sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Cargos políticos à venda???
Refere-se a acusação que o membro do PS que foi cabeça-de-lista pelo círculo de Fora da Europa, nas legislativas de 2005, fez a dois dirigentes do mesmo partido muito mediáticos que terão negociado cargos políticos em troca de financiamento ao partido, em que terá estado envolvido um empresário da máfia dos bingos. Não cito nomes para não descer à baixa politiquice, mas basta seguir os links para saber os pormenores.
Há poucos dias foi notícia que noutro partido houve financiamentos parecidos e até foi referida a compra de votos.
Como não há fumo sem fogo, está a compreender-se melhor a afirmação de conhecido político de que a ética e a política são inconciliáveis. Tal maneira de fazer política sem ética, sem princípios, sem normas, não olhando a meios para atingir os fins, eles próprios muito discutíveis, faz lembrar a feira que se efectua duas vezes por semana no Campo de Santa Clara, em Lisboa, não pelo que lá se faz, mas pelo que deve ter estado na origem do nome, Feira da Ladra.
Nestes negócios da política, os cargos não são ocupados por competência mas por corrupção. Os financiadores, com um pequeno investimento, adquirem um tacho onde recuperam, a multiplicar por «n», o que pagaram e, dessa forma, a corrupção vai aumentando em espiral, em prejuízo dos empregados e dos clientes dos empresários e, em consequência, do País.
Com políticos deste jaez, o voto útil é o voto em branco, porque não se deve passar procuração com plenos poderes a gente que não merece confiança.
Voto útil
Fica assim a dúvida se há votos que não são úteis. Certamente, é essa dúvida que leva à maioria dos eleitores à abstenção: se o voto não é útil, para quê sair do doce aconchego do lar, da família e do ecrã da TV? Confesso que sempre pensei que os votos são todos iguais, sem nome, sem identificação e sem adjectivos, enfim, democráticos.
E quem é que vai na cantiga do voto útil? Os indecisos, os ignorantes, que não conseguem pensar e decidir pela sua cabeça, os indiferentes, os enganados que ficam convencidos de vir a colher benefícios com essa utilidade.
Mas estou convicto de que todo o voto é útil e cada um deve dá-lo, qual procuração com plenos poderes, à lista que lhe merecer total confiança para gerir os interesses colectivos dos portugueses, de Portugal.
Não se passa procuração a pessoa que não nos mereça plena confiança. Esse deve ser o critério da orientação do voto e não o da utilidade para quem o pede, como esmola, para depois colher benefícios à custa do povo, cada vez mais desprezado (excepto durante as arruadas da campanha). Não consta haver ex-políticos sem-abrigo a comer a «sopa do Sidónio». Convém ver a posição de ex-políticos na lista dos mais ricos de Portugal.
Ironias da Democracia
E há um ponto muito curioso em que só Mário Soares tocou ao de leve. É a importância do BE na formação de Governo. Tal referência ao BE mostra muita sabedoria da velha raposa.
Se as sondagens não errarem muito, no próximo domingo, o partido que obterá mais votos será um dos dois maiores – PS ou PSD – mas o mais beneficiado será o terceiro classificado – BE – porque será ele que decidirá quem será o PM, que poderá ser eventualmente de um partido que não tenha sido o mais votado.
A democracia tem destas coisas.
Com efeito, para um governo poder governar terá de ter um programa aprovado pela AR. E como nenhuma dos partidos obterá maioria absoluta de deputados no hemiciclo (repito: se as sondagens não errarem muito), o BE será o partido indispensável para dar ao PS ou ao PSD a maioria de votos para a aprovação do programa de governo, mesmo que um ou o outro ainda possam precisar de votos da CDU ou do CDS.
Ora o BE está nas mãos de gente inteligente para saber negociar esse apoio e cobrar bem por esse trabalho, ficando com a possibilidade de escolher a qual dos grandes cobrará mais contrapartidas.
Ironia da democracia!!! O poder para formar governo depende mais do terceiro classificado do que do 1º ou do 2º. É isso que leva bons analistas a prever que teremos eleições dentro de menos de 4 anos. Já imaginaram o que seria Louçã só dar apoio se fosse ele o PM??? Mas que vai exigir algumas pastas para os seus é absolutamente previsível, por ser lógico.
Esta hipótese só deixa de ser lógica se PS e PSD se aliarem e formarem o «centrão» ou se o BE não tiver tantos votos como as sondagens indiciam e o vencedor puder obter a aprovação do programa através de negociação com um dos partidos menores. A incógnita mantém-se até ao fim. Mas que há cenários curiosos, há!!!
A. João Soares
Cavaco Silva e os tabus
Efectivamente, não parece fácil interpretar uma pessoa que foge aos padrões mais vulgarizados entre as personagens mais mediatizadas. A meu ver, trata-se de um homem sério, segundo os padrões mais optimistas, de entre os políticos actuais, tímido, receoso de dizer algo de que amanhã tenha que se arrepender. Por isso, quando fala, controla rigorosamente as palavras acabando, muitas vezes, por não explicar nem esclarecer mas ocultar mais do que aquilo que diz, do que aquilo que deixa atrás da cortina, algumas vezes o essencial, e apenas permitindo subentendidos que têm efeitos maléficos. Há quem diga que, neste aspecto, não devem ser desprezados os indícios da influência da esposa, demasiado dominadora e controladora que parece exercer muita pressão sobre as suas decisões.
Quando foi eleito presidente do PSD, na Figueira da Foz, deu uma «explicação» que não convenceu ninguém e que uns interpretaram de uma forma e outros de maneira diametralmente oposta. Não se candidatou, não quis ir ao congresso da Figueira e só ali apareceu porque calhou ir para aqueles lados, por acaso, fazer a rodagem do carro novo. Depois de lá estar, por acaso, uns companheiros de partido pressionarem-no para aceitar ser eleito e tanto insistiram que ele, boa pessoa, não quis magoá-los e aceitou!
Os mais amigos logo o apelidaram de generoso, dedicado, que aceitou o sacrifício de contribuir para um Portugal melhor. Enfim, o homem-providência. Depois, no Governo, onde chegou pela força do partido e não por vontade própria, pois declarou que nem lia os jornais nem respondia aos jornalistas, e criou tabus. Ficou célebre o desmesurado naco de bolo que meteu na boca para se defender do jornalista e da sua próprias eventual tentação de responder. Cavaco não falava, não esclarecia, apenas calava, ocultava.
No caso do veto de leis usa de meios argumentos, não esclarecendo completamente, como o caso de ter enviado o Estatuto dos Açores ao Tribunal Constitucional, por motivos que não tinham constado da anterior devolução do projecto à AR.
E o tempo foi assim passando e agora esteve vários meses, segundo os jornais, sem esclarecer o problema das eventuais escutas e, quando o caso saltou para o conhecimento público, continua com cautelas, calando, insinuando timidamente e prometendo esclarecimento numa data posterior. Entretanto exonera o jornalista assessor de imprensa.
