Há pessoas que detectam todo o saber e qualidades pessoais dos outros «em menos de um fósforo», mas eu sou mais lento e fiquei surpreendido com o meu amigo António já aqui referido várias vezes. Ontem, domingo tive o prazer de passar algum tempo com ele em amena cavaqueira sobre aspectos da vida actual, do País e do Mundo.
A dada altura, nem me lembro a que pretexto, disse-me que um amigo lhe contou que um primo relacionado com pessoas de grande poder de influência precisava de empregar uma filha num serviço público, ou empresa pública, em lugar muito bem remunerado, mas a moça tinha feito a licenciatura numa dessas universidades, tipo grandes oportunidades, daquelas que têm má fama e arriscam-se a fechar como já aconteceu a outras muito badaladas, e depois de se formar não fez nada. Nada tinha de currículo!
Falou no caso a um amigo muito bem colocado na pirâmide dos tachos e obteve a resposta de que seria difícil, porque para o lugar haveria muitos políticos a querer encaixar familiares e amigos e que, sem currículo, seria quase impossível conseguir ser admitida. Mas iria ver o que se podia arranjar.
Palavras simpáticas a funcionar e, passados dias, lá veio a solução: o amigo conseguiu que num momento se construísse um currículo de fazer inveja a qualquer jovem licenciada mesmo que tivesse a competência da Mónica Lewinsky.
Ao chegar a este ponto exclamei: Oh António, isso cheira a fantasia de pura ficção. E ele respondeu que estava a contar tal como a ouviu. E disse que num belo dia foram para o Diário do Governo (agora teria outro nome) dois despachos, um a contratar a menina Manuela para secretária pessoal dessa entidade a partir de uma segunda-feira e o outro a exonerá-la a seu pedido a contar da sexta-feira seguinte e aproveitava para declarar que nesses quatro dias ela evidenciou excelsas qualidades pessoais e profissionais e desempenhou as funções com inexcedível dedicação, competência e lealdade.
Menina muito prendada que, em tão poucos dias, tão bem se adaptou ao serviço e soube mostrar todos os seus talentos. E o seu extraordinário chefe teve a perspicácia de avaliar tudo isso e ir ao âmago das suas excelsas qualidades pessoais. Puramente fantástico!
E com tal currículo, ela foi admitida ao importante cargo que pretendia.
Coisas destas só em contos de fadas ou moiras de encantar, e mostrei ao António que podia ir contar essa história a outro porque eu não a engolia.
Mas, quando cheguei a casa deparei, com muito espanto, com esta imagem em anexo a um e-mail e fiquei com a impressão que o António não é aquela pessoa simples e cinzenta que aparenta e deve andar metido nos segredos dos deuses.
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