(Public em DIABO nº 2326 de 30-07-2017, Pág 16. Por António João Soares)
Desde o drama ocorrido em 2017 no distrito de
Leiria, em Pedrógão Grande, perante o resultado das decisões políticas
apressadas e mal preparadas, as populações do minifúndio interior têm sido
tragicamente massacradas pela ameaça nos meses de Verão que, além de destruir o
pinhal, fonte de mato e estrume rural, lenha e madeiras, tem destruído vidas e
também habitações e parte do seu património.
Sobre isso, já publiquei mais
de uma dezena de artigos neste semanário com alertas, sugestões e outras
reflexões.
As decisões políticas
implementadas, em vez de constituírem um factor válido para a prevenção e para
o combate aos autores detectados de muitos casos, foram mais um desastre para
as populações proprietárias dos terrenos afectados no interior e centro do
país.
Com o actual calor do Verão,
as populações do interior Norte e Centro são de novo ameaçadas pelo terror dos
incêndios florestais, uma praga que parece invencível e redutível a valores
toleráveis.
Há quem se interrogue sobre o
desaparecimento dos guardas florestais, numa época em que o perigo de incêndios
passou a ser maior. Recordo que há meia centena de anos, a minha aldeia, na
zona do pinhal, só muito raramente tinha um pequeno caso de fogo, porque os
pinhais, por necessidade de colheita do mato, apanha da caruma, de lenha, de
estacas para vários tipos de agricultura, etc., estavam sempre limpos e até
tornava possível ao pessoal, quando neles trabalhava, acender fogueiras para
preparar o almoço, sem correr risco e sem precisar de cuidados especiais.
Hoje, a tecnologia, a ausência
de bois e da necessidade de mato para as suas camas, etc. provocaram o abandono
do pinhal que é percorrido apenas pelos técnicos da resina e por caçadores. Por
isso é que se torna mais necessário haver guardas florestais ou outra espécie
de vigilantes que detectem a presença de malfeitores com intenções de atearem
fogos e de situações propícias a casos inconvenientes.
Já há anos aqui referi a
conveniência de instalar uma rede de torres com sensores capazes de detectar um
incêndio logo na sua origem e que comuniquem automaticamente aos bombeiros mais
próximos, de forma a que eles acorram de imediato e apaguem a chama, ainda no
início. Quanto se pouparia com tal instalação? Mas isso tiraria o negócio a
muitas empresas ligadas à actuação dos bombeiros. E onde há negócio pode haver
corrupção para entidades públicas que vivem à custa do povo.
A limpeza do solo das matas
tem sido exigida aos seus proprietários que a entregam a privados, sem
preparação nem experiência para, durantes os trabalhos, seguirem regras que permitam
a sobrevivência das árvores da futura floresta. Quando eu era rapaz e, nas
férias e aos fins-de-semana, queria ajudar a roçar o mato, era logo alertado
para a necessidade de poupar pequenos pinheiros ou outras árvores que nasciam e
estavam a começar a crescer entre a outra vegetação que devia ser cortada e
servia para camas do gado e para estrume, antes da divulgação do adubo hoje
usado no cultivo de legumes e outros alimentos. Os detritos da limpeza devem
ser consumidos em fábricas que produzirão energia ou outros produtos úteis.
Sem tal cuidado, a limpeza
constitui um barbear do terreno que, passado pouco tempo, passa a ser deserto e
sem a vegetação que é indispensável e tem forte contributo para melhorar o
ambiente, dando oxigénio à atmosfera e captando o óxido de carbono que a polui.
O Governo deve legislar
eficazmente e as autarquias devem fiscalizar e controlar a execução. ■
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