quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

FALTA ÁGUA E O MAR TÃO PERTO

Falta de água e o mar tão perto!
(Publicado no semanário O DIABO em 19 de Dezembro de 2017)

Um país com extensa costa marítima não tem motivo para se queixar de falta água. Pode faltar outra coisa, nos titulares da autoridade. Como podem os governantes aceitar tal carência de água como irremediável? Por exemplo, Viseu está a viver com água transportada por autotanques a partir de origens distantes. Várias localidades do País enfrentam problema semelhante, com custos elevados.

Mas, no entanto, temos uma extensa área marítima que, não só, é inesgotável, como até ameaça elevar o nível e alagar várias áreas costeiras.

Perante tanta inacção das autoridades, como poderão viver os portugueses, nos próximos anos se o clima nos obrigar a suportar uma seca continuada como a que temos vindo a enfrentar há vários meses seguidos?

Porque teimam em ignorar a existência, em vário locais do planeta, de instalações de dessalinização da água do mar, tornando-a potável, após um tratamento de género do efectuado nos depósitos das redes de água dispersos pelo País. A partir de tais instalações, basta utilizar condutas e centrais de bombagem que a levem a casa dos consumidores. Nada disso é miragem. A distância do mar ao interior não constitui obstáculo difícil pois a grande Lisboa consome água vinda da barragem de Castelo de Bode, a uma distância superior à maior distância entre o mar e a fronteira com Espanha.

Mas o sistema não aparece do pé para a mão, quando algum «inteligente do poder» o julgar necessário. Desde que surge o pensamento e é tomada a decisão até à sua utilização, passando pelo planeamento e pela construção da instalação e da rede de condutas, vai um período de tempo não desprezível. Por isso, dadas muitas previsões de que iremos ter secas continuadas, a implantação do sistema deve ser iniciada desde já, ou já devia estar em obras. Se esperarmos por um momento de crise irrecuperável só nos safamos se pedirmos e merecermos o milagre da água. Não podemos ignorar que as obras a realizar os equipamentos a instalar não se tornam utilizáveis com a velocidade imaginada pelo optimista utópico António Costa ou outro governante.

Já deviam estar em construção algumas dessas instalações de dessalinização e a adequação da rede de distribuição pelo interior. De que estão à espera. Para bem dos portugueses, da próxima década, desejo que esta sugestão seja levada a sério.

Mas podem surgir soluções satisfatórias e menos dispendiosas. É uma questão de conhecer a probabilidade de a necessidade vir a concretizar-se num futuro, mais ou menos distante, e a hipótese de os caudais dos rios se normalizarem.

Nessa alternativa, o primeiro-ministro admitiu, a prazo, a possibilidade de interligação entre bacias hidrográficas, como em tempos esteve pensada entre o Douro e o Tejo e que foi impossibilitada pela decisão imprevista da não construção da barragem de Foz Coa. Esta, com outras ao longo do percurso do mesmo rio, permitiria bombear a água excedente de uma barragem para a mais a montante, sucessivamente, e, ao chegar à área da nascente, seria encaminhada para o rio que parte da mesma zona para o Tejo, permitindo fazer face à falta de água do Alentejo. A barragem do Alqueva veio em parte compensar o fracasso de tal projecto.

Na mesma data, o PM sugeriu o estudo da possibilidade de ser generalizada a interligação das grandes barragens e albufeiras de maior capacidade para a regularização, bem como o aumento da capacidade de armazenamento da maior parte das barragens, e a possibilidade de construção de novas barragens.

Esta alternativa será prioritária, apenas, se o clima não sofrer alterações extremas que aumente a necessidade da dessalinização. Mas, vale mais prevenir porque pode não haver possibilidade a de remediar, com oportunidade.

António João Soares
12 de Dezembro de 2017

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