domingo, 11 de julho de 2010

Maiorias dão estabilidade e mais eficácia

Transcrição de um bom artigo que refere uma óptima intervenção

Maiorias constitucionais? Sim, faz favor
Jornal de Notícias. 28-06-2010. Por Catarina Carvalho

Esta semana, Henrique Granadeiro fez das mais importantes intervenções da política portuguesa nos últimos tempos. E nada teve a ver com a guerra ibérica que decorre entre a PT e a espanhola Telefónica pela brasileira Vivo. Aliás, não foi o Grandeiro chairman da PT que proferiu essas declarações, mas o Granadeiro politólogo.

Não sabiam que havia um analista político dentro do chairman da PT? Há, e dos bons. E não duvidem de que um homem como ele, que à sua experiência de vida de self-made man aliou a experiência política, na casa civil de Ramalho Eanes, a experiência de gestão de empresas, sempre na área da Comunicação Social e agora na PT, e ainda a de agricultor, na área dos vinhos, um homem como ele tem muito mais pergaminhos para ser politólogo do que qualquer dos intelectuais que nos aparecem todos os dias no ecrã, e se limitaram a viver toda a vida à sombra do canudo, enfiados em gabinetes de universidades.

O Granadeiro politólogo sugeriu, então, que Portugal alterasse a sua Constituição para que Portugal tivesse apenas governos de maioria. E, como anda nisto da gestão há muitos anos, agarrou no seu 'Power point' - estava num debate numa livraria de Lisboa - para demonstrar por que tinha razão. Feitas as contas e mostrados os gráficos, chega-se à conclusão de que, nas últimas décadas, os governos mais estáveis foram os que deram maiores crescimentos do PIB. Independentemente das cores que tinham, independentemente das medidas que tomaram.

É uma conclusão dura para os políticos, mas simples de compreender para um gestor como Granadeiro, habituado a fazer planos de negócio. A estabilidade origina o crescimento, porque dá confiança aos investidores que, assim, sabem o caminho a tomar. A economia é suficientemente dinâmica para se adaptar a mais Estado ou menos Estado, a mais ou menos rigor, a mais ou menos crise. Precisa é de saber por onde caminhar. Como diz Granadeiro: «Ou temos um sistema em que é obrigatório governos de maioria ou continuaremos neste caminho de instabilidade, do curto prazo e de governos que não podem ser responsabilizados durante muito tempo pela sua actividade e que não têm tempo sequer de lançar medidas estruturais e de fundo».

E eu lembrei-me das palavras de Granadeiro ao ler a entrevista de Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra cujo trabalho na Educação foi revogado em seis meses e que vai lançar esta semana um livro sobre o assunto.

Portugal, democracia jovem e irrequieta, com os seus meios de Comunicação Social hiperpolitizados, pela-se por uma guerrilhazinha partidária. E sucumbe nelas. Mesmo no meio da enorme crise em que nos encontramos, estamos mais uma vez a braços com uma discussão que nos vai custar milhões, a das SCUT - paga, não paga, paga, não paga. E outra, ainda mais estéril entre Cavaco e Sócrates - com Alegre e Soares pelo meio - sobre quem puxa mais pela confiança do país, se o primeiro-ministro se o presidente da República.

Se calhar, do que Portugal precisa é mais de homens de negócios a intervir na política, e menos políticos a usar a economia como arma de arremesso para os seus próprios interesses.

NOTA: A propósito do «Se calhar…» já aqui foi referido que «um grupo de notáveis e empresários» propôs a criação de uma carta magna para defender limites à despesa pública.

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