Não gosta da fórmula «dizer a verdade, toda a verdade e só a verdade». Considera que «o segredo é a alma do negócio» e diz um pouco das coisas e deixa o resto à imaginação dos eleitores. Destes, uns interpretam com pessimismo e logo o condenam. Outros mais optimistas e aficionados interpretam segundo os seus próprios desejos e, mais tarde, sentem-se frustrados e desgostosos.
Há uma boa norma que deve ser seguida quando é necessário falar: «clarinho, clarinho, para o cidadão mais simples compreender». E quando o silêncio è preferível às palavras, então, deve ficar calado, mas totalmente calado, sem estimular esperanças nem receios, porque as insinuações são sempre nocivas e corrosivas.
A. João Soares
Excesso de velocidade ou velocidade excessiva?
Há dias morreram sete jovens estudantes num acidente, o que é de lamentar, e seria mesmo que apenas houvesse um falecimento. Mas a quantidade é chocante. Disseram-me que um polícia disse que o acidente foi causado por excesso de velocidade, o que merece muita reflexão.
Quanto a velocidade há dois conceitos a analisar – o excesso de velocidade e a velocidade excessiva -, mas a polícia apenas olha para um, o primeiro. É lógico porque esse refere-se à velocidade superior à estabelecida pela lei ou pelo sinal, mesmo que este e aquela estejam desajustados com a realidade local. Mas, sem dúvida, que a autoridade se deve reger por ela, e exercer a sua autoridade repressiva em relação aos abusos, embora deva chamar a atenção dos «responsáveis» pela sinalética para erros grosseiros que a descredibilizam e tornam ineficaz.
O excesso de velocidade, só por si não é causa de acidente. Ir além da velocidade excessiva, aquela que representa o limite além do qual o condutor deixa de controlar eficazmente o veículo, esse é que é causa de acidente, mas o verdadeiro culpado é o condutor.
Na verdade, só há duas causas de acidente: falha mecânica do carro ou erro do condutor. Este deve, em cada momento, manter o carro sob controlo total, respeitando os outros utentes da estrada e tendo em atenção as condições do piso, do traçado, dos obstáculos, das condições atmosféricas e tudo o que possa afectar a segurança, inclusivamente os cuidados de manutenção do carro.
Quanto ao conceito de velocidade excessiva, ela é muito relativa: um campeão se fórmula 1, com o seu bólide, pode em alguns troços de auto-estrada, atingir mais de 300Km/h com segurança, mas não se arriscará a tal com um carro normal, e um condutor inexperiente não deve arriscar passar dos 120 e, mesmo nessa velocidade, deve ter muita atenção para poder reagir adequadamente a qualquer dificuldade inopinada.
Portanto, não é a velocidade que causa acidente, porque ela já é consequência da imprudência e imperícia do condutor. A velocidade apenas torna muito mais graves as consequências do acidente. Bater a 30 é muito diferente de bater a 100, e a opção cabe ao condutor.
A propósito de sinais, a imagem mostra um sinal em via urbana de 30 Km/h, num local sem atravessamento de peões (há corrente ao longo do passeio), nem cruzamentos, onde se pode circular com segurança a 60. E os «responsáveis» pelo trânsito têm essa percepção porque 200m mais à frente têm outro sinal de 30. Porquê? O primeiro não é para respeitar? Mas o segundo também não tem justificação, porque, embora esteja perto de uma passagem de peões com semáforo, quando este está verde para o automobilista, não se justifica que este seja obrigado a circular a menos de 30. Este caso pode verificar-se na Avenida 25 de Abril, perto do seu início.
A. João Soares
Prevenção, dissuasão e repressão precisa-se
Não se pode endireitar a humanidade de um dia para o outro, principalmente, aquilo que se insere, de certo modo, em tradições ou religiões. Mas é nosso dever, começar a exercer a nossa influência naquilo que está ao nosso alcance; Convém começar por limpar a testada da nossa casa, o passeio em frente à nossa porta, a nossa rua, a nossa cidade, o nosso País.
E há muito a fazer neste capítulo. Se imaginarmos que somos ETs e poisámos agora em Portugal, reparamos que há pessoas que ganham mais num dia do que outras durante toda a vida (que trabalham para aquelas); que são dados prémios de milhões a administradores de empresas com prejuízos e os trabalhadores não são aumentados senão de uns míseros cêntimos; há pessoas que vivem na rua ou em casebres sem condições enquanto aqueles que enriquecem com o seu trabalho vivem com todas as comodidades em autênticos palácios; há pessoas que se deslocam em carros caríssimos a poluir a atmosfera enquanto outros vão a pé ou de transportes públicos trabalhar nas empresas daqueles; Há muitos que, ao mesmo tempo que se queixam da falta de dinheiro, enchem os espaços dos concertos e das áreas de férias; autarcas dizem que é preciso poupar energia mas mantêm uma iluminação exagerada nas ruas durante toda a noite; ONGs apoiam os condenados e esquecem a mínima ajuda às vítimas dos crimes deles; a Justiça mantêm em liberdade assassinos em condições de continuarem a fazer aquilo que sabem fazer e de que gostam – matar.
Enfim, coisas que devem levar um ser sensato que depara com elas a fazer críticas semelhantes às feitas à degradante situação das mulheres afegãs e de outros Estados de cultura semelhante. Temos por cá muitos motivos para exercitar o dever de cidadania e contribuir para um Portugal mais justo, equilibrado e com gente mais feliz.
Por isto, acho que, mais do que agitar consciências contra as injustiças sociais no Afeganistão, há que olhar para a nossa casa e procurar melhorar os aspectos degradantes, para criar mais justiça social e uma vivência mais propiciadora de segurança, harmonia e bem-estar.
De tudo o que foi referido, saliento a desordem social traduzida na insegurança e na falta de poder dissuasivo da Justiça, tudo com base numa relação de alguns títulos da imprensa de hoje.
O pânico de ser vítima de carjacking, empregados de supermercado presos e ameaçados por um assalto depois do fecho do estabelecimento, um pedófilo que abusou de um miúdo de 11 anos seu vizinho e o agrediu para não revelar o crime de que fora vítima, assaltantes de um prédio onde moram polícias foram surpreendidos por estes, um chefe dos correios foi agredido à coronhada por assaltantes, um delinquente foi detido pela PJ após três assaltos aos CTT, a PJ prendeu traficante que andava a seguir há 10 anos, seguranças de uma discoteca batem e roubam, um rapaz matou o pai num momento de fúria, à machadada e com uma foice, um jovem ajudado por dois amigos todos toxicodependentes, sequestrou um colega para lhe roubar o ordenado do mês.
Como a Justiça não é rápida e severa, estes crimes são frequentes porque não há medidas que dissuadam os menos ordeiros, que sentem que o risco de serem presos é muito reduzido. Isso é bem visível no caso da mulher que foi apanhada a conduzir sem carta e só à 37ª vez foi condenada a um ano de prisão efectiva. Até agora, nada a dissuadiu de continuar em infracção.
