O cronista Fernando Santos, com graça e perspicácia, escreve que
«governantes e governados adoram o entretenimento recíproco. Há problemas? Basta um prato de lentilhas e os acordes de uma canção do bandido, em voz professoral desmemoriada, para trocar o essencial pelo acessório, esvaziar angústias e alijar responsabilidades.
Uns atrás dos outros, somam-se os casos da superficialidade e da retórica fácil. Adorável.»
Notícias como Desempregados aumentam 14,1% em fevereiro em relação a 2012, e como Despesa com subsídios de desemprego sobe 21% até fevereiro passam despercebidas devido ao esmagamento que a comunicação social realiza com as banalidades que distraem os portugas.
Mas surgem frases plenas de significado e a merecer a melhor atenção. Eis algumas:
"O país vive à beira de uma rutura social", sem que o primeiro-ministro seja capaz de reconhecer que a sua estratégia falhou.
"Durante os 21 meses de governação, o primeiro-ministro pediu aos portugueses pesados sacrifícios e em troca comprometeu-se a ter um défice orçamental de 4,5% e uma dívida pública de 113% da riqueza nacional. Terminou 2012 e o défice não foi de 6,6% e a dívida superior a 122%. A execução orçamental, hoje revelada já quase à noitinha, demonstra que o Governo não está a fazer a consolidação orçamental".
"Se os resultados são maus, as consequências são dramáticas", com um milhão de desempregados no final do ano, meio milhão dos quais sem apoio social e 40% dos jovens sem trabalho.
"Este primeiro-ministro merece continuar em funções? É este o primeiro-ministro que o país precisa? Num momento de tantas dificuldades, precisamos de um outro primeiro-ministro que mobilize, que inspire, que coloque horizontes, que dê sentido aos sacrifícios e saiba conciliar o rigor e a disciplina orçamental, mas dando prioridade aquilo que é o principal problema dos portugueses: o combate ao desemprego"
Passos Coelho devia reconhecer que a sua estratégia falhou, de ter a humildade de pedir desculpa aos portugueses e de ter a capacidade para mudar de rumo".
O primeiro-ministro "aplica uma receita que não cumpre nenhum objetivo, que aumenta o desemprego, baixa a economia, insiste em mais austeridade e não aceita nenhuma proposta, que esbanja a oportunidade de um diálogo político sério e construtivo com o principal partido da oposição e que reduz aos mínimos o diálogo social"
Mas estas palavras trazem um carimbo que lhes retira isenção e lhes adiciona o sinal de uma intenção, pois são do líder da oposição, Seguro que pretende justificar a prometida moção de censura.
A esta posição de Seguro, o cronista Manuel Tavares alerta para que só pode convencer os eleitores uma censura com programa e que «a maioria de descrentes também não acredita que haja remédios eficazes no almofariz da oposição»
O cansaço de ver desrespeitadas as promessas eleitorais, sempre irreais com fantasias utópicas faz prever que a abstenção e o voto em branco serão o destaque da próxima ida às urnas.
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