Transcrição de artigo que estimula o raciocínio acerca da eventualidade de mudanças no regime, das capacidades exigíveis a um gestor político e da consequente conveniência de os partidos formarem devidamente os gestores políticos, para o bom desempenho das funções de maior responsabilidade.
Políticos ou gestores
Diário de Notícias. 16 Dezembro 2011. por JOSÉ CARLOS GONÇALVES VIANA, ENGENHEIRO
A indigitação recentemente verificada de gestores, aparentemente sem currículo político mas excelente currículo profissional, para cargos políticos da maior importância levantou um coro de comentários, porque parece haver dúvidas quanto à eficiência de um gestor de origem empresarial ou semelhante no desempenho de tais funções políticas.
O contrário, isto é, a passagem dum cargo político para um empresarial, já não levanta tais dúvidas, mas, se por vezes, isso acontece de forma a originar notícias nos jornais, normalmente apenas houve influência de decisões tomadas pelo visado no primeiro cargo que teriam favorecido alguns interesses da empresa para onde transitou, não se pondo a questão da eficiência.
O que interessa na resposta à questão posta em título deste escrito é esclarecer o que de facto influencia a eficiência da gestão por quem ocupa os lugares cimeiros de qualquer organização, seja ela uma empresa ou um país.
A definição mais simples de gestão eficiente a enunciar é: o conjunto de princípios e procedimentos que maximizem os resultados a atingir, utilizando uma equipa competente e todos os meios ao seu dispor no mercado em que a entidade a gerir está inserida.
Estes princípios essenciais da eficiência são os seguintes:
1.º - distinguir o fundamental do acessório;
2.º - o primeiro factor é o pessoal (as pessoas de dentro e de fora);
3.º - haver sempre responsáveis;
4.º - tomar decisões efectivas e oportunas;
5.º - basear-se nos pontos fortes e não nos fracos;
6.º - libertar-se de preconceitos e ideias feitas;
7.º - apontar para os resultados mais do que para o trabalho.
Estes princípios adicionados às capacidades humanas e técnicas e à experiência em lugares de chefia e/ou ao treino em gestão, como é normal nos cursos específicos, devem ficar em equilíbrio com as características do cargo, a que se chama a posição estratégica, e que são: dependência hierárquica, poderes de decisão e informação recebida. A esta relação dá-se o nome de competência.
O primeiro factor de sucesso é a qualidade de liderança do responsável por essa equipa, e, portanto, pela sua competência, e a responsabilidade da sua escolha pertence a quem detém o poder de o indigitar. Se for uma empresa, será a assembleia geral, ou seja, os sócios que têm a maioria do capital; se for um país, será o partido, ou a coligação de partidos que obtiver a maioria em eleições a isso destinadas.
A escolha dos candidatos a estes cargos obedece a critérios vários, alguns subjectivos e outros objectivos, entre os quais as qualidades pessoais dos candidatos, entre elas as provas dadas anteriormente, como sejam: os resultados obtidos, a capacidade de trabalho, a capacidade de liderar, a empatia e outras características pessoais e, finalmente, as capacidades técnicas mínimas para poder liderar toda a equipa, que se nas empresas já abrange vasta área, num país abrange todas a áreas de conhecimentos e de actividades.
Mas, perdoem-me a insistência, o mais importante é o seu comportamento ser orientado pelos princípios acima indicados.
A maioria, para não dizer todos, dos desvios verificados no nosso país que o conduziram à situação actual foram consequência do atropelo frequente de alguns ou até de todos eles.
Já Camões dizia "um fraco rei faz fraca a forte gente" e Damião de Góis "mais vale um exército de ovelhas comandado por um leão que um exército de leões comandado por uma ovelha".
Por outro lado, a actividade de gestão começa com a definição de objectivos e dos meios para os atingir, cujo plano de acção faz parte das condições postas à partida quando da indigitação.
No caso de um país, deverá ser definido durante o período eleitoral, aliás como acontece nas empresas, o que implica ter de haver depois um órgão que permita controlar a evolução durante todo o mandato de forma a evitar desvios, por ineficiência ou por fraude.