Portanto, mais do que bradar contra factos alheios, há que gritar alertas bem sonoros contra os erros que estão a minar os valores éticos e sociais da nossa população.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Políticos, verdade e jornalistas
"Todos os jornalistas"
JN. 090910. Manuel António Pina
Se a dra. Ferreira Leite o diz é porque é Verdade: "Todos os jornalistas, todos os empresários e pessoas da sociedade civil percebem que estão sob algum tipo de retaliação, sob algum tipo de chantagem (…) caso ousem criticar o Governo".
Ando há uns dias a matutar nisso e receio ter-me tornado bipolar. Às segundas, quartas e sextas dá-me para a depressão: se "todos" percebem por que é que eu não percebo?; será que nunca "ousei" criticar o Governo?; terei estado "sob algum tipo de retaliação, sob algum tipo de chantagem" sem o saber?; não serei jornalista, ou empresário, ou sequer "pessoa da sociedade civil"?; quem sou?, donde venho?, para onde vou?
Já às terças, quintas e sábados, é a euforia: sou a excepção respirante entre todos os asfixiados pois tenho (tremo só de pensar nisso) "ousado" criticar o Governo e não fui retaliado ou chantageado, um raro, um privilegiado, espécie de aldeia de Astérix perdida algures na imprensa portuguesa sujeita ao jugo do invasor romano.
Só aos domingos é que me ocorre que talvez o "Portugal de Verdade" da dra. Ferreira Leite seja uma notícia um pouco exagerada.
NOTA: Serão exageradas as notícias ou as palavras dos políticos? Teoricamente, as palavras devem servir para exprimir ideias, para as comunicar aos ouvintes ou aos leitores. No entanto as que saem dos políticos servem, principalmente, para obscurecer o entendimento de quem as recebe, são fumaça (como diria o almirante Pinheiro de Azevedo) que serve de camuflagem ao vazio íntimo, são foguetes para vaidade pessoal dos que gostam de se ouvir e depois imaginarem-se grandes oradores. Adoradores do vácuo. Actores de teatro, vendedores de banha de cobra, prestidigitadores, que se preocupam com a efémera atracção das pessoas com palavras que eles próprios gostam de ouvir e cujo significado seja o mais inócuo possível para logo poderem ser deturpadas e contraditas sem grande rebuço, onde a ética, como confessou Paulo Rangel, prima pela ausência.
E tudo isso porque não sabem falar de Política, com P maiúsculo, a Arte de Governar, como ficou dito no post Falem-nos de Política. Na ausência de substância, de ideias estratégicas para o desenvolvimento de Portugal e para a melhoria do bem-estar dos portugueses, em compensação da sua nulidade de ideias, atiram para o ar balões coloridos, fogo-de-artifício, para deixar os papalvos de boca aberta.
Só que os papalvos, todos nós, acabamos por reflectir como bem fez o jornalista no artigo transcrito. A conclusão a que os cidadãos chegam depois de tentarem perceber os discursos dos parlapatões, é que estes valem tanto como o valor que Guerra Junqueiro atribuía à tonsura dos padres, na sua obra «A Velhice do Padre Eterno», zero.
E, depois desta divagação, acrescentaria às hesitações do jornalista a conclusão de que nenhuma das listas candidatas é merecedora de confiança ao ponto de lhe darmos o voto; salvo eventuais excepções, os políticos não merecem que os nomeemos nossos representantes ou delegados para agirem em nosso nome. Creio que qualquer eleitor sério e consciente do significado do voto, como procuração com todos os poderes, ao olhar para as listas candidatas, encontrará nomes de pessoas a quem não compraria um carro usado, em quem não depositaria confiança suficiente para o autorizar a agir em seu nome, nem para o acompanhar á missa!
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Falem-nos de Política
E que tal discutir política?
DN. 090908. por Ferreira Fernandes
O jornal i fez, ontem, o levantamento de algumas das exportações portuguesas durante o Governo de José Sócrates. Fez o levantamento, sim: aqueles negócios levantaram voo. Com a Venezuela (em quatro anos, quintuplicaram), Angola (triplicaram), Argélia (quadruplicaram), Rússia (triplicaram), Líbia e China (em ambas, quase duplicaram) e Jordânia (quase triplicaram)...
Esse sucesso foi acompanhado (e, em alguns casos, foi motivado) por uma diplomacia económica em que os governantes não se importaram de fazer de caixeiros-viajantes. Nesses destinos há um país muito importante (Angola, já o quarto comprador) e outros são mercados tentadores (bastava lá estar a China). Eis, pois, um balanço extraordinário - mas que merecia discussão, agora que julgamos quem nos governou nos últimos quatro anos.
Todos aqueles países são susceptíveis de crítica (mais uns que outros) sobre o seu comportamento democrático. Eu digo que sim, há que fazer esses negócios - e, daí, eu achar bons os resultados conseguidos.
Mas gostaria de saber se isso divide os partidos. Gostaria que na campanha se discutisse política. E não hipóteses de primos, hipóteses de asfixias e tricas sobre carros oficiais.
NOTA: Sobre o mesmo tema – conteúdo da campanha política - e com o titulo As eleições sem política, Pedro Marques Lopes, em estilo diferente, refere a predominância da política com p muito minúsculo e a ausência da verdadeira Política, a arte e ciência de governar que, neste momento, devia traduzir-se em projectos estratégicos, em propostas honestas, para o futuro de Portugal com incidência nas gerações mais novas e na qualidade de vida de todos os portugueses.
Perdem tempo em questiúnculas secundárias que procuram desgastar a imagem dos concorrentes ao pódio, sem mostrarem o que cada um tem de válido para os portugueses.
Sendo as eleições comparadas a uma competição atlética, constatamos a péssima qualidade dos concorrentes que preferem dopar-se para melhor rasteirarem o competidor em vez de evidenciarem a verdadeira força dos seus músculos e as suas capacidades físicas e mentais.
Na minha situação de vulgar cidadão, sem obrigação para qualquer dos partidos, concluo que, após as eleições, tudo irá continuar na mesma, sejam quais forem os vencedores.
São todos iguais: desprezam a verdadeira Política e apenas se preocupam com a politiquice interpartidária que se sobrepõe aos reais interesses nacionais; ignoram e desprezam a ética e são todos coniventes com as palavras de um seu parceiro que disse que ética e política são líquidos não miscíveis; ninguém se opôs à candidatura de pessoas suspeitas e arguidas que não inspiram confiança ao eleitor honesto e escrupuloso; todos votaram a lei de financiamento dos partidos a que nenhum cidadão medianamente informado ficou indiferente; nenhum tomou uma atitude frontal, bem visível, a favor do combate efectivo à corrupção e ao enriquecimento ilegal; todos aceitam a bagunça em que o País vai vivendo sob a ameaça da criminalidade violenta e da insegurança generalizada; a Educação, a Saúde, a Justiça, não têm evitado as ácidas críticas da generalidade dos cidadãos; a burocracia emperra todas as actividades, etc., etc.
