As recentes nomeações de ministros levantaram críticas de ordem diversa, sem ter havido conclusões consensuais. Talvez seja a crise a agudizar desentendidos e a acirrar a luta de interesses e as divergências de pontos de vista.
De entre o muito que tem saltado dispersamente para o domínio público, tem interesse analisar os artigos de Henrique Monteiro no Expresso e de Fernando Santos no Jornal de Notícias. Por um lado são referidas as capacidades técnicas e qualificações académicas e científicas que fazem supor eficiência na análise dos problemas a resolver e na sequente escolha de soluções. Porém, o alto nível de tais conceitos teóricos levanta o receio de desconhecimento das realidades em que os cidadãos vivem e das dificuldades práticas com que se debatem no dia-a-dia.
O ideal seria a conciliação entre saber e o método científicos e o conhecimento do país real e a experiência de vida profissional. Com efeito, não pode desprezar-se a experiência obtida com o picar o ponto numa fábrica às oito ou oito e meia da manhã, o respirar o ambiente de uma unidade de produção, a sujeição à estrutura hierárquica de uma empresa; o conhecimento do custo de artigos de primeira necessidade e ter estado com, paciência ou desconforto, na fila para apanhar um transporte colectivo. Esta tarimba daria mais capacidade para dialogar com os «parceiros sociais» e decidir mais correctamente com vista à melhoria do bem comum e da maior eficiência da economia.
Por outro lado, surgem dentro dos partidos os discordantes da nomeação de «sábios» sem «experiência política», isto é, com conhecimentos muito acima da quase nulidade da maior parte dos «boys», mas sem «sensibilidade» para os interesses característicos dos camaradas que esperam o momento para uma nomeação ou para uma negociata rendosa, sem o saber dos equilíbrios das ambições nos jogos das autárquicas, ponto de partida para carreiras que permitem o tráfico de influências e do enriquecimento ilícito, teimosamente ignorado pela legislação em que a Justiça se baseia. Nestas alergias não tem lugar a consideração pelo conhecimento dos dossiês nem pela vocação para a defesa dedicada dos verdadeiros interesses do país.
São também abrangidos pelas críticas, os afectos algum dia confessados por correntes partidárias menos favoráveis ao actual líder, o que sobrepõe a cumplicidade e a conivência pessoal à independência honesta de análise de aspectos dos problemas nacionais.
E para terminar, transcreve-se as últimas frases do texto de Henrique Monteiro:: «Em cada eleitorado aparelhístico há uma pequena Coreia do Norte que ama o seu grande líder. Esta gente, estas autênticas quadrilhas têm um papel mais pernicioso na política actual que a corte tinha nas monarquias absolutas. Um desafio importante é saber como nos podemos livrar desta canga.»
Imagem de arquivo
De entre o muito que tem saltado dispersamente para o domínio público, tem interesse analisar os artigos de Henrique Monteiro no Expresso e de Fernando Santos no Jornal de Notícias. Por um lado são referidas as capacidades técnicas e qualificações académicas e científicas que fazem supor eficiência na análise dos problemas a resolver e na sequente escolha de soluções. Porém, o alto nível de tais conceitos teóricos levanta o receio de desconhecimento das realidades em que os cidadãos vivem e das dificuldades práticas com que se debatem no dia-a-dia.
O ideal seria a conciliação entre saber e o método científicos e o conhecimento do país real e a experiência de vida profissional. Com efeito, não pode desprezar-se a experiência obtida com o picar o ponto numa fábrica às oito ou oito e meia da manhã, o respirar o ambiente de uma unidade de produção, a sujeição à estrutura hierárquica de uma empresa; o conhecimento do custo de artigos de primeira necessidade e ter estado com, paciência ou desconforto, na fila para apanhar um transporte colectivo. Esta tarimba daria mais capacidade para dialogar com os «parceiros sociais» e decidir mais correctamente com vista à melhoria do bem comum e da maior eficiência da economia.
Por outro lado, surgem dentro dos partidos os discordantes da nomeação de «sábios» sem «experiência política», isto é, com conhecimentos muito acima da quase nulidade da maior parte dos «boys», mas sem «sensibilidade» para os interesses característicos dos camaradas que esperam o momento para uma nomeação ou para uma negociata rendosa, sem o saber dos equilíbrios das ambições nos jogos das autárquicas, ponto de partida para carreiras que permitem o tráfico de influências e do enriquecimento ilícito, teimosamente ignorado pela legislação em que a Justiça se baseia. Nestas alergias não tem lugar a consideração pelo conhecimento dos dossiês nem pela vocação para a defesa dedicada dos verdadeiros interesses do país.
São também abrangidos pelas críticas, os afectos algum dia confessados por correntes partidárias menos favoráveis ao actual líder, o que sobrepõe a cumplicidade e a conivência pessoal à independência honesta de análise de aspectos dos problemas nacionais.
E para terminar, transcreve-se as últimas frases do texto de Henrique Monteiro:: «Em cada eleitorado aparelhístico há uma pequena Coreia do Norte que ama o seu grande líder. Esta gente, estas autênticas quadrilhas têm um papel mais pernicioso na política actual que a corte tinha nas monarquias absolutas. Um desafio importante é saber como nos podemos livrar desta canga.»
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