sexta-feira, 1 de março de 2013

Gaspar o irónico



Gaspar tem uma acentuada propensão para brincar com coisas sérias como se estivesse num palco de comédia em que os espectadores estivessem sintonizados com a sua ironia, Mas, actualmente, a sua plateia está cheia de cidadãos descontentes, indignados, a quem têm sido exigidos sacrifícios não previamente calculados e que se tem verificado ser inúteis.

A sua anedota mais recente pode traduzir-se em duas pequenas frases: Aguentem porque somos «um povo de marinheiros capaz de superar as piores tormentas» e agora já estamos a «perspetivar a saída da crise e olhar de frente o futuro».

Enfim, mais frases bonitas sem conteúdo, sem nada de concreto, que evidenciam ironia de mau gosto por pessoa sem respeito pelo povo que sofre e precisa de factos geradores de confiança e de esperança. Como pode falar de futuro, se o presente não foi por ele devidamente previsto e preparado. Se o futuro estiver para o presente na mesma proporção como este está para o passado, ele será um abismo ou um inferno inimaginável.

E ele teve vários alertas, várias situações em que reconheceu os seus erros de previsão e se surpreendeu com os resultados das decisões imponderadas que tomou. Por exemplo, uma corrida rápida aos arquivos mostra em 17-02-2012 a notícia Há 885 novos desempregados por dia. Poucos dias depois, em 04-03-2012, disse com a sua notória criatividade que A história garante que venceremos a crise, mas hoje, passado um ano, verifica-se que essa fada milagrosa não merece mais confiança do que os nossos governantes. E a via dolorosa do nosso ministro continuou e, menos de dois meses depois, em 27-04-2012, mostrou-se preocupado com desemprego que ele não conseguiu prever nem evitar. E entretanto, a austeridade cumpriu o seu dever que muitos técnicos e pensadores perspicazes tinham previsto que era a redução do poder de compra com a paragem da economia, encerramento de empresas, desemprego, e menor volume da colheita fiscal o que levou a que em 20-06-2012 surgisse a notícia Défice orçamental ficou acima do de 2011 no primeiro trimestre

Depois houve o corte do subsídio de férias e de Natal, contra o que surgiram atitudes populares de indignação e em 10-07-2012 veio a notícia de que Governo procura alternativas ao corte dos subsídios que gerem “consenso”. As incapacidades geram confusão com os menores problemas e estes não eram muito simples. Da teimosia em insistir na austeridade, cada vez mais 
agravada, no estilo custe o que custar, doa a quem doer, ou quero posso e mando, o desemprego tem sido o aspecto mais preocupante pelas consequências que acarreta, e em 10-08-2012 surgiu a notícia Desemprego de licenciados sobe 49,5%.

E o percurso tem prosseguido a caminho de um buraco sem hipóteses de regresso, com as palavras «animadoras» citadas no início soframos tudo com cara alegre pois temos a tradição de marinheiros que aguentavam todas as tormentas até ao naufrágio definitivo.

Imagem de arquivo

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