Tudo isto porque existe uma base democrática nestas relações de trabalho e de influências, pois em ditaduras nada disto acontece assim, e por isso mesmo justifica-se nestes casos as demonstrações de protesto nas ruas, que em democracia significam a falta de eficiência das chefias dos partidos políticos, que tem conduzido à enorme abstenção e à adopção generalizada dos movimentos de protesto popular, como única solução para a população se manifestar.
Porque se os partidos políticos fossem representativos de facto de toda a população, o resultado das eleições bastaria para satisfazer a sua necessidade e interesse na solução dos problemas e em atingir os objectivos correspondentes às promessas eleitorais que ganharam as eleições.
Como melhorar esta situação, que obviamente representa uma eficiência de governação fatalmente mais baixa do que seria desejável? E como controlar o trabalho de gestão dos eleitos?
Nas empresas privadas, motivam-se os gestores (e seria excelente incluir também todos os colaboradores ) com ganhos proporcionais aos resultados obtidos, e no Estado deveria haver igualmente uma avaliação que premiasse (ou punisse) anualmente e no fim do mandato conforme os resultados atingidos.
Quanto ao controle, da mesma forma que nas empresas há o conselho fiscal, no Estado já existe o Tribunal de Contas, que deveria ter essa função talvez mais alargada e eleita sempre pelos partidos da oposição. Tal como o provedor e qualquer órgão de controle, pois só assim nunca dependerão do poder para a controlar, única forma de garantir a sua independência.
E como a Constituição não prevê este sistema, só resta alterá-la em conformidade, mas por uma equipa onde haja alguém que tenha conhecimentos sólidos de gestão e não apenas juristas.
Conclusão final: em teoria, não há razão alguma para preferir candidatos exteriores aos partidos, excepto se estes estiverem tão desacreditados que já não conseguem apresentar candidatos aceitáveis.
Moral da história: para o sistema democrático ser capaz de gerar candidatos eficientes e, portanto, credíveis, os partidos têm de rever rapidamente as suas formas de gestão interna tal como as empresas e os países que quiserem sobreviver e progredir.
Políticos ou gestores
Diário de Notícias. 16 Dezembro 2011. por JOSÉ CARLOS GONÇALVES VIANA, ENGENHEIRO
A indigitação recentemente verificada de gestores, aparentemente sem currículo político mas excelente currículo profissional, para cargos políticos da maior importância levantou um coro de comentários, porque parece haver dúvidas quanto à eficiência de um gestor de origem empresarial ou semelhante no desempenho de tais funções políticas.
O contrário, isto é, a passagem dum cargo político para um empresarial, já não levanta tais dúvidas, mas, se por vezes, isso acontece de forma a originar notícias nos jornais, normalmente apenas houve influência de decisões tomadas pelo visado no primeiro cargo que teriam favorecido alguns interesses da empresa para onde transitou, não se pondo a questão da eficiência.
O que interessa na resposta à questão posta em título deste escrito é esclarecer o que de facto influencia a eficiência da gestão por quem ocupa os lugares cimeiros de qualquer organização, seja ela uma empresa ou um país.
A definição mais simples de gestão eficiente a enunciar é: o conjunto de princípios e procedimentos que maximizem os resultados a atingir, utilizando uma equipa competente e todos os meios ao seu dispor no mercado em que a entidade a gerir está inserida.
Estes princípios essenciais da eficiência são os seguintes:
1.º - distinguir o fundamental do acessório;
2.º - o primeiro factor é o pessoal (as pessoas de dentro e de fora);
3.º - haver sempre responsáveis;
4.º - tomar decisões efectivas e oportunas;
5.º - basear-se nos pontos fortes e não nos fracos;
6.º - libertar-se de preconceitos e ideias feitas;
7.º - apontar para os resultados mais do que para o trabalho.