Parece que estes pontos precisam ser resolvidos com eficácia e brevidade, mas na campanha são ignorados. Para eles não foram debatidos os respectivos projectos de solução. Os políticos que querem o nosso voto passam, olham para o lado e assobiam, para irem debater questões sem real valor em comparação com estas.
Daí o apelo: Por favor, falem-nos de Política nacional, estratégica, de preparação de um futuro melhor para os mais novos não terem de emigrar todos.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
«Novas Oportunidades» será isto???
Custa-me acreditar que isto seja mesmo assim. Será que, ao menos, o diploma terá expresso que as habilitações são uma farsa e nada têm a ver com as dos estudos normais? Como este texto da Drª Marta me chegou através de e-mails de pessoas que considero, publico-o, mas com dúvidas que espero ver esclarecidas pelos comentários que, certamente, surgirão.
Novas Oportunidades. A ignorância certificada
Marta Oliveira Santos
O país encontra‐se com uma taxa muito baixa de escolaridade em relação aos países da EU (União Europeia). Logo há necessidade de colmatar esta situação e, para isso foram criadas “As Novas Oportunidades”, uns cursinhos intensivos de três meses, no fim dos quais os “estudantes”(agora com o nome pomposo de formandos) obtêm o certificado de equivalência ao 9º ou 12º anos. Fantástico, se os cursinhos fossem a sério! ...
Perante a publicidade aos referidos cursos, aqueles que abandonaram a escola ou, por qualquer razão não concluíram um dos ciclos de escolaridade, esfregaram as mãos de contentes, uma vez que agora se lhes oferece a oportunidade de obterem um certificado de habilitações que lhes poderá vir a ser útil. E como diz o ditado ”mais vale tarde do que nunca”, eles lá se inscreveram. Por outro lado, três meses das 7.00 as 10.00 horas, horário pós‐laboral, uma vez por semana, era coisa fácil de realizar. Coitados daqueles que andam 3 anos (7º, 8º e 9º anos) para concluírem o 3º ciclo!!! Isso é que é difícil!
Na rua, no café, nos locais públicos em geral ouve‐se: “Ah! Agora, ando a estudar! Ando afazer o 9º ou 12º ano! Aquilo e porreiro, pá!”
Entretanto, há pessoas com quem contactamos no dia‐a‐dia, mais próximos de nós, o cabeleireiro, o sapateiro, a empregada doméstica, etc. que também nos confidenciam com ar feliz: “Agora, com esta idade, ando a estudar! Ando a fazer o 9º!” E nós, simpaticamente, sorrimos, abanamos a cabeça e dizemos que fazem bem, sempre é uma mais valia… contudo, numa dessas conversas, tentei descobrir que disciplinas constavam do curso, ficando a saber que eram Português, Matemática, Informática e Cidadania para o 9º ano; e indaguei ainda como eram as aulas e a avaliação final.
E fiquei atónita. Em Português o formando teria que escrever a história da sua vida e a razão por que se inscreveu no curso, sendo o texto corrigido aula a aula pela respectiva formadora; Matemática consistia em efectuar cálculos básicos e apresentar, por exemplo, a receita de um bolo e duplicá‐la; para Informática apercebi‐me que seria a apresentação do trabalho escrito e, posteriormente, quem quisesse apresentá‐lo‐ia em “powerpoint”; em Cidadania, os formandos apresentavam os diferentes resíduos e diziam em que contentor os deveriam colocar. A nível de Português ainda foi pedida a leitura de um livro e seu comentário, sendo a selecção ao critério do formando o que deu origem a autores “light”, nada de autores portugueses de renome; a acrescer a este comentário teriam também de fazer a apresentação crítica a um filme e a uma reportagem. Todos estes elementos seriam entregues num dossier, cuja capa ficaria ao critério de cada formando.
Três meses passaram num abrir e fechar de olhos, por isso um destes dias, enquanto aguardava a minha vez para ser atendida no consultório médico, fui brindada com o dossier do curso da recepcionista e respectivo certificado de 9º ano. Engoli em seco aquelas páginas recheadas de erros ortográficos e de construção frásica, desencadeamento de ideias e falta de coesão, (…), entremeados por bonitas fotografias; na II parte, umas contitas simples e duas tábuas de multiplicação; e em Cidadania, os contentores do lixo coloridos com a indicação dos resíduos que se põem lá dentro.
Em seguida, com um sorriso muito branco (nem o amarelo consegui!) e, como bem educada que sou, felicitei a dona do dossier cuja capa estava realmente bonita, original, revelando bastante criatividade e ouvi‐a alegre dizer: “A formadora disse‐me que tinha hipóteses de fazer o 12º ano. Logo que possa, vou fazer a minha inscrição!”
Fiquei estarrecida, sem palavras para lhe dizer o que quer que fosse. “As Novas Oportunidades” são isto? Está a gastar‐se tanto dinheiro para passar certificados de ignorância? Será que todos os formadores serão iguais a estes? E o 9º ano e escrever umas tretas e ler um Nicholas Sparks e um artigo da revista “Simplesmente Maria”? E o 12º ano será a mesma coisa (queria dizer chachada) acrescida de uma língua?
Continuando assim o país a tapar o sol com a peneira, teremos em poucos anos a ignorância certificada!
Marta Oliveira Santos – Licenciatura em Filologia Românica; colaboradora de várias publicações
Promessas e acusações
A campanha eleitoral das últimas legislativas, assente em promessas miríficas e em projectos de reformas de que o Estado estava necessitado para se modernizar, granjearam ao PS a maioria absoluta dos votos. Foi uma táctica vencedora, premiada. O Governo prometia ser o melhor desde 1974.
Porém, passados poucos meses, o entusiasmo e a ilusão deram lugar ao desconforto, ao descrédito e à desilusão, e as recentes eleições para o PE vieram concretizar o sentimento colectivo que se vinha tornando visível. É que as promessas não foram cumpridas. Os projectos de reformas foram muito mal esboçados e iniciados, pois em vez de procurarem obter a colaboração e o entusiasmo dos agentes mais representativos dos sectores afectados, hostilizaram os funcionários que iriam ser beneficiados ou atingidos pelas reformas visadas. E daí a resistência de juízes, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, professores, militares, polícias e a generalidade dos funcionários públicos.
A lição devia ter sido aprendida por forma a que os erros tácticos não fossem repetidos e a actual campanha fosse iniciada em moldes mais prometedores. A estabilidade governativa de que tanto se fala, o respeito pelos governantes, a credibilidade do Estado, mereceriam esse cuidado!
Mas, pelo contrário, a falta de autocrítica, de exame de consciência, leva à continuação da arrogância que já deu o que tinha a dar. À falta de outras modalidades de acção, ouve-se o início de mais promessas.
O secretário-geral socialista, José Sócrates, propôs a criação de cinco mil estágios profissionais por ano na administração pública, considerando que a promoção de estágios é também uma obrigação do Estado. Mais do mesmo: uma promessa vaga e sem estudos de base que a tornem credível. Talvez um projecto do tipo «novas oportunidades» que não parará enquanto houver um português sem diploma de licenciatura.
