Transcrição de artigo que refere pontos merecedores de atenta reflexão, num conjunto que levanta sérias preocupações, como tem sido deduzido dos posts recentes.
JN. 100716. 10h40m. Por Pedro Ivo Carvalho
Como sucede num casal desavindo que atinge o ponto de saturação e parte para o divórcio, também PS e PSD, outrora Romeu e Julieta numa união de facto de conveniência, vivem no presente a fase da separação dos bens.
Não há carro, casa ou cão em disputa: o que os faz levantar a voz e erguer os indicadores são derivas ideológicas e, sobretudo, uma indisfarçável tentação para exibir medalhas, como se o passado de cada um justificasse a bondade das suas acções futuras.
O triângulo amoroso completou-se em plena Assembleia da República, com Paulo Portas a desafiar José Sócrates a demitir-se do cargo de primeiro-ministro, para dar lugar a um Governo tripartido com PS, PSD e CDS/PP. Para três anos. E sem Sócrates.
À Nação que ontem esteve em debate no Parlamento assenta bem a metáfora novelesca. Discutiu-se muito para as televisões, com o dramatismo e humor próprios, adiantou-se pouco ou nada sobre o que podem esperar os portugueses dos que os governam ou querem governar. O Portugal que nos mostraram é o Portugal que já estamos cansados de conhecer.
Falar de confiança, como falou José Sócrates, o "optimista inveterado", não chega, por mais que nos seja aprazível reconhecer que temos um líder de Governo que não se conforma. Falar do abismo, como foi timbre discursivo do PSD, que já nem disfarça a embriaguez que o cheiro a poder lhe causa, também não é solução, sobretudo se, como reconheceu Luís Montenegro, vice-presidente da bancada, esse mesmo partido que se assume como alternativa apenas aceita dizer ao que vem depois de ter sido eleito.
Sugerir, como fez Paulo Portas, um acordo tripartido, num pretenso golpe de asa que é apenas retórica, resultará num sound-byte de vida efémera. Até porque veio da boca de quem, bem recentemente, dizia cobras e lagartos de tal comunhão de vontades.
Estamos, por isso, num impasse: o país não descola e, por mais vontade que haja em abanar com tudo, a imprevisibilidade dos efeitos faz-nos duvidar da eficácia do projecto. O PS, José Sócrates, já estará arrependido do namoro com o PSD; o PSD, empolgado pelas sondagens, já nem se lembra do chamamento patriótico que o fez aliar-se ao inimigo; o CDS/PP, que vê a sua esfera de influência em perigo perante o cenário de uma maioria absoluta do PSD, ensaia o grito do Ipiranga. Mas fica a gritar sozinho.
Desenganem-se, por isso, os que sonham com um entendimento partidário. Está visto que não há cola mágica que consiga juntar tantos cacos. Basta ver como ontem os partidos se enredaram numa discussão patética sobre décimas na taxa de pobreza. Lamentável.
Imagem da Net.
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