(Public em DIABO nº 2357 de 04-03-2022, pág 16, por António João Soares)
Quando surgiu esta pandemia, uma médica, em artigo de opinião num jornal, resumiu a situação de estratégia do medo e realmente não tardaram as restrições à liberdade ou o confinamento que tolheram a vida social e a actividade económica. Mais tarde, com a esperança de que a crise fosse passar, tais cortes às liberdades das pessoas foram reduzidos, mas muitas pessoas sentiram-se menos ameaçadas pelo perigo do covid e exageraram a liberdade sem cuidar das medidas preventivas indispensáveis e daí resultou o agravamento da saúde e o número de infectados subiu e apareceram várias variantes da moléstia que nos fazia sofrer. Mais agravamentos mais doentes e isto repetiu-se.
Se as restrições
reduziram as baixas, também ocasionaram prejuízos na economia, mas depois de as
aliviar havia que consciencializar as pessoas dos cuidados preventivos a ter,
como o uso da máscara, a higiene das mãos e evitar as aproximações com outras
pessoas.
Mas a realidade vai além
desta situação. O medo e as ameaças reinaram e vão continuar a persistir na
política internacional, como tem sido muito notado no caso da Ucrânia. A
ostentação de forças e as afirmações de ambas as partes são intenções de levar
a parte adversa a hesitar na violência, mas ambas aumentam a imagem de força
por forma a travarem a vontade do adversário para agir, com receio de
reacções fortes da outra parte. E o perigo de um rasgo de ousadia é cada vez
maior. Mas a história mostra que um conflito, por vezes, surge por uma
distracção, um descuido na interpretação do outro e, depois de desencadeado,
mesmo que seja encontrado acordo para terminar, não deixa de provocar grandes
despesas em material bélico e muitas perdas de vidas e muitos feridos. A
estratégia do medo e da ameaça não é isenta de grandes inconvenientes.
O comportamento
desejável, embora difícil de obter, seria o do diálogo franco e fraternal e o
respeito pelos interesses legítimos de cada um por forma a suportarem pequenos
inconvenientes que seriam incomparáveis com os grandes prejuízos de conflito de
grande dimensão e gravidade, como foram as duas Grandes Guerras do século
passado.
Mas a estratégia do medo
também é usada a nível nacional. Com a restrição de informação conseguida pelos
cidadãos, estes são circunscritos pela influência de promessas ilusórias e na impossibilidade
de conhecer as realidades que lhes tolhem os interesses legítimos de
conhecimento dos condicionamentos que lhes confinam as possibilidades de
felicidade. O povo adormecido raramente se atreve a agir com força na procura
de um futuro melhor e vai-se acomodando nos limites do medo, «sem tugir nem
mugir». Mas quando consegue um pouco de consciência e um rasgo de atrevimento,
surge uma crise nacional que pode atingir graves consequências, porque até
muitos que vegetavam na sombra do poderoso, procuram aproveitar a oportunidade
para o afectar e colher com isso benefícios pessoais e sentem atracção pela
ambição de riqueza e poder.
A estratégia da ameaça
está latente em cada gesto de um líder poderoso. Muitas vezes manifesta-se por
promessas não cumpridas e por ostentação de poderes que, se forem exercidos,
causam sérios perigos nas pessoas alvejadas, que ficam cheias de medo a pensar
na vingança. São curiosos os factores causais e os consequentes da colocação de
forças militares para «proteger» pessoas que são dadas como vítimas de actos de
violência de concidadãos apoiados por agentes externos.
Que bom seria se todos se respeitassem e se amassem como irmãos! Se houvesse da parte de todos os intervenientes uma eficaz contenção! A vida seria um paraíso!
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