Um outro assunto que nesta data devia ser ponderado é o de os partidos deveriam procurar votos com argumentos positivos, mostrando as suas capacidades de realização, aquilo de que são capazes para solucionar os problemas de Portugal, e evitar os ataques soezes aos partidos rivais. Este procedimento de ataques sistemáticos e cansativamente repetitivos e descabidos, foi usado pelo cabeça de lista do PS ao PE, Vital Moreira, que, com isso, obteve um resultado aviltante para o partido, como ficou bem visível pela atitude do seu secretário-geral na noite das eleições.
Destes ataques devia ter sido tirada a devida lição para a evitar a repetição dos mesmos erros nesta campanha que está a ser preparada.
Porém, em vez da assunção da lição, vemos o próprio secretário-geral a imitar Vital Moreira como se vê pelos as notícias com os títulos Sócrates acusa direita de querer retroceder nas políticas sociais e Sócrates intensifica críticas à Direita. Os eleitores já mostraram que não se deixam pressionar por esses argumentos demolidores, reagindo a eles negativamente. Será preferível que o partido reaja de forma positiva, construtiva, mostrando aquilo que vale, aquilo de que é capaz e tudo isto condimentado por uma forte afirmação de vontade de colocar os interesses dos cidadãos trabalhadores acima dos interesses dos partidos e dos políticos.
Infelizmente, para desgraça dos portugueses, tudo começa mal, com a preparação da decisão das datas das eleições em que os argumentos assentaram nos interesses dos partidos e não nos interesses dos portugueses, dos custos de dois actos eleitorais em vez de apenas uma campanha e de um dia.
Os eleitores dirão nas urnas a sua posição. Já mostraram que não são tão «burros» como por aí se possa pensar.
Ensino a brincar ou a sério
Transcrição de texto referido por e-mail, já com várias achegas de percurso. Dá para pensar. Oxalá nunca tenha de ser atendido pelo Sr. Dr. Pedro Póvoa.
O atleta vai das Novas Oportunidades para o curso de Medicina
Pedro Póvoa concluiu o 12º ano um dia antes de viajar para a China, para participar nos Jogos Olímpicos. O português do taekwondo frequentou o programa Novas Oportunidades e foi aprovado. E termos académicos, fará uma progressão rápida, uma vez que se segue a candidatura à Universidade. Ainda pensou em escolher Psicologia ou Gestão, mas candidatou-se a uma vaga na Faculdade de Medicina da Universidade do Minho e deve entrar, dado que tem estatuto de atleta de alta competição. O problema será depois compatibilizar um curso tão exigente com os treinos.
Quando era adolescente, Pedro Póvoa fazia parte dos Ultras da Ribeira no apoio ao FC Porto. Há duas semanas, o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, apresentou-o a um dirigente do clube para ser estudada a sua contratação.
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É mais uma história de sucesso do Programa Novas Oportunidades, o tal programa tão elogiado pelo primeiro-ministro. Um programa que conduzirá Portugal ao primeiro lugar mundial nas estatísticas sobre Educação. Agora, ficamos a saber que Pedro Póvoa, atleta de Taekwondo, vai entrar em Medicina sem nunca ter posto os pés numa escola secundária. Desta forma, o Governo manda uma mensagem a todos os jovens portugueses: não é preciso estudar Biologia nem Química para entrar em Medicina. Nem é preciso frequentar o ensino secundário durante 3 anos. Bastam 6 meses no Nova Oportunidades. E a Ordem dos Médicos fica calada? Está revoltado? Não vale a pena revoltar-se. Não queira ser apelidado de 'pessimista de serviço'!
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Já se sabia que o Novas Oportunidades está a dar diplomas do ensino secundário à velocidade da luz. Ficamos agora a saber que há quem veja nele o caminho mais curto para ser médico. Já tínhamos engenheiros civis sem Matemática e Física do secundário, economistas sem Matemática e linguistas sem Latim. Agora passamos a ter médicos que tiraram o 12º ano em 6 meses. Estudar Biologia? Para quê? Química? Não é preciso! Matemática? É chato!
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Um caso exemplar. Todos os que tiverem dificuldades nos estudos devem arranjar um pretexto para lhes trazerem a casa um diploma de doutor. MPR fala nisso com as tuas amizades para conseguires um doutoramento para o Bruno. Ele que comece a procurar a picada para lá chegar. O Póvoa era dos Super Dragões, mas o Bruno é militar, o que não deve ser considerado menos importante!!! Não te parece? Ele que trate do caso.
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Um verdadeiro escândalo. Não dá para acreditar. Isto nem no 3º mundo (propriamente dito) porquanto já basta este nosso!!! (4º, 5º. 6º, ou…)
De resto foi como
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Agora fica tudo mais fácil no ensino: exames fáceis para melhorar as estatísticas, trabalheira que um professor tem para dar um chumbo, promessa da ministra de deixar de haver chumbos até ao 9.º ano, generalização do Magalhães às criancinhas, etc.
Mas esta de em Medicina onde tem sido muito difícil entrar se poder acessar vindo das tai oportunidades… meu Deus!!!
Carência de mão-de-obra
Nas notícias de hoje ressalta o problema da carência de mão-de-obra nas empresas de construções. Mas parece que do mesmo facto se queixam muitas outras, de outros ramos, grande parte delas com tipo de trabalho mais suave e menos arriscado. É assunto que apesar de ser previsível desde há muito tempo merece ser meditado e ponderado pois o índice de desemprego é elevado e a imigração muito volumosa a ocupar postos de trabalho que os nacionais recusam.
Segundo a notícia do Jornal de Notícias, o problema nas empresas de construção do Norte, deve-se a diferenças de salário que levam os operários a irem trabalhar para Espanha onde ganham 2,26 vezes mais (1200 contra 531,50€). Parece que os nossos gestores não são muito esclarecidos e não sabem motivar um dos principais factores da empresa. Esta precisa de capital, de equipa de gestão, de trabalhadores, de clientes e da simpatia da sociedade do meio em que se insere. O capital, indispensável para o arranque da empresa, para instalações e equipamento, depressa é amortizado e passa a ser criado pela própria empresa, através da acção da gestão e dos trabalhadores. A gestão tem uma importância permanente, no funcionamento de todos os factores que se conjugam para a facturação e os consequentes lucros. Dos trabalhadores, que convém estarem motivados sentindo que a empresa é sua e enriquece com o seu trabalho honesto, competente e dedicado, sai a produção que será tão boa em quantidade e qualidade, quanto o for a sua motivação. A eles interessa que a empresa tenha bons resultados para sua satisfação, e garantia de continuidade do emprego e, também, para maiores salários e prémios. Os clientes, satisfeitos, são uma garantia de bom futuro para a empresa e essa satisfação resulta da perfeição do trabalho feito pelos operários e pelo seu enquadramento. Quer os clientes quer os operários satisfeitos com a empresa tornam o meio social afectivamente ligado à «sua» empresa. E esta tem obrigação de apoiar alguns aspectos sociais da localidade para aumentar essa interacção, sendo justo aqui referir o exemplo dos «Cafés Delta» em Campo Maior».
