Fogos inevitáveis?
(Publicado no DIABO nº 2223 de 09-08-2019, pág 16)
Em 2017, após os incêndios florestais de Pedrógão Grande que alastraram por enorme área onde causaram imensos prejuízos em instalações de habitação e agrícolas e em terrenos cultivados, bem como perdas de vidas, o Governo, através de palavras muito sonoras e largamente repetidas, criou na população a convicção de que não voltaria a sofrer efeitos de tragédias semelhantes.
Mas passados dois anos houve, além de outros, o caso de Mação, que abrangeu uma área assustadora, o que nos faz interrogar sobre as medidas concretas resultantes das intenções governamentais prometidas pelas palavras de esperança tão badaladas. Mas de tais promessas começou por se ver uma medida legal tão inadequada que teve de ser alterada nos prazos muito curtos que impunha para a limpeza nas vizinhanças de habitações e de povoações. Mas, apesar de terem surgido nos jornais opiniões de técnicos conceituados para se fazer uma reestruturação da floresta por forma a circunscrever a área de cada incêndio e outras medidas concretas já aplicadas noutras áreas próximas da nossa fronteira, o Governo teimou nas suas ideias e a intenção não faz milagres. Não se lembrou que seria útil pedir a colaboração de técnicos competentes para uma reunião de análise a fim de ser decidida uma solução, com pés e cabeça.
Acerca do fracasso da prevenção prometida, o Sr. Ministro da Administração Interna devia explicar as medidas que tomou para prevenir incêndios tão dramáticos. Quais as razões por que não foram eficazes para evitar os incêndios de agora? Porque não foram tomadas medidas melhores? Possivelmente, alguns dos seus colaboradores deram lhe um apoio menos conveniente ou pressionaram a adopção de medidas ineficazes? Que colaboradores despediu por o não terem ajudado a ter êxito?... Mas a fantochada continua. E a responsabilidade é toda atribuída ao povo que atura, sem reagir de forma eficaz e definitiva, os que agem em nome do governo.
E, na denominada limpeza da floresta, por melhor que se rape toda a vegetação rasteira, a Primavera seguinte faz cobrir o terreno de nova camada vegetal que seca no Verão, ficando pronta para as criminosas intenções de pirómanos a mando de bandidos com capacidade para lhes pagar. E, perante os pirómanos, havia que preparar a Justiça para aplicar penas que desencorajassem novos incendiários e seus apoiantes.
E, na limpeza das matas, é preciso bom senso e cautela para não destruir miniaturas de futuras grandes árvores, a fim de não transformar o interior num extenso campo desportivo para golf, futebol, etc. Limpeza radical dessa forma deve ser reservada aos aceiros que transformem as encostas numa quadrícula que impede fogos extensos e que tem sido sugerida em escritos de vários técnicos, atrás referidos.
Outra medida muito estranha, ainda não explicada, foi a aquisição de 70 mil golas compradas pela Protecção Civil não para usar em protecção individual, em incêndios, mas para sensibilização de boas práticas, mas que foram comprados com tal urgência que, sendo o “valor de mercado de 74 cêntimos cada”, o Jornal de Notícias garante que o Estado “deu 1,80 euros” na compra feita a marido de autarca do PS.
Com a anunciada subida de temperatura e a relacionada alteração climática, o País ficará transformado num monte de cinzas e de destroços, em pouco tempo, se não forem utilizados processos eficazes de detecção e de combate rápido. Há poucos anos, conheci um jovem que esteve em Barcelona a tirar um curso de pós-graduação e que, na tese, apresentou um sistema de detecção de um fósforo aceso, comunicada automaticamente aos bombeiros os quais accionam o carro de prevenção que, com pouca água, apaga a chama antes de ela se propagar. Em pontos altos bem escolhidos do terreno, montam postes com sensor que indica a direcção da chama e, por triangulação, dão aos bombeiros o seu local exacto para a eliminar. O custo disto resulta da quantidade de postes a instalar e dos aparelhos de detecção e de comunicação por satélite. ■
DELITO há dez anos
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