domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sucessores de Sócrates já na lista

No post Investigar é mais saudável do que abafar e em outros posts nele linkados era apontado o inconveniente do ambiente de suspeitas sendo defendido que a investigação para esclarecer a verdade será a melhor via para um ambiente ético saudável e gerador de confiança e de respeito. Porém as notícias mostram que há quem aposte no «abafar» até ao último suspiro. E este parece estar próximo como transparece do artigo a seguir transcrito.

Pós-Sócrates já é tema de conversa no PS
Diário de Notícias. 12 de Fevereiro de 2010. por João Pedro Henriques

Por enquanto são só murmúrios. Ninguém dá a cara. Mas a realidade é incontornável: o PS começa a discutir cenários pós-Sócrates, nomeadamente no grupo parlamentar. Paulo Portas, líder do CDS-PP, percepcionou isso mesmo e ontem afirmou: "Começa a haver muita gente que acha que o primeiro-ministro, com a sua atitude, está a tornar-se no primeiro problema que impede a resolução dos problemas reais dos cidadãos."

Um alto dirigente do PS afiançou ao DN a forte disponibilidade de José Sócrates para "dar luta". Mas admitiu, simultaneamente, que a situação se pode estar a encaminhar para um ponto insustentável.

Desenvolvendo então uma tese: se o Governo caísse por uma crise política convencional (um chumbo do Orçamento do Estado, por exemplo) então Sócrates teria condições para se candidatar de novo a primeiro-ministro. Mas se o líder socialista viesse a ser destronado por uma crise de índole ético-moral (comprovando-se, por exemplo, que o Governo manobrou para afastar jornalistas incómodos da TVI usando a PT), então o partido não teria outro remédio senão substituir Sócrates.

Os nomes referidos para a sucessão são vários: António Costa, António José Seguro, Vieira da Silva, Luís Amado, Teixeira dos Santos. Costa já terá mandado dizer que recusa o "cenário Santana": ser primeiro-ministro sem eleições legislativas.

Alguns dirigentes já verbalizaram a sua incomodidade com o caso. Ana Gomes: "Não é possível varrer para debaixo do tapete as questões que tais escutas suscitam: é preciso esclarecer se era, ou não, por instruções governamentais que a PT estava a negociar a compra da TVI à Prisa."

João Cravinho: "Isto é uma grande questão de Estado e as grandes questões de Estado tratam-se no plano político, frontalmente, com argumentos convictos e com força. Não podem ser chutadas para canto nem podem ser cobertas por floreados formais." Vera Jardim: "É urgente que se faça luz sobre isto. (...) Este clima não é sustentável."

Todos os olhares socialistas se viram agora para o Presidente da República - ao mesmo tempo que se especula permanentemente sobre as novas revelações a caminho. O que fará Cavaco Silva à medida que a posição do primeiro-ministro for ficando fragilizada? Recordam-se, de permeio, os exemplos das lideranças de António Guterres e Ferro Rodrigues: ambos se afastaram quando perceberam que tinham deixado de ser a solução e passado a ser o problema. No pós-Guterres, o PS só perdeu as legislativas (de 2002) por dois pontos percentuais; no pós-Ferro (2005) o PS conquistou a primeira maioria absoluta da sua história.

Ontem, no Parlamento, vários ministros estiveram debaixo de forte pressão dos jornalistas para comentarem o caso da providência cautelar sobre o Sol. O caso não podia ter surgido em pior altura: o Governo estava todo na Assembleia por causa do debate do OE-2010. Foram sendo "pescados à linha" pelos jornalistas.

Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares) deu o mote: "É matéria em relação à qual o Governo nada tem que ver. É uma questão do foro judicial." Alberto Martins (Justiça) foi pelo mesmo caminho: "Não comento tudo o que está a ser apreciado no âmbito da justiça. A justiça tem as suas regras, os seus procedimentos próprios." E também Pedro Silva Pereira (ministro da Presidência): "Eu respeito as decisões da Justiça e não comento as decisões dos tribunais." Francisco Assis, líder parlamentar, tentou proteger Sócrates: "Tem-se comportado de forma irrepreensível em todo este processo."

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