(Public em DIABO nº 2362 de 08-04-2022, pág 15, por António João Soares)
No dia 25 de Março, em
resposta a um apelo do Papa, os crentes mundiais colaboraram na «Consagração ao
Imaculado Coração de Maria pela paz na Ucrânia», na esperança de que o Divino
Mestre decidisse exercer os seus divinos poderes e conseguisse terminar com os
actos de selvageria que estão a ser praticados naquele país.
Mas estas orações e devoções
têm pouco efeito nos comportamentos cívicos de políticos e dos seus colaboradores
imediatos por não serem explicadas aos crentes menos letrados e não os incentivarem
no seu comportamento. Muitos destes recitam maquinalmente orações sem ter a
completa percepção do que significam as palavras e as frases que disseram. Por exemplo, raras são as pessoas que percebem as três lições constantes da segunda
parte da oração “Pai Nosso”. E não compreendem a formalidade do pedido ao «Pai»
que lhes dê o «pão nosso de cada dia». Pois não lhes é dado o pão e apenas lhes
pode ser dada a vontade de trabalhar para ele ser obtido e sem ambição nem
ganância de obter fortunas que deformam a moralidade da vida, a qual deve ser
simples e honesta.
Devemos respeitar e compreender os outros
e perdoar-lhes as ofensas que nos dirijam. As más palavras e acções ficam com
quem as pratica e devemos evitar ódio, inveja e vontade de vingança. E devemos
evitar praticar o mal seja contra os outros seja contra a nossa saúde. A droga
e os excessos estragam a saúde. E devemos ter muito cuidado com a nossa pessoa.
Devemos «livrar-nos do mal». Não devemos esperar que seja Deus a «livrar-nos do
mal».
A formalidade de pedir a Deus tudo aquilo
de que precisamos e os remédios para todos os males que resultam dos maus
comportamentos, nossos e dos dos outros, deve ser ponderada porque teremos o
futuro que prepararmos com os nossos comportamentos de cada momento.
Mostraram-me, há mais de meia
dúzia de anos, um livro, cuja tradução foi publicada pela editora Diário de
Notícias que tratava de entrevista a Deus e, perante a pergunta do jornalista
se faz milagres, a resposta foi negativa, com a justificação de que não se devem
desrespeitar as leis da natureza, rigorosamente feitas com sabedoria e
consistência. O milagre deve ser praticado por cada um, orientando o seu
comportamento da forma mais natural, moral e ética, a fim de não cometer erros
que precisem de ajuda para serem remediados. A religião deve incentivar a luta
pela dignidade humana, pela liberdade e pela paz.
Por tudo isto, melhor do que
as consagrações do dia 25, realizadas por todo o mundo cristão, seria mais eficaz
a difusão da vantagem da aplicação constante dos «mandamentos», bem explicados
de maneira a serem praticados por todos, especialmente pelos políticos com
possibilidade de ordenar actos ilegítimos que prejudicam seriamente povos
pacíficos e inocentes, como é presentemente o caso da Ucrânia e de tantos
outros actos de terrorismo que afectam gente honesta e trabalhadora.
O respeito pelos outros é
basilar para vivermos em paz e, quando surgem dúvidas, quanto a limites dos
interesses das partes, a melhor solução consiste no diálogo e, se necessário, no
recurso a intermediários independentes e amantes da paz. Qualquer acto de
violência, na sua contabilidade final, traz mais prejuízos do que ganhos para
qualquer das partes.
A Igreja deve orientar o seu
esforço para que os ensinamentos da fé sejam devidamente aplicados para a
felicidade e a segurança dos povos, de todos os povos, e sejam evitados
acontecimentos indesejados e desgastantes da boa qualidade de vida que os evangelhos
apontam como ideal e desejada por Deus. Para isso, é esperada a colaboração de
todos os sacerdotes e dos seus melhores praticantes.
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