quarta-feira, 17 de julho de 2013

COMPROMISSO PARA A SALVAÇÃO


Um compromisso pode ser assumido entre duas ou mais partes e coloca em jogo benefícios e sacrifícios face a um objectivo previamente definido. Quando se negoceia entre duas partes, a mais forte sai beneficiada. Quando se trata entre várias partes, o objectivo é de interesse comum e, em relação a ele, cada parte está predisposta a fazer sacrifícios e concessões, a fim de se chegar a um consenso que seja traduzido por um esforço comum e convergente,, o que poderia significar que os sacrifícios serão distribuídos equitativamente por todos, nenhum ficando em inferioridade perante os parceiros.

No caso das negociações do Compromisso para a Salvação Nacional, englobando os três maiores partidos políticos, a jornalista Constança Cunha e Sá antevê que entre Passos ou Seguro, "um deles sai decapitado". Realmente, dos dois, o que já está gravemente lesado é Passos, cuja incapacidade para evitar as falhas que lhe têm sido apontadas pelos analistas, Gaspar, Portas e muitos notáveis do seu partido, todos apoiados em números oficiais que evidenciam a espiral recessiva iniciada nestes últimos dois anos e que não foi ainda travada, ficou bem em cheque com a comunicação de Cavaco. Também a comunicação em que o PR anuncia o Compromisso e se refere à hipóteses de eleições antecipadas, constitui uma trama de que Passos dificilmente se evade.

Quanto a Seguro, já está beneficiado por ser chamado a tomar parte activa nas medidas a decidir pelo Governo do País nos próximos meses e a sua valorização pode resultar muito positiva por pequenos retoques que introduza nas disposições que vierem a ser aprovadas, sem necessitar de trair o que disse quando prometeu não ceder à maioria. Do que se trata é de colaborar para que as decisões a tomar sejam as melhores para os interesses nacionais, dos portugueses.

Quem tem muito a ceder é Passos, porque tem de deixar a sua teimosia obsessiva do «custe o que custar», a sua fixação na solução de sucessivos agravamentos da austeridade, a que se referiu Gaspar na sua carta de demissão. Para haver salvação nacional não pode haver insistência nos erros dos passados dois anos e é imperioso fazer alteração do rumo para soluções construtivas que tragam emprego, justiça social, corte na obesidade do Estado, redução da burocracia, condenação da corrupção, do tráfico de influências, do enriquecimento ilícito, etc. Isto significa que das partes empenhadas no Compromisso a que tem que fazer mais cedências é a que constitui a coligação.

Nesta ordem de ideias, tem plena justificação Eanes quando considera iniciativa de Cavaco "ousada e correta". É correcta quanto ao objectivo que propõe ao sugerir a convergência de esforços para um mesmo objectivo de alto interesse nacional. Mas é ousada, isto é, arriscada, por contar com boas vontades onde sempre existiu conflito interpartidário de luta pelo poder pelas benesses dos ocupantes dos gabinetes, seus familiares e amigos, cúmplices e coniventes. Oxalá este aspecto menos positivo seja atenuado e não prejudique a obtenção do objectivo nacional pretendido por Cavaco Silva e por todos os portugueses de boa vontade.

E, quando se trata de interesses nacionais, é racional, lógico, pensar-se na presença, pelo menos em espírito, de todos os cidadãos e, por isso, não se estranha que Parceiros sociais querem ter voz na salvação nacional. É indispensável, no entanto que os três grandes criem método de funcionamento para evitar a indecisão e confusão quando há muitas vozes mal sintonizadas a lançar poeira. Mas não lhes faltará forma de dar oportunidade de voz aos parceiros para apresentar reparos e sugestões, de maneira a serem tomados em consideração sem perdas do andamento dos estudos. É preciso eliminar atritos por nem todas opiniões serem adoptadas na decisão final, pois esta consiste na escolha da melhor hipóteses de solução, excluindo as restantes como foi referido em pensar antes de decidir.

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