dos Jerónimos contra os dentes de políticos.

A par das palavras sensatas e muito claras de Medina Carreira, Mário Crespo dá lições aos políticos sobre as realidades nacionais e a necessidade de medidas construtivas. Mesmo que os políticos, absorvidas nas tricas entre partidos, tenham dificuldade em interpretar tais alertas, devem fazer o esforço de nelas meditar e depois elaborar decisões e orientações correctas para bem de Portugal e das gerações futuras.

Estas lições não devem ser olvidadas por quem fez o juramento solene de cumprir com lealdade as funções que lhe foram confiadas. E, muito menos, ser olhadas com ar raivoso por ver que há quem não aplauda cegamente. Portugal precisa de pessoas que observem com isenção e serenidade as realidades e tenha a coragem de alertar para a necessidade de correcções do rumo a fim de evitar o abismo.

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