quinta-feira, 5 de novembro de 2020

FALTA DE CIVISMO E DE COMPETÊNCIA DE GOVERNANTES


(Public em O DIABO nº 2288 de 06-11-2020, pág.16. Por António João Soares)

Há escritores, com aspecto de serem pessoas de cultura e mentalidade evoluída, que colocam, com credibilidade, a hipótese de a espécie humana estar próxima da sua extinção, talvez acelerada pelas alterações a que estamos a assistir por parte da Natureza nas alterações climáticas e em pandemias que destroem a resistência psíquica das pessoas perante os fluxos que a medicina não consegue controlar.

Essa incapacidade psíquica não provém de interferência da Natureza, mas sim do próprio ser humano que, por deficiente educação, vive viciado na ambição do dinheiro e esmagado pela vaidade e orgulho, levando a humanidade a uma violência sem limites, desde o pequeno ataque de malfeitores até ao uso de armas fortemente letais. Ainda há pouco, vi a notícia de que o presidente da Turquia “avisa os EUA que não sabem com quem se estão a meter”. Imagine-se a gravidade disto perante a desproporcionalidade do poder de cada interveniente e dos apoios que lhe podem ser dados por outros poderosos, num mundo em que a maldade, a raiva e o ódio, quando disparados, ficam incontroláveis.

Apesar da real pouca eficiência da ONU para manter a paz mundial, o seu Secretário- -Geral, o nosso conterrâneo António Guterres, esforça-se por repetir apelos para vários pontos do Globo, a fim de serem evitadas guerras através de cessar-fogo, diálogo, acordos, etc. No dia 23, após cinco dias de negociações em Genebra sob a égide da ONU, foi assinado um cessar-fogo permanente entre as partes em conflito na Líbia. Vários casos semelhantes têm ocorrido pelo mundo. Mas muitos têm rompido passado pouco tempo, às vezes por pressão de “amigos” de uma das partes na mira de vantagens na exploração de petróleo e outros produtos naturais. Porém, é positivo o apoio desinteressado de vários países, movido apenas pelo bom senso e a generosidade solidária destinada a recuperar a paz e tornar o mundo mais harmonioso e civilizado.

Os próprios EUA, actualmente, ainda usam a sua prepotente potencialidade, em vez de negociação para a procura de soluções negociadas, abusam da deslocação de militares para pequenos países amigos, raramente obtendo a solução desejada para obter a paz, como se viu na Somália de onde retiraram sem obtenção do desejado resultado. Praticamente o mesmo sucedeu no Vietname, no Iraque, e está a prestes a ocorrer no Afeganistão e no Paquistão. Na Coreia do Norte, do encontro entre os dois presidentes não houve propriamente êxito nas conversações, mas sim o resultado do mais poderoso, que levou o mais fraco a encolher-se. A tensão surgida entre o Irão e os EUA não foi solucionada e foram os Estados Unidos que, perante outros parceiros do acordo nuclear de 2015, deixaram de cumprir as suas promessas. Trump mostra ameaças, mas não é apoiado pelos seus aliados. O Irão mostra-se forte e agressivo e os parceiros aconselham calma aos americanos. A tensão está difícil de ser normalizada, até porque os membros da NATO desejam que os EUA encontrem uma solução apaziguadora que silencie a tentação da violência.

Tudo isto porque não há um sistema de autoridade internacional que impeça conflitos em que são destruídas vidas e haveres, em vez de eles serem resolvidos pacificamente logo ao primeiro sinal anunciador. As energias assim desbaratadas deviam ser orientadas para acções sociais que contribuíssem para a população viver mais feliz e criadora de maior riqueza, cultura e diversão. Mas para isso os povos deviam ser governados por pessoas bem preparadas e possuidoras de elevado grau de civismo, respeito pelas pessoas e preocupadas em criar um ambiente de harmonia e bem-estar social, sem pobres desamparados nem ricos ambiciosos e loucamente arrogantes.

São desejáveis governantes bem preparados, dedicados ao seu país, sensíveis e respeitadores das pessoas, na generalidade. ■

Sem comentários: