Dinheiro
é demónio com muitos fanáticos
(Publicado no DIABO em 13-02-20118)
Portugal, por tradição, era um país que,
sem ter religião de Estado, tinha a maioria da população católica. Mas a
sociedade modificou-se ou degradou-se e, hoje, os locais de culto mais
frequentados são os estádios de futebol. E, em vez o Deus dos católicos, grande
parte da população está loucamente fanatizada pelo dinheiro, uma coisa
demoníaca que, de objecto necessário e indispensável, passou a ser cobiçado,
sem limites, por qualquer forma, sem olhar a respeito pela própria função, nem
pelo dinheiro público nem pela própria reputação.
Já acontece haver juízes suspeitos de
sujar as mãos, por pressão de pessoas amigas que os fazem esquecer a sua
condição de dignidade, liberdade e independência, com valores éticos e desejos
de perfeição. Também tem havido elementos de governo e de sectores da
administração pública que se deixam tentar pela adoração de tal ídolo, como se
diz da compra de submarinos, de vistos dourados, etc. O BPN e outros Bancos
entraram em dificuldade por créditos concedidos a amigalhaços que não pagaram.
Em IPSS e outras instituições houve problemas graves.O futebol deixou de ser um
desporto para ser praticado com prazer e pelo prazer para movimentar
monstruosas somas de dinheiro.
Os negócios já não têm por objectivo a
eficiência e a vantagem na concorrência para beneficiar clientes e atrair mais,
mas apenas para aumentar os lucros da sua contabilidade. Um exemplo disto é
referido num texto que refere a dessalinização da água salgada dos mares que
viria resolver os graves problemas de seca que ameaçam continuar a agravar-se,
assim como o desenvolvimento das energias renováveis, mas que está condenada a
não sair do estado das intenções por os potenciais investidores estarem mais
interessados em continuar com a utilização dos produtos derivados do petróleo
para as indústrias que dele se servem. Essa obsessão dos lucros e medo de
arriscar ousar eventuais iniciativas de novação e desenvolvimento de melhores
tecnologias que facilitariam a vida das pessoas e a preservação do ambiente
contrariam a evolução. O jogo de interesses imediatos, para garantir os mais
fabulosos lucros é imparável e não olha para os sacrifícios evitáveis das
pessoas a quem são privadas soluções inovadoras e mais vantajosas.
Também o desenvolvimento dos automóveis
eléctricos e de outros meios inovadores de transportes está a ser boicotado
pela associação de comerciantes do ramo amarrada, sem imaginação, à antiquada
dependência dos produtos petrolíferos.
Em muitos campos, os fanáticos pela
moeda acabarão por falir, agarrados à sua teimosia sem criatividade, impedindo
as pessoas de beneficiar de uma evolução apoiada nas mais modernas tecnologias
mas, entretanto, vão resistindo. Apetece perguntar: porque não usam a
inteligência e o seu poder financeiro para se dedicarem a novas modalidades,
estimulando a investigação e a inovação com finalidade idêntica e alternativa à
que agora têm mas mais vocacionada para o futuro? Porque preferem continuar na
mesma rotina obsoleta até sucumbirem sendo vencidos pela previsível
concorrência da inovação? Enfim, são fanáticos, obstinados carentes de
capacidade para procurar estratégias modernas, inovadoras, e nem pensam em dar
aos seus sucessores maior probabilidade de sucesso.
O fanatismo do dinheiro transforma-o num
produto altamente tóxico gerador de guerras e outras tragédias e obrigando os
seus detentores a uma vida de escravatura mascarada de pompa e fausto de
exibicionismo. Mas há excepções como o milionário Bill Gates que distribui para
fins de benefício social, grane parte dos seus rendimentos. E o nosso Cristiano
Ronaldo que vai ajudando a família e pessoas com necessidade de apoio
financeiro. A revista Exame publicou a lista de 15 milionários mais caridosos e
filantropos, com Mark Zuckenberg no topo. Há quem se arrependa do erro da
toxicodependência do dinheiro.
António João Soares
6 de Fevereiro de 2018
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