Mas o tema deste texto leva-nos mais além do caso dos salários da Construção e deixa uma quantidade de interrogações acerca da falta de vontade de trabalhar, isto é, de ganhar a vida com o próprio esforço e ocupação da capacidade física e intelectual para produzir os recursos financeiros indispensáveis para viver. E isto passa-se apesar da reorganização do ensino, do programa das «novas oportunidades» e das anunciadas reduções dos subsídios.
A falta de vontade de trabalhar não é apenas devida aos subsídios viciantes e incontrolados, embora haja sobejos sinais de terem grande influência. Já aqui referi, há tempos, um caso de uma candidata a emprego dizer que «por esse salário não estou interessada, pois recebo quase isso do subsídio e não preciso de cumprir horários nem de aturar patrão». E também o caso daquela licenciada que estava há seis anos à espera de «emprego compatível com a sua licenciatura», e entretanto vivia à custa dos pais. Em grande parte, falta, desde tenra idade, educação cívica do dever de trabalhar, do direito ao trabalho, da gestão da própria vida, da procura da auto-suficiência.
Não é agradável ver jovens desempregados enquanto muitos empregos de fácil e agradável desempenho estão nas mãos de imigrantes. Parece que a mentalidade portuguesa está a degenerar para a subsidiodependência a alta velocidade e, quando o subsídio não é suficiente, surge o recurso a actividades ilegais, por vezes de cariz criminal.
O assunto merece ser devidamente analisado por quem de direito, a fim de ser procurada a terapêutica adequada.
Novas oportunidades
Da publicidade que tem sido feita ao programa Novas Oportunidades, ressalta como objectivo a obtenção de diplomas de cursos superiores de maneira habilidosa, sem bases sólidas, mesmo que isso não corresponda a aquisição de conhecimentos, competência e eficiência de desempenho. Trata-se de um incentivo de caça ao canudo. Na minha santa ingenuidade, pensava que as Novas Oportunidades eram pistas, através de uma rápida formação profissional, com vista a novas actividades produtivas para realização pessoal e benefício da economia nacional. Coisas práticas, como por exemplo, conselhos para a criação de pequenas empresas explorando nichos de mercado, principalmente nos sectores das modernas tecnologias tão do gosto dos jovens.
Conheço de perto um caso curioso passado nos EUA, que mostram a facilidade com que as pessoas encaram as novas oportunidades sempre que, por qualquer motivo, interrompem a actividade que vinham exercendo e querem continuar a auferir de rendimentos compatíveis com uma vida desafogada, sem carências. Trata-se de um professor universitário doutorado em Física Nuclear que trabalhava em regime de contrato bianual, já tendo passado por duas ou três universidades. Na última, dado o seu desempenho prolongaram a prestação de serviço por mais um ano, ao fim do qual teria de concorrer a outra. Entretanto tinha casado com uma médica que o tinha acompanhado nas duas últimas cidades universitárias, mas que agora estava em óptimas condições de trabalho num hospital local, e tinha dois filhos a estudar. Analisando a situação familiar concluíram que dadas as condições vigentes, um dos dois tinha que mudar de profissão e concluíram isso ser mais fácil para ele. De repente, ele disse ao pai: que pensavas se o teu filho passasse a ter uma padaria e a produzir pão tipo italiano que cá na terra tem muita procura? Completa abertura a qualquer solução digna, sem preconceitos. Desde a papelaria, ou o quiosque de jornais, ou uma empresa de prestação de serviços ligeiros tudo devia se tomado como solução possível.
Mas, em qualquer estudo de situação seriamente conduzido, a decisão cairá sobre a melhor das hipóteses formuladas, depois de uma comparação cuidadosa das vantagens e inconvenientes de cada uma.
Com as habilitações académicas que tinha, certamente, apareceria melhor solução. Acabou por entrar para uma grande empresa de seguros de saúde, cuja formação profissional incluiu uma licenciatura específica e um acesso rápido através de várias funções que serviram de estágio e preparação para o alto cargo que hoje desempenha.
Na vida nem tudo é rectilíneo, seguindo o caminho mais rápido e directo. Por vezes é mais racional e lógico imitar a água que, da nascente à foz do rio, vai sempre pela linha de maior declive, contornando elevações e outros obstáculos, não gastando energias desnecessariamente. Mas, mesmo a água, não age passivamente, sem esforço, nem com resignação absoluta. Se depara com um obstáculo intransponível, pára, acumula energia, eleva o nível e, quando a força é suficiente, derruba o obstáculo, se não consegue ultrapassar por cima ou pelos lados.
Estas reflexões vêm na sequência dos posts Ultrapassar as dificuldades e vencer, Um deficiente vencedor, Celebremos o 1º de Maio, Quem atrapalha a sua vida? que evidenciam a quota parte que nos cabe na preparação do êxito pessoal ou profissional da nossa vida. Salvo uma ou outra contingência que não podemos controlar, o futuro trará o fruto da semente que agora semearmos, nas pequenas decisões quotidianas. E estas devem ser coerentes com os nossos objectivos e não movidas por vaidades, ostentações e estímulos passageiros e voláteis que acabam por trazer sabor amargo.Governo sem bússola nem leme
Embora o actual Governo tenha prometido levar a cabo um Plano de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), de que já havia necessidade há vários anos, ela está a ser mais lenta do que o desejável e a sair com defeitos de fabrico que, em muitos casos, tem sido retirada do mercado! Para os observadores mais pessimistas, pode parecer que os governantes, apesar da inquestionável boa vontade e recta intenção, pairam sem compasso nem leme ao sabor de ondas, ventos e marés, sem descortinarem para que lado pretendem avançar.
Deparamos, dia-a-dia, na sequência de promessas e decisões recentes, com o anúncio de que não são confirmadas ou com declarações de recuo num ou outro caso. Tudo isso em consequência de decisões mal fundamentadas, voluntaristas, desajustadas das realidades nacionais que não resistem às primeiras manifestações de desagrado por parte dos eleitores. Fica a pergunta silenciosa para que servem as centenas de assessores que enxameiam os gabinetes e são pagos principescamente? Parece que não estão a apoiar sensatamente o respectivo patrão e a evitar que ele erre. Por outro lado, teria sido mais prudente, eficaz e prestigiante, negociar antes de ser tomada a decisão definitiva, o que evitaria erros crassos e facilitaria a compreensão e a aceitação pelos destinatários, do que ter de recuar, perante as reacções de autarcas e populares. Perante estas reacções, após autoritarismo e arrogância, vai-se reforçando a dúvida de se os políticos alguma vez falam verdade e como conseguir saber quando o fazem, e se a arrogância e as referências a milagres não passam de fumaça para camuflar as suas fraquezas. É certo que «errar é humano», mas, neste sentido, os governantes estão a evidenciar ser demasiado «humanos», mais do que o desejável.
