E se não bastar qualificar será indispensável «requalificar». O cronista Paulo Ferreira gaba-se, no Jornal de Notícias, que
já sabe o que é requalificar, mas não fiquei a saber o que é. O meu dicionário apenas fala de qualificar, dizendo que significa atribuir qualidade.
Mas penso que se qualificarmos correctamente, deixará de haver, por exemplo, tantas agressões ao idioma pátrio. Por coincidência, ou por mero acaso, dois ex-colonos do Ultramar e depois colonos do rectângulo lusitano, agrediram impunemente o idioma nacional: Miguel Relvas disse que era preciso «
ser ouvisto» e Passos Coelho aconselhou há dias em discurso público que «
sejemos» realistas…
Será que o primeiro quereria impor o vergo «ouver» como função dos ouvisdos, à semelhança do verbo que exprime a função dos olhos. E será que Passos pretende criar o verbo «sejar», à semelhança do verbo palrar, actividade em que é exímio?
Ao meditar nestas inovações linguísticas, deparei com o poema de Zélia Chamusca que me mostra que não vale a pena prestar atenção a reformas requalificativas e que transcrevo:
SEM LEI NEM ROQUE
Zélia Chamusca
Num país sem lei nem roque
Nem ladrão a quem se toque,
Cada um mais enche o saco
Do pobre o recurso parco.
Todos os trabalhadores
Estão a sofrer horrores
E os pobres dos reformados
Cada vez são mais roubados.
São só os pobres a pagar
E os do Poder a roubar,
De quem lhes deu o poder
Eles se estão a esquecer.
Não merecem governar
Este país a ficar
Cada vez mais assaltado,
Como não vi no passado!
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