sexta-feira, 4 de junho de 2010

Cardeal-Patriarca usa palavras explícitas

Transcreve-se a notícia seguida de NOTA:

Cardeal ataca Cavaco por casamento gay
Correio da Manhã. 28 de Maio de 2010. Por Janete Frazão

"Esperava que o Presidente usasse o veto político". Foi desta forma que o D. José Policarpo reagiu pela primeira vez ao facto de Cavaco Silva ter promulgado a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O cardeal-patriarca de Lisboa não poupou críticas ao chefe de Estado. "Sabemos a fragilidade do veto político na nossa Constituição, mas ele, pela sua identidade cultural, de católico, penso que precisava de marcar posição também pessoal", afirmou ontem numa entrevista à Rádio Renascença.

D. José Policarpo não compreende como é que o veto político à lei do casamento gay poderia prejudicar a crise económica, tal como invocou Cavaco Silva, e acredita que se o Presidente da República tivesse vetado este diploma tinha igualmente garantido a vitória nas próximas eleições presidenciais.

NOTA: Sua Eminência tem o cuidado de se cingir ao texto da «Declaração do Presidente da República sobre o Diploma da Assembleia da República que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo» proferida por Sua Excelência nas televisões em 17 de Maio.

Realmente ao ler-se
a declaração com atenção e sem preconceitos, chegava-se a um ponto em que se contava que a decisão fosse tomada em conformidade com os exemplos apontados de Reino Unido, Alemanha, França, Suíça ou Dinamarca, utilizado o poder de veto que a Constituição confere e devolver o diploma ao Parlamento. Mas não. Depois de um início, que veio a provar-se ser descabido e denunciador de hesitação e debilidade, o diploma foi promulgado com a alusão ao esforço para debelar a crise económica, o que leva o Cardeal a dizer que não compreende a ligação entre as duas coisas. E este não deixa de, perspicazmente, aludir ao receio de o veto poder colocar em risco o resultado das eleições presidenciais, que Cavaco, como seria de esperar, ocultou sibilinamente, com o seu jeito já conhecido para alimentar tabus.

Mas não deixa de ser lamentável que a estrutura do discurso tivesse ficado imperfeita por ter uma parte propiciadora de uma decisão e, depois, aparecer a solução contrária. Bem podia ter sido evitada a primeira parte e assumida plenamente, sem tibiezas, a promulgação de uma lei que durante muitos anos, talvez séculos, venha a ser conhecida por Lei Cavaco Silva. Há, na vida, momentos pouco felizes.

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