quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tal como se cita de Constâncio, também fiquei «surpreendido» com tão grande lista de factos. Os jornalistas podem ser incómodos a quem tem telhados de vidro, mas há quem os saiba domar sem agressividade. Se Cavaco os hostilizou quando era PM, já Mário Soares sempre os acarinhou, lhes deu atenção e até lhes poupava trabalho dando-lhes as notícias em ponto de serem publicadas! Perante tais exemplos, os assessores e conselheiros do PM deverão pensar no alerta contido na última frase do texto do artigo que se transcreve.

Sócrates, o vilão
Correio da Manhã. 03 Fevereiro 2010. Por Domingos Amaral, Director da 'GQ’

Nunca pensei que o primeiro-ministro tivesse tempo para ver telejornais, quanto mais para os odiar e atacar!

Pé ante pé, com passos lentos mas firmes, José Sócrates prossegue a caminho de se tornar no primeiro-ministro mais odiado de sempre pela classe jornalística portuguesa. A lista de episódios já vai longa, e ao que parece não corre qualquer risco de chegar já ao fim. Tudo começou com um célebre congresso do PS, onde TVI e ‘Público’ foram eleitos os inimigos públicos número um do partido e do primeiro-ministro. Depois, na RTP, Sócrates lançou-se numa diatribe contra Manuela Moura Guedes e contra o seu ‘Jornal de Sexta’. Já na altura achei o episódio surrealista.

Alguém imaginaria Obama a vociferar contra um jornalista? Alguém consegue ver Sarkozy nesse papel? Berlusconi, sim, sem dúvida. Putin, obviamente, mas Sócrates?

Nunca pensei que o nosso primeiro-ministro tivesse sequer tempo para ver telejornais, quanto mais para os odiar e atacar! Mas, o erro foi meu. Não contente com essa excitação, Sócrates ganhou alento e prosseguiu. Atacou um cronista do ‘DN’, João Miguel Tavares, por este o ter vagamente comparado a Cicciolina. Depois, marchou alegremente contra José Manuel Fernandes, director do ‘Público’. A seguir, aumentou a pressão contra José Eduardo Moniz, ao fazer no Parlamento considerações nada abonatórias sobre a TVI. Com a tensão eleitoral ao rubro, Portugal inteiro percebeu que o primeiro-ministro queria ver o director-geral da estação fora dali, e depressa.

Infelizmente para nós todos, os jornalistas perderam sempre as guerras com o primeiro-ministro. Manuela foi tirada do ar, sem apelo. Moniz foi substituído na TVI, bem como José Manuel Fernandes, no ‘Público’.

A coisa parecia ter amainado, mas agora a vítima escolhida foi Mário Crespo, contra quem Sócrates parece ter uma embirração especial. Esperemos que o caso fique por aqui, e que a SIC não dobre a espinha ao Governo, mas seja o que for que aconteça nos próximos dias, os danos sobre a imagem de Sócrates já são irreparáveis. O primeiro-ministro será para sempre visto como um homem que aproveita o enorme poder que tem para perseguir quem, na televisão ou nos jornais, o critica. Demonstrando uma total ausência de "fair play", revelando que não consegue passar por cima ou esquecer os excessos ou as meras diatribes de quem não gosta dele, Sócrates parece ter como desporto preferido a tentativa de silenciamento de certas opiniões. E isso revela o quão próximo está de se perder...

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