A fantasia deve ser moderada pela sensatez
DIABO nº 2227 de 06-09-2019, pág 16, por António João Soares
Ao deparar com textos referentes a inovações, originalidades com vaidade de criatividade, lembrei-me de que, em centena e meia de textos aqui publicados, dez por cento focam a conveniência de encarar o futuro com vontade de inovar, de criar, de mudar, porque a Natureza é avessa ao imobilismo e vive da constante mudança dia/noite, Verão/Inverno, etc. Os textos que agora me chegaram conduzem ao mesmo tema e hesitei em insistir nele. Mas recordei a expressão latina ‘quod abundat non nocet’, o que abunda não prejudica, e insisto em sublinhar a necessidade de moderar as fantasias inovadoras e criativas com a sensatez suficiente para não se tornarem ridículas, fruto de vaidade ostentatória que, em pouco tempo, tenham de ser arquivadas em saco seguro.
Se é certo que a Natureza não é imutável, é também verdade que as suas variações se processam em continuidade, em função de circunstâncias naturais. Mas o homem que, errada e arrogantemente, se considerou racional em oposição a animais que classificou de irracionais mas que lhe mostram, com muita frequência, que são mais racionais do que ele e lhe dão lições de inteligência desenvolvida, ele muda por capricho, por estúpida mania de querer ostentar originalidade e criatividade, tomando medidas inconsistentes e que pouco depois tem de rejeitar. E, muitas vezes, esse impulso para se tornar notado contamina o ânimo de pessoas, desviando-as das suas tarefas bem remuneradas que devem ser destinadas ao bem dos cidadãos, e o seu tempo é desbaratado sem utilidade e prejudicando o bom exercício das suas funções e, por isso, impedem que o tal ser “racional” se possa colocar em plano superior aos ditos irracionais.
As inovações atrás referidas citam a escalada pró-animais com um SNS para cães e gatos e a inovação de alunos poderem escolher WC e balneários, independentemente de sexo. A Humanidade poderá chegar a um grau de evolução que dê a cães e gatos prioridade em relação a seres humanos, mas o estado actual da vida no planeta não permite, com sensatez, fazer uma tal alteração da ética social, por decreto. Só poderá acontecer por efeito de uma evolução que venha a ocorrer durante muito tempo, naturalmente, com progressividade, e que colha a aceitação da maioria das pessoas. Antes da condenação de quem bata num cão terá que ser criada uma justiça que condene o cão que morde um humano.
É preciso reflectir na conveniência de assumir regras para encarar a necessidade de mudança e para gerir para um futuro melhor porque o futuro exige objectivos e estratégias. Há Estados a confrontar situações de precariedade e de instabilidade e indefinição devidas a decisões pouco ponderadas ou não completamente concretizadas, como é o caso da Inglaterra com o Brexit e da Venezuela com o golpe incompleto.
Regular o funcionamento dos comportamentos numa sociedade não pode ter como modelo uma brincadeira infantil, nem o trabalho de mágicos, nem a representação de palhaços. É indispensável respeitar os direitos das pessoas de que muito se fala, mas que estão a ser muito esquecidos e desprezados por aqueles que têm o importante dever de as defender e respeitar. Os hábitos tradicionais devem ser respeitados por quem elabora as leis, a não ser quando se tornam completamente desajustados à actualidade, de acordo com opinião generalizada de quem os seguia. Governar em democracia não pode ser uma imposição arrogante e tirana de quem foi escolhido pelo povo para o defender e representar. ■
A Decisão do TEDH (400)
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