sábado, 12 de dezembro de 2009

Corrupção e enriquecimento ilícito. Uma achega

Transcreve-se uma pequena parte do artigo Não é a crise que nos destrói. É o dinheiro de Mário Crespo no Jornal de Notícias de 11 de Maio de 2009.

(…) Acertado o preço foram dadas à empresária instruções muito específicas. O donativo para o partido seria feito em dinheiro vivo com os quinze mil contos em notas de mil Escudos divididos em três lotes de cinco mil. Tudo numa pasta. A entrega foi feita dentro do carro da empresária. Um dos políticos estava sentado no banco do passageiro, o outro no banco de trás. O da frente recebeu a pasta, abriu-a, tirou um dos maços de cinco mil Contos e passou-a para trás dizendo que cinco mil seriam para cada um deles e cinco mil seriam entregues ao partido. O projecto foi aprovado nessa semana. Cumpria-se a velha tradição de extorsão que se tornou norma em Portugal e que nesses idos de oitenta abrangia todo o aparelho de Estado.

Rui Mateus no seu livro, Memórias de um PS desconhecido (D. Quixote 1996), descreve extensivamente os mecanismos de financiamento partidário, incluindo o uso de contas em off shore (por exemplo na Compagnie Financière Espírito Santo da Suíça - pags. 276, 277) para onde eram remetidas avultadas entregas em dinheiro vivo. Estamos portanto face a uma cultura de impunidade que se entranhou na nossa vida pública e que o aparelho político não está interessado em extirpar.
(…)


Este texto refere-se à década de oitenta e foi publicado em meados de Maio do corrente ano, tendo sido na altura transcrito no post O «dinheiro vivo» é corrosivo e demolidor. Isto passava-se quando estava a ser cozinhada e aprovada com a conivência de todos os partidos, com a única e honrosa excepção do deputado António José Seguro, a Lei do financiamento dos partidos que acabou por ser vetada pelo PR.

Agora, depois de ser dada publicidade ao polvo do caso da Face Oculta e de voltar a ser falado o combate à corrupção e ao enriquecimento ilícito, tacitamente suspenso e ausente das preocupações do Governo desde há quase meia dúzia de anos, volta a ser oportuno este alerta de Mário Crespo.

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