quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Políticos, verdade e jornalistas

Transcrevo este pedaço de fina ironia do Jornal de Notícias de hoje, ao qual junto uma nota com a reflexão a que ele me conduziu.

"Todos os jornalistas"
JN. 090910. Manuel António Pina

Se a dra. Ferreira Leite o diz é porque é Verdade: "Todos os jornalistas, todos os empresários e pessoas da sociedade civil percebem que estão sob algum tipo de retaliação, sob algum tipo de chantagem (…) caso ousem criticar o Governo".

Ando há uns dias a matutar nisso e receio ter-me tornado bipolar. Às segundas, quartas e sextas dá-me para a depressão: se "todos" percebem por que é que eu não percebo?; será que nunca "ousei" criticar o Governo?; terei estado "sob algum tipo de retaliação, sob algum tipo de chantagem" sem o saber?; não serei jornalista, ou empresário, ou sequer "pessoa da sociedade civil"?; quem sou?, donde venho?, para onde vou?

Já às terças, quintas e sábados, é a euforia: sou a excepção respirante entre todos os asfixiados pois tenho (tremo só de pensar nisso) "ousado" criticar o Governo e não fui retaliado ou chantageado, um raro, um privilegiado, espécie de aldeia de Astérix perdida algures na imprensa portuguesa sujeita ao jugo do invasor romano.

Só aos domingos é que me ocorre que talvez o "Portugal de Verdade" da dra. Ferreira Leite seja uma notícia um pouco exagerada.

NOTA: Serão exageradas as notícias ou as palavras dos políticos? Teoricamente, as palavras devem servir para exprimir ideias, para as comunicar aos ouvintes ou aos leitores. No entanto as que saem dos políticos servem, principalmente, para obscurecer o entendimento de quem as recebe, são fumaça (como diria o almirante Pinheiro de Azevedo) que serve de camuflagem ao vazio íntimo, são foguetes para vaidade pessoal dos que gostam de se ouvir e depois imaginarem-se grandes oradores. Adoradores do vácuo. Actores de teatro, vendedores de banha de cobra, prestidigitadores, que se preocupam com a efémera atracção das pessoas com palavras que eles próprios gostam de ouvir e cujo significado seja o mais inócuo possível para logo poderem ser deturpadas e contraditas sem grande rebuço, onde a ética, como confessou Paulo Rangel, prima pela ausência.

E tudo isso porque não sabem falar de Política, com P maiúsculo, a Arte de Governar, como ficou dito no post Falem-nos de Política. Na ausência de substância, de ideias estratégicas para o desenvolvimento de Portugal e para a melhoria do bem-estar dos portugueses, em compensação da sua nulidade de ideias, atiram para o ar balões coloridos, fogo-de-artifício, para deixar os papalvos de boca aberta.

Só que os papalvos, todos nós, acabamos por reflectir como bem fez o jornalista
no artigo transcrito. A conclusão a que os cidadãos chegam depois de tentarem perceber os discursos dos parlapatões, é que estes valem tanto como o valor que Guerra Junqueiro atribuía à tonsura dos padres, na sua obra «A Velhice do Padre Eterno», zero.

E, depois desta divagação, acrescentaria às hesitações do jornalista a conclusão de que nenhuma das listas candidatas é merecedora de confiança ao ponto de lhe darmos o voto; salvo eventuais excepções, os políticos não merecem que os nomeemos nossos representantes ou delegados para agirem em nosso nome. Creio que qualquer eleitor sério e consciente do significado do voto, como procuração com todos os poderes, ao olhar para as listas candidatas, encontrará nomes de pessoas a quem não compraria um carro usado, em quem não depositaria confiança suficiente para o autorizar a agir em seu nome, nem para o acompanhar á missa!

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