A «ocasional» incoerência, incapacidade e irracionalidade fica demasiado evidente, por exemplo, no desprezo a que está a ser votado o interior do País, com fechos de escolas, maternidades, urgências, tribunais, repartições de Finanças, etc. Em vez de criar estímulos para atrair habitantes ao Portugal profundo, como foi intenção da presidente da câmara de Vila de Rei, está a ser feito precisamente o contrário, retirando os apoios mínimos aos poucos resistentes que teimam em continuar ali até ao fim. A continuar neste rumo, dentro em pouco, mais de metade do País ficará inteiramente despovoada, à mercê de quaisquer grupos estranhos que ali queiram instalar-se clandestinamente e desenvolver actividades marginais.
Poderei estar enganado e ao contrário do que atrás é referido, possa haver uma estratégia governamental coerente e inteligente, mas, se assim for e como estamos em democracia convinha que o povo fosse esclarecido das finalidades pretendidas, se é que são confessáveis, a fim de a elas aderirem de forma positiva e construtiva.
Desertificação do interior 3
Transcreve-se o texto publicado no jornal gratuito «Global Notícias» e, no fim juntam-se alguns links de posts já publicados neste espaço, sobre este tema.
Aqui o vazio - Desertificação
Global Notícias, 080630
Ricardo J. Rodrigues
Na aldeia de Cubas vivem apenas dois casais, mas estão zangados um com o outro. Em Sanguinhedo já não vive ninguém. O despovoamento do interior atinge níveis alarmantes.
População: quatro, dois contra dois. Há dez anos que os vizinhos de Cubas, concelho de Vila Pouca de Aguiar, andam desavindos. Na aldeia vivem apenas dois casais, estão azedos um com o outro por causa da limpeza de uns terrenos. Francisco Costa, 67 anos, e Maria da Liberação Alves, 59, acabam de amanhar um nabal às portas da aldeia. Agora, é preciso juntar os pés em molhos, atá-los bem e levá-los para qualquer lugar seco. O homem ocupa-se de agrupar a alfaia, a mulher de carregá-la para o celeiro. No caminho da horta para a povoação, é inevitável que cruzem a casa de José Diegas, 71, e Nazaré Costa, 76.São os dois outros habitantes de uma aldeia cheia de casas vazias e terra que nada produz. José decide vir à rua, Liberação passa-lhe ao largo sem o cumprimentar. "Um homem não se põe debaixo dos pés de ninguém", explicam os dois chefes de família mais tarde, coincidindo no argumento para a zanga. Nesta povoação desolada, o silêncio é ensurdecedor…
População: sete, mais um a caminho. Samaria está grávida. Ela e Carlos Diegues instalaram-se há um ano em Cerdedo, concelho de Vinhais. Ele tem 31 anos, viveu 18 em Espanha.
Ela é de Salamanca, tem 24. Ambos apresentam o corpo coberto de tatuagens e piercings, Carlos também tem quatro rastas a enfeitar-lhe o cabelo curto, mas prometeu cortá-las no dia do nascimento do filho. A sua chegada teria provocado uma enorme estranheza entre os quatro moradores da povoação, não fosse o facto do jovem casal ter trazido consigo Lúcia, a filha de três anos. É a única criança que a aldeia vê crescer em décadas. Daqui a sete meses, a família poderá orgulhar-se de ter duplicado a população da aldeia. Cerdedo está a lutar contra o desaparecimento.
População: zero. A aldeia de Sanguinhedo morreu. Ou antes, foi morrendo. Há seis anos, os dois últimos residentes decidiram mudar-se para Braga, depois de os restantes terem morrido ou emigrado. Hoje, não é mais do que um povoado deserto no concelho de Montalegre, no lado transmontano do Gerês. Está tão visivelmente abandonado, que o chão da única rua que o atravessa está coberto de musgo. Ao longo do caminho, uma vintena de casas de granito, algumas com portas e vidraças cerradas, outras arruinadas. O mato tomou conta de uma – rachou-lhe paredes, rompeu-lhe soalhos, encheu-lhe a sala de giestas e urze. De resto, e um pouco por todo o lado, não se vê outra coisa que não sejam despojos: caixas de correio danificadas, uma arca vazia e podre, panos de loiça pendurados num prego, um arado ferrugento. É como se aldeia tivesse sido dizimada pela peste e todos os seus habitantes
fugido à pressa. Na verdade, o primeiro facto assinalável que se observa quando se chega
a Sanguinhedo, é que alguém se esqueceu de fechar a torneira da fonte.
Metade do país está em processo de desertificação humana e, nas serranias transmontanas, o fenómeno é particularmente visível. Enquanto no Sul a população está mais dispersa, aqui ela sempre esteve concentrada em aldeias. Isso significa que não faltam povoações inteiras mortas ou moribundas – em nenhum outro lugar a ferida do despovoamento ficou tão exposta. "O pior é que é cada vez mais difícil atrair população", diz Lívia Madureira, economista e directora do Centro de EstudosTransdisciplinares para o Desenvolvimento, da Universidade deTrás os Montes e Alto Douro. "Os serviços vão sendo afastados das pessoas, a oferta de emprego está mais dependente do sector público, a iniciativa agrícola não é incentivada. Queremos que os jovens se fixem no interior, mas onde é que eles vão pôr os filhos a estudar? Onde é que vão ao médico? De que se vão ocupar? Como é que lhes dizemos que a região
deles tem potencialidade?"
Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) são esclarecedores. Dos 236 400 habitantes que moravam no Alto Trás os Montes em 1991, sobravam 221 mil em 2001.Calcula-se que hoje não haja mais de 212 mil moradores na região (só o censo de 2011 poderá fornecer dados exactos). No Alto Douro, o número desceu de 239 700 para cerca de 210 mil. O Vale do Tâmega também está a perder gente e apresenta índices inquietantes de envelhecimento da população – 181 idosos por cada 100 jovens. No que toca ao emprego, a mesma cantiga." Em 2001, mais de um quinto dos jovens economicamente activos
residentes nesta comunidade estavam desempregados. O mesmo acontecia com 16% das mulheres", lê-se num estudo do INE sobre a área da fronteira Norte de Portugal. Um relatório de 2007 da mesma instituição alerta para o facto de o poder de compra per capita ser, em municípios como Vinhais, Montalegre ou Vila Pouca de Aguiar, inferior a 50% da média nacional.
Amélia Cavaca Augusta tem uma teoria para explicar o que se passa hoje em Trás os Montes, mas também na Cova da Beira, no Alentejo Interior ou no Norte Algarvio. "Os problemas do interior não são diferentes dos do país, simplesmente têm uma expressão muito mais acentuada ao longo de toda a zona raiana", defende a socióloga, especialista em Mudanças e Transformações Sociais. Saúde, educação, emprego, competitividade económica – a manta destapou aqui. Este é um Portugal extremado ao mínimo, cada vez mais magro e curvado à idade. Os que ficam fazem-no por opção ou falta de oportunidades. Só podem ser chamados
de resistentes.
