(Public em DIABO nº 2317 de 28-05-2021. Por António João Soares)
Há quem fale de estrume como se isso fosse
lixo. Mas tem sido muito exaltada a importância da agricultura no
desenvolvimento económico do país, pelo valor das exportações dos seus
produtos. Ora os produtos da agricultura precisam de fertilizantes e o estrume
é o mais importante e, há poucas dezenas de anos, era o único, quando não havia
máquinas e os agricultores tinham juntas de bois para puxarem os transportes, o
arado, a charrua, a grade, etc. Tinham porcos para a matança pelo Natal,
galinhas, coelhos, cabras, etc. O estrume era formado com a mudança das suas
lojas e pocilgas e devidamente acondicionado para fertilizar os terrenos por
altura das sementeiras. Só mais recentemente, as tecnologias e o aparecimento
dos adubos, tornaram dispensáveis os estrumes naturais. Um desses
inconvenientes, e grande, foi ter deixado de ser necessário roçar os pinhais para
obter o fertilizante natural para os terrenos e, por outro lado, ter as matas
cheias de mato que é alimento para os fogos florestais, que as devastam durante
o Verão.
Se o governante que usou agressiva e
ofensivamente a palavra estrume conhecesse o valor de tal fertilizante, não
usava o seu nome senão como sinal elogioso, de valor. Enfim, que o seu colega
da agricultura lhe explique o valor de tal fertilizante e dos que o
substituíram, para desenvolver tal sector económico, o mais fidedigno da nossa
economia.
Além de mostrar
desconhecimento do que atrás ficou dito está a descortesia usada por alguém
que, ocupando um cargo que exige comportamento exemplar, alambazou-se com uma
palavra que para fugir à vernácula de cinco letras usada pelos carroceiros entre
si, não deixou de ser interpretada pela intenção de quem a disse. O povo não
dorme embora tudo seja feito para que não abra os olhos perante muita asneirada
que é praticada diariamente em prejuízo dos cidadãos, sendo sempre mais
atingidos os mais carentes de apoio e segurança, porque os mais poderosos, os
tubarões, os donos de tudo isto, podem viver principescamente a seu gosto,
sendo praticamente imunes à Justiça, que devia ser igual para todos, mas tem as
suas fraquezas, recentemente muito evidenciadas.
Mas, ainda a propósito do
estrume e do abandono das matas depois de a tecnologia deixar os agricultores
menos interessados na limpeza dos pinhais, seria interessante que os governantes
mais ligados às realidades do interior do território criassem um sistema
educativo, de difusão de informação sobre os cuidados a ter com os terrenos não
cultivados, por forma a evitar-se a catástrofe destruidora de vegetação e de
madeiras e o desgaste das culturas que deixam de ser tão produtivas como seria
desejável.
Se a indústria contribui muito
para as exportações, a agricultura também merece a melhor atenção e deve ser
aproveitada para melhorar a erudição de quem a pratica, com vista à procura dos
melhores resultados, não apenas para o seu resultado mais avantajado, mas
também para a melhoria das condições ambientais. Será vantajoso para o turismo
a passagem de autocarros por estradas ladeadas por belas florestas, com árvores
bem tratadas e prometedoras de boas madeiras, em vez de florestas virgens de
onde não emana beleza.
Mas isso não acontecerá por
acaso, precisando de formação de jovens agricultores e de técnicos sobre a
prevenção de incêndios que, nas horas vagas, estejam ao corrente das habilidades
necessárias para o desenvolvimento de Portugal na sua natureza vegetal e abastecedora
de celeiros. A valorização de técnicos agrícolas, não impede que entre eles
apareçam escritores, artistas e até valiosos políticos que defendam as
realidades criadoras do engrandecimento de Portugal, por estarem em contacto
com as realidades naturais, mais enriquecedoras do que o vil metal.
Que não nos falte o “estrume”
que fertilize as nossas mentes, para respeitarmos os melhores valores de ética.
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