Estes princípios adicionados às capacidades humanas e técnicas e à experiência em lugares de chefia e/ou ao treino em gestão, como é normal nos cursos específicos, devem ficar em equilíbrio com as características do cargo, a que se chama a posição estratégica, e que são: dependência hierárquica, poderes de decisão e informação recebida. A esta relação dá-se o nome de competência.
O primeiro factor de sucesso é a qualidade de liderança do responsável por essa equipa, e, portanto, pela sua competência, e a responsabilidade da sua escolha pertence a quem detém o poder de o indigitar. Se for uma empresa, será a assembleia geral, ou seja, os sócios que têm a maioria do capital; se for um país, será o partido, ou a coligação de partidos que obtiver a maioria em eleições a isso destinadas.
A escolha dos candidatos a estes cargos obedece a critérios vários, alguns subjectivos e outros objectivos, entre os quais as qualidades pessoais dos candidatos, entre elas as provas dadas anteriormente, como sejam: os resultados obtidos, a capacidade de trabalho, a capacidade de liderar, a empatia e outras características pessoais e, finalmente, as capacidades técnicas mínimas para poder liderar toda a equipa, que se nas empresas já abrange vasta área, num país abrange todas a áreas de conhecimentos e de actividades.
Mas, perdoem-me a insistência, o mais importante é o seu comportamento ser orientado pelos princípios acima indicados.
A maioria, para não dizer todos, dos desvios verificados no nosso país que o conduziram à situação actual foram consequência do atropelo frequente de alguns ou até de todos eles.
Já Camões dizia "um fraco rei faz fraca a forte gente" e Damião de Góis "mais vale um exército de ovelhas comandado por um leão que um exército de leões comandado por uma ovelha".
Por outro lado, a actividade de gestão começa com a definição de objectivos e dos meios para os atingir, cujo plano de acção faz parte das condições postas à partida quando da indigitação.
No caso de um país, deverá ser definido durante o período eleitoral, aliás como acontece nas empresas, o que implica ter de haver depois um órgão que permita controlar a evolução durante todo o mandato de forma a evitar desvios, por ineficiência ou por fraude.
Tudo isto porque existe uma base democrática nestas relações de trabalho e de influências, pois em ditaduras nada disto acontece assim, e por isso mesmo justifica-se nestes casos as demonstrações de protesto nas ruas, que em democracia significam a falta de eficiência das chefias dos partidos políticos, que tem conduzido à enorme abstenção e à adopção generalizada dos movimentos de protesto popular, como única solução para a população se manifestar.
Porque se os partidos políticos fossem representativos de facto de toda a população, o resultado das eleições bastaria para satisfazer a sua necessidade e interesse na solução dos problemas e em atingir os objectivos correspondentes às promessas eleitorais que ganharam as eleições.
Como melhorar esta situação, que obviamente representa uma eficiência de governação fatalmente mais baixa do que seria desejável? E como controlar o trabalho de gestão dos eleitos?
Nas empresas privadas, motivam-se os gestores (e seria excelente incluir também todos os colaboradores ) com ganhos proporcionais aos resultados obtidos, e no Estado deveria haver igualmente uma avaliação que premiasse (ou punisse) anualmente e no fim do mandato conforme os resultados atingidos.
Quanto ao controle, da mesma forma que nas empresas há o conselho fiscal, no Estado já existe o Tribunal de Contas, que deveria ter essa função talvez mais alargada e eleita sempre pelos partidos da oposição. Tal como o provedor e qualquer órgão de controle, pois só assim nunca dependerão do poder para a controlar, única forma de garantir a sua independência.
E como a Constituição não prevê este sistema, só resta alterá-la em conformidade, mas por uma equipa onde haja alguém que tenha conhecimentos sólidos de gestão e não apenas juristas.
Conclusão final: em teoria, não há razão alguma para preferir candidatos exteriores aos partidos, excepto se estes estiverem tão desacreditados que já não conseguem apresentar candidatos aceitáveis.
Moral da história: para o sistema democrático ser capaz de gerar candidatos eficientes e, portanto, credíveis, os partidos têm de rever rapidamente as suas formas de gestão interna tal como as empresas e os países que quiserem sobreviver e progredir.
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