Os efeitos do despovoamento humano são, em primeiro lugar, económicos. Sem pessoas não se gere o território, não se produz riqueza, não há desenvolvimento sustentado. Mas são as feridas ambientais que estão cada vez mais à vista. Como os matos deixam de ser limpos, o risco de incêndios aumenta. O fim da agricultura e da pecuária tornam os solos áridos e ameaçam a biodiversidade. Já em 2005, Vítor Louro, coordenador do Programa de Acção Nacional para o Combate à Desertificação, alertava no Diário de Notícias que o abandono das terras está a acelerar o processo de desertificação dos solos. “Neste momento, o fenómeno atinge 36% do Continente. No espaço de duas décadas, se continuarmos
a este ritmo, o valor subirá para 66%.”
Paulo Alexandre Neto é investigador na Universidade de Évora, especialista em Desenvolvimento Regional e Planeamento Estratégico. Segundo ele, a desertificação do
interior decorre de um processo histórico. “Portugal sempre viu a sua fronteira atlântica como factor de orgulho nacional. Nunca se preocupou muito com a sua identidade europeia, ou seja, com a fronteira espanhola. O país era um império colonial e, devido à sua reduzida dimensão populacional, os recursos foram sendo canalizados para o Brasil ou África.”Aponta depois o caso espanhol para estabelecer as diferenças. “Nos anos 40, durante o regime de Franco,
foram criados planos de ordenamento do território de modo a que toda a superfície do país tivesse ocupação humana. A verdade é que hoje eles têm cidades de 400 mil habitantes
por toda a parte, que conseguem estancar a sangria do interior. Em vez de fugirem para a capital ou para o estrangeiro, as pessoas mudam-se para essas urbes, o que lhes permite voltar facilmente às suas aldeias. Aqui, nunca se pensou no que se queria fazer com cada parte do país.” Até hoje.
Sanguinhedo sucumbiu, Cubas definha, Cerdedo luta desesperadamente contra a fatalidade.
Juntas, não escrevem mais do que a crónica de uma morte anunciada. Ninguém pode negar que, hoje, metade do país agoniza, sem soluções à vista. Os resistentes são como um exército decadente, onde há mais dissidentes que soldados e a que ninguém distribui armas. A incompetência no ordenamento do território criou uma nação caricata. O centro das grandes cidades está vazio, os subúrbios cada vez mais sobrelotados e o interior sangra, despovoado.
O centro das cidades está a ficar vazio, os subúrbios ficam sobrelotados e o
Interior do país despovoa-se. Hoje, metade do país agoniza, sem soluções à vista. Em Espanha, há grandes cidades por toda a parte, que estancaram a sangria. Em vez de irem para Madrid, as pessoas fixam-se nessas cidades e voltam facilmente às aldeias de origem.
Links de posts anteriores:
Desertificação do interior - 2
Desertificação do interior - 1
Lição da China contra a desertificação
O Interior abandonado pelo Governo
Maus governantes ao sabor de manifestações
O interior português está ostracizado
Ministro da Saúde avança e recua
Desertificação do interior 2
O PSD faz saber que pretende debater o processo de desertificação em curso no interior do País. Tal intenção merece aplausos, porque, mais do que muitos temas de que os políticos se ocupam, este reveste-se de uma importância grande para as populações ainda ali residentes e para a segurança em geral. Com efeito, as grandes extensões de mato abandonado podem vir a ser ocupadas por bandos marginais para se organizarem e treinarem e como ponto de partida e de reagrupamento para a consumação de actos indesejáveis. Quem pode garantir que ainda não vivem por ali alguns desses grupos?
Porém, a esperança que esta notícia atiça pode vir a gerar mais uma frustração. Na realidade, estamos habituados a que os políticos não vejam os cidadãos como seres humanos, mas apenas como contribuintes todos os dias e eleitores de tempos a tempos. Ora, como as políticas usadas, de há muitos anos a esta parte, têm estimulado a fuga para o litoral, é aqui que se encontra a grande massa de fornecedores de impostos e de votos, o que leva os políticos, partidariamente pragmáticos, a centrar na faixa junto ao mar todas as suas atenções. Até já há quem diga que não compensa fazer campanhas eleitorais no Portugal profundo!
E, nos sucessivos governos, não tem faltado tal pragmatismo monetarista, o que se tem manifestado pelo encerramento, no interior, de locais de apoio de saúde, de escolas, de tribunais, de estações de caminhos de ferro, de postos da GNR e de outros serviços administrativos.
Mas não devemos perder a esperança de ver Portugal ser governado com inteligência e democracia, dando a cada hectare do País as mesmas possibilidades de desenvolvimento e qualidade de vida. Os habitantes do interior do País devem ser considerados tão portugueses como os de Lisboa e Porto. Oxalá esta boa intenção do PSD dê os resultados que o País deseja.
Desertificação do interior 1
O Governo foi ontem acusado pelo presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Fernando Ruas, de contribuir para a desertificação de "uma vastíssima área de mais de três quartos do território nacional", ao extinguir serviços públicos de saúde, postos da GNR e da PSP, tribunais, escolas, transportes ferroviários e rodoviários, correios e outros.
Esta acusação consta do documento que refere "exemplos da absoluta contradição entre a política desarticulada no terreno e o planeamento que é suposto existir a nível nacional" o qual mereceu a unanimidade dos membros do conselho geral da ANMP reunidos, ontem, em Coimbra. Segundo os autarcas, isto demonstra grave descoordenação e contradição dado que «este conjunto de políticas avulsas de encerramento do interior" é desautorizado claramente pelo Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território, aprovado pelo Governo e em vias de ser votado pelo Parlamento
Naquele plano, apela-se, entre outras coisas, a "um maior equilíbrio na distribuição espacial da população", à "dinamização e diversificação económica e social das zonas rurais" e ao desenvolvimento de "uma rede nacional de prestação de cuidados de saúde", sendo tudo isso contraditório com o fecho de serviços em curso.
Os distritos mais afectados - ou "área a abandonar pelo cidadão", segundo prevê a ANMP - são Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja, sendo raras excepções "uma ou outra capital de distrito ou núcleo urbano mais significativo".
Por tudo isto e pelo grave inconveniente de desertificar o interior do País, os autarcas do conselho geral da ANMP pedem ao Governo "que os encerramentos de serviços de interesse público passem a estar sujeitos a estudos de impacto social".
A Natureza é inimiga do vácuo e, perante o abandono de grande parte do País, pode ocorrer a sua ocupação por grupos ilegais e indesejáveis, com possibilidade de incluir elementos do terrorismo internacional, difíceis de expulsar dada a pouca atenção dada às Forças de Segurança e às Forças Armadas, como se deduz de recentes notícias sobre a substituição das G3 e a aquisição de helicópteros.