Aprender com os erros
(Publicado no semanário O DIABO em 21 de Agosto de 2018)
Para viver a vida não é necessário conhecer grandes teorias e filosofias, bastando a simples sensatez de ir aprendendo com os pequenos erros e acidentes do dia-a-dia. Em criança aprendemos a andar, com os ensinamentos obtidos em cada queda. De cada erro devemos retirar lições para evitar a repetição de acidentes. A sensatez, a perspicácia e a persistência na procura de melhores soluções, constituem uma ferramenta essencial para a vida.
O que se tem aprendido com os grandes fogos florestais? Parece que foi aprendida alguma coisa, mas muito pouco. É gritante o caso do «plano de intervenção florestal por aprovar há sete meses» apresentado pela Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio (Aspaflobal), com um projecto estruturante para a Zona de Intervenção Florestal de Perna Negra, em Monchique, onde começou precisamente o incêndio que durou vários dias com a destruição de grande área de floresta e o abandono das residências por muitas centenas de moradores.
Tal demora demonstra grande desleixo, inconsciência e ausência de sentido de responsabilidades de meninos burocratas do Instituto de Conservação da Natureza (ICNF) que não fazem ideia dos perigos que uma demora mesmo que pequena pode causar. Houve enorme falta de respeito pelos direitos da população que espera dos Poderes protecção e prevenção de grandes males. É grave uma organização como o ICNF, um pilar da Protecção Civil, sem ter capacidade de actuar na supervisão das medidas de prevenção e incêndios nas florestas do território nacional.
Antes que incêndio deflagre deve ter sido aplicada uma prevenção que deve ir do ordenamento do território ao tipo de árvores plantadas, passando por outros pormenores como a criação de faixas de descontinuidade ou asseiros (caminhos entre o arvoredo com largura adequada ao efeito desejado) que sirvam de corta-fogo, impedindo o seu alastramento por grandes áreas e facilitando o deslocamento dos meios motorizados de ataque. Principalmente, quando se trata de território de orografia complicada, deve ser evitada a todo o custo a continuidade de vegetação na serra, sendo indispensáveis as faixas de descontinuidade de largura adequada. Após um incêndio em Tavira em 2012, um técnico categorizado concluiu que, dos 120 quilómetros que deviam existir destas faixas de descontinuidade, apenas existiam 30 quilómetros. É um aspecto que deve ser corrigido com eficiência em todo o território nacional.
Quanto ao tipo de árvores, os eucaliptos têm sido alvos de muitas acusações. É certo que esta árvore, originária de climas muito diferentes tem tido bom comportamento quando plantada de forma muito regular pelas empresas de celulose, em condições que evitam incêndios graves. Mas tornou-se uma praga, expandida por forma completamente descontrolada, plantada sem os cuidados que lhe devem se inerentes. Para controlar e reduzir tal praga, é indispensável uma cuidadosa gestão do Estado com supervisão efectiva em todo o espaço rural nacional. A área de eucalipto deve sofrer uma diminuição acentuada e haver substituição por outras espécies como carvalhos, castanheiros, sobreiros, nogueiras, etc.
Quanto à necessidade da limpeza das matas que, pelos vistos, foi muito negligenciada e há pormenores que não podem ser deixados a desmaselos de pessoas sem preparação a fim de não contribuírem para que Portugal seja um deserto dentro de poucos anos, por não haver novas árvores que substituam as actuais quando a idade as derrubar. Sobre isto, já disse o que penso, no artigo «sem ponderação, a limpeza pode destruir o pinhal» publicado no semanário O DIABO em 3 de Abril.
Convém reflectir sobre esta assunto, com profundidade, a fim de se evitarem erros semelhantes aos anteriores.
António João Soares
14 de Agosto de 2018
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