domingo, 11 de março de 2012

Heranças indesejadas

Um dia, em viagem pelo interior, um companheiro lamentava que os donos de um solar em ruínas fossem tão desleixados que não trataram da manutenção do palacete rural e não evitaram que entrasse em ruína. A conversa decorreu e chegou-se à conclusão que quem herdou a propriedade teria, certamente, muito prazer e vaidade em possuir o solar nas melhores condições, mas os seus rendimentos talvez fossem pouco mais que suficientes para manter a família e pagar os estudos dos filhos, pelo que a herança do solar constituiu um problema para ele. Mas, não tendo possibilidade de o rentabilizar, inclusive alugando a um hoteleiro que o quisesse utilizar para turismo rural, teve que optar por desprezá-lo.

Realmente, o mundo está em permanente evolução ou mudança e não podemos teimar em manter os hábitos e as rotinas que herdámos. Há que raciocinar serenamente na busca de melhoramentos que nos sejam mais vantajosos em conformidade com os factores das novas situações reais.

Estas reflexões vieram à tona a propósito da resposta de um amigo a uma mensagem que repassei, acerca do pesado orçamento do palácio de Belém (163 vezes superior ao do tempo do General Eanes, descontando a inflação) e da quantidade de pessoal que ali pesa na folha de pagamentos, cerca de 500. Escreveu esse amigo «mas o actual PR apenas herdou o sistema que vinha de trás - e é óbvio que não tem capacidade para o modificar. Por isso, pouca responsabilidade lhe pode ser assacada».

Gostava que me explicassem como é que o PR, sendo a entidade superior do país, o Supremo Magistrado da Nação, não tem poder para reduzir a obesidade da Presidência. Quem é que o impede de estruturar a Presidência, de forma económica, eficaz e adequada às necessidades, sem tantas centenas de colaboradores, que, infelizmente para ele e para o País, não o têm impedido de cometer gafes e limitar-se muitas vezes a dizer banalidades.

Custa-me aceitar que os políticos tenham criado condicionalismos legais que impeçam o PR de estruturar da forma mais conveniente, em termos custo/eficácia, os serviços da Presidência e o obriguem a dar seguimento à herança, com os vícios e erros, que encontrou na burocracia e compadrio de uma instituição demasiado pesada, opada, obesa, em relação ao «pouco» que produz para bem dos cidadãos, com excepção para os que constam na folha de pagamentos.

Não é lógico nem moral que o Supremo Magistrado da Nação seja escravizado pela máquina cara e obsoleta, engordada, impunemente, ao longo do tempo por sucessivos interesses inconfessados, que encontrou, sem poder alterá-la.

Há, realmente, heranças indesejadas.

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