sexta-feira, 1 de outubro de 2021

A REACÇÃO AOS FOGOS FLORESTAIS

 (Public em DIABO nº 2335 de 01-10-2021, pág 16. Por António João Soares) 

Estamos a findar a época estival de fogos florestais ou rurais que são sempre uma calamidade para os nossos campos e o clima. Já aqui escrevi várias sugestões para a prevenção deste perigo. Em vão. Parece haver factores inatacáveis devido a muitos interesses em jogo. E o dinheiro constitui uma droga demasiado perigosa quando colocado acima do respeito pelas pessoas e pela Natureza.

Mas depois de ocorrerem é muito conveniente que se procure recuperar as qualidades e potencialidades dos terrenos que lhes serviram de palco. Embora a agricultura já não se serve tanto dos matos para alimento dos animais, que são mais reduzidos do que noutros tempos, nem para adubo das terras que que dependem mais de produtos químicos (outro negócio), a vegetação das matas tem vantagens para o clima, para madeira para lenha (pouco utilizada). Mas a Natureza deve ser respeitada e os terrenos queimados devem ser recuperados.

Se um terreno queimado não for devidamente trabalhado, pode transformar-se num espaço selvagem, totalmente diferente do seu aspecto tradicional e com inconvenientes para a qualidade agrícola dos espaços vizinhos. 

Existem áreas de floresta estatal que estão sem a beleza que as tornou interessantes. Por exemplo, uma das encostas da Serra de Sintra que era coberta de pinheiros e muito apreciada e visitada por turistas, passou a estar coberta por mato selvagem, eucaliptos e outras espécies parasitas que secaram o solo e afastaram outras plantas mais simpáticas.

As autarquias zelosas do aspecto e da utilidade do seu espaço natural, devem procurar que a sai população se interesse pela Natureza em que vive. Além da utilidade dos ramos das árvores e da sua madeira, há o aproveitamento da vegetação rasteira para a extracção da biomassa. Claro que não se pode voltar aos cuidados antigos de que resultavam bons aproveitamentos da riqueza vegetal, mas algumas vantagens se podem extrair para economia actual e para a prevenção de incêndios devastadores.

Já aqui referi os meados do século passado em que os pinhais eram roçados anualmente para se obter material para a cama do gado e estrume, depois de devidamente curtido, para o cultivo agrícola. Os trabalhos eram absolutamente seguros sem receio de incêndio, porque, nada era deixado ao abandono espalhado pelo solo. E as fogueiras para aquecer as refeições não alastravam por não haver lenha espalhada. Hoje, esse trabalho não interessa aos agricultores, por utilizarem novos produtos criados pelas novas tecnologias, mas tais materiais resultantes de limpeza e tratamento das matas podem ser utilizados para o fabrico da biomassa. 

É certo que a população produtiva é demasiado reduzida e a maior parte já não tem idade para se preocupar com a actuação nem para inovar soluções úteis e práticas. Mas há que estimular os jovens do interior a conhecer o território e a procurar soluções que até podem ser úteis para a sua ocupação de tempos livres. O desconhecimento destes problemas impede que para eles possam ser procuradas soluções.

E, na sequência de tal estímulo, aparecerá o gosto pela prevenção de incêndios e a aplicação de medidas práticas e eficientes que os evitem sem necessidade de grandes investimentos.

O problema tem que ser resolvido localmente porque a ajuda do poder central não surgirá com características de solução lógica prática e eficiente, porque o Governo central está formado por pessoas que ignoram o país real e não estão motivados para perder tempo com tais «ninharias», por se interessarem apenas em votos e em benefícios financeiros para si, os seus familiares e amigos. E, entretanto, vão aparecendo na comunicação social com promessas balofas que raramente resolvem algo com interesse para as pessoas, na melhoria da sua qualidade de vida segurança e felicidade. Por isso, cada qual na sua área de residência deve procurar aquilo que considerar mais favorável para a sua qualidade de vida e a dos seus vizinhos e amigos e, com isso contribuir para um futuro melhor para Portugal.

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