sábado, 12 de dezembro de 2009

Os portugueses entregaram Portugal a quem?

Transcrição:

A receita do costume
Jornal de Notícias. 5 de Dezembro de 2009. Por Manuel António Pina

Temos de novo o FMI à perna. O FMI é uma espécie de tutor que, quando não sabemos governar--nos, nos declara incapazes e passa a governar-nos por nós.

A trapalhada financeira de um Orçamento feito "com grande sentido de responsabilidade", mas que, afinal, Teixeira dos Santos dixit, parece que foi elaborado "num quadro financeiro que não incorporava" o impacto real da crise financeira, mais a trapalhada de um Orçamento Rectificativo de que o mesmo Teixeira dos Santos não via, em Maio, "necessidade" e em Novembro já via, com medidas de contenção do défice (que cresceu 284% no 1.º semestre) que ainda em Julho garantia que não adoptaria pois "os números" davam "sinais claros de controlo da despesa", levaram o tutor a achar que era melhor ser ele a decidir o que deve fazer o Governo já que este parece não saber às quantas anda.

E a receita é a santíssima trindade do costume: reduzir salários, reduzir prestações sociais, aumentar impostos, isto é, o que, nos anos 80, impôs a Mário Soares sob a estimulante divisa "apertar o cinto". Resta saber é se os portugueses têm mais buracos no cinto para apertar.

NOTA: Como se pode dizer que o Orçamento foi feito "com grande sentido de responsabilidade» e depois o inistro das Finanças, seu autor ou co-autor, diz que foi elaborado "num quadro financeiro que não incorporava" o impacto real da crise?

Qual o crédito que merece um ministro que em Maio dizia não ver necessidade num Orçamento Rectificativo e em Novembro já via? E as medidas de contenção do défice que em Julho disse que não adoptaria pois "os números" davam "sinais claros de controlo da despesa", e agora são necessárias? No entanto, desde de Maio nos acenam com visível recuperação da crise.

Qual tem sido o papel dos governantes na gestão dos interesses do País?

Afinal quem nos governa? O nosso Governo ou o FMI? Quais os livros por onde estudaram os sábios do FMI? E qual a razão de os inteligentes de Portugal não lerem esses livros? Como compreender que especialistas de gabinete lá longe saibam melhor o que interessa a Portugal do que os portugueses que vêem de perto e cheiram a podridão em que estamos? Interrogo-me se há alguém em quem possamos ter confiança.

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