(Public em DIABO nº 2362 de 08-04-2022, pág 16, por António João Soares)
Mas estas orações e
devoções têm pouco efeito nos comportamentos cívicos de políticos e dos seus
colaboradores imediatos por não serem explicadas aos crentes menos letrados e
não os incentivarem no seu comportamento. Muitos destes recitam maquinalmente
orações sem ter a completa percepção do que significam as palavras e as frases
que disseram. Por exemplo, raras são as pessoas que percebem as três
lições constantes da segunda parte da oração “Pai Nosso”. E não compreendem a
formalidade do pedido ao «Pai» que lhes dê o «pão nosso de cada dia». Pois não
lhes é dado o pão e apenas lhes pode ser dada a vontade de trabalhar para ele
ser obtido e sem ambição nem ganância de obter fortunas que deformam a
moralidade da vida, a qual deve ser simples e honesta.
Devemos respeitar e
compreender os outros e perdoar-lhes as ofensas que nos dirijam. As más
palavras e acções ficam com quem as pratica e devemos evitar ódio, inveja e
vontade de vingança. E devemos evitar praticar o mal seja contra os outros seja
contra a nossa saúde. A droga e os excessos estragam a saúde. E devemos ter
muito cuidado com a nossa pessoa. Devemos «livrar-nos do mal». Não devemos
esperar que seja Deus a «livrar-nos do mal».
A formalidade de pedir a
Deus tudo aquilo de que precisamos e os remédios para todos os males que
resultam dos nossos maus comportamentos e dos outros, deve ser ponderada porque
teremos o futuro que prepararmos com os nossos comportamentos de cada momento.
Mostraram-me, há mais de
meia dúzia de anos, um livro, cuja tradução foi publicada pela editora Diário
de Notícias que tratava de entrevista a Deus e, perante a pergunta do
jornalista se faz milagres, a resposta foi negativa, com a justificação de que
não deve desrespeitar as leis da natureza, rigorosamente feitas com sabedoria e
consistência. O milagre deve ser praticado por cada um, orientando o seu
comportamento da forma mais natural, moral e ética, a fim de não cometer erros
que precisem de ajuda para serem remediados. A religião deve incentivar a luta
pela dignidade humana, pela liberdade e pela paz.
Por tudo isto, melhor do
que as consagrações do dia 25, realizadas por todo o mundo cristão, seria mais
eficaz a difusão da vantagem da aplicação constante dos «mandamentos», bem
explicados de maneira a serem praticados, por todos especialmente pelos
políticos com possibilidade de ordenar actos ilegítimos que prejudicam
seriamente povos pacíficos e inocentes, como é presentemente o caso da Ucrânia
e de tantos outros actos de terrorismo que afectam gente honesta e
trabalhadora.
O respeito pelos outros
é basilar para vivermos em paz e, quando surgem dúvidas, quanto a limites dos
interesses das partes, a melhor solução consiste no diálogo e, se necessário, o
recurso a intermediários independentes e amantes da paz. Qualquer acto de
violência, na sua contabilidade final, traz mais prejuízos do que ganhos para
qualquer das partes.
A Igreja deve orientar o
seu esforço para que os ensinamentos da fé sejam devidamente aplicados para a
felicidade e a segurança dos povos, de todos os povos, e sejam evitados
acontecimentos indesejados e desgastantes da boa qualidade de vida que os
evangelhos apontam como ideal e desejada por Deus. Para isso, é esperada a
colaboração de todos os sacerdotes e dos seus melhores praticantes.
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