Organização coerente e simples
(Publicada no Semanário O DIABO em 4 de Dezembro de 2018)
Uma organização, além de outras características, deve ser simples, clara e
coerente com o objectivo pretendido e os seus factores. A simplicidade é uma
virtude indispensável que deve ser respeitada por qualquer instituição
pública ou privada. A complexidade desnecessária é desaconselhada por
encarecer os custos de funcionamento, por criar confusão e aumentar a
burocracia que dificulta ou impossibilita a inovação e a produtividade, pondo
em risco os objectivos desejados. A simplicidade da estrutura organizativa
deve repercutir-se na preparação das decisões, as quais deverão seguir uma
metodologia semelhante à referida no artigo “Preparar a decisão” n’O DIABO de
27/9/2016 e, por estarmos em democracia, para que os objectivos sejam bem
recebidos e alvos de luta para serem bem conseguidos e para que os factores e
os condicionamentos da decisão a tomar sejam bem interpretados e nada fique
esquecido, há vantagem em que as pessoas e os serviços relacionados com o
cumprimento da decisão sejam ouvidos durante a elaboração do estudo a fim de
este ser devidamente preparado com análise exaustiva de todas as condicionantes.
Quem está dentro do problema tem muito a dizer e a sugerir. Vale mais esse
contributo oportuno do que a posterior crítica que fere a competência de quem
preparou a decisão ou assumiu a sua autoria.
E, para gerir com eficiência, é preciso uma informação permanente da evolução
dos condicionamentos dos diversos sectores da organização. Esse conhecimento da
realidade permite tomar decisões adequadas a prevenir percalços, evitar acidentes,
e decidir os passos seguintes a fim de obter melhores resultados. No recente
acidente na estrada de Borba houve conhecimento dos perigos prováveis mas a
imprudência e a falta de sentido de responsabilidade do autarca e do ministério
que, quatro anos antes, reconheceu a situação de risco que conduziu à tragédia
ocorrida agora.
Ao contrário das atitudes desleixadas e desrespeitadoras dos direitos humanos que
deram lugar à tragédia ocorrida recentemente na estrada de Borba, os concelhos de
Aveiro e de Oliveira do Bairro tomaram uma decisão exemplar de cortar o trânsito
na rua do Ribeirinho, que liga os dois municípios, quando a circulação automóvel
foi colocada em perigo, devido a chuvadas que provocaram arrastamento de solos e
destruição de parte da «passagem hidráulica» ali existente. Os dois municípios
comprometeram-se, em cooperação, à elaboração do projecto, já em fase de
conclusão, de intervenção para construção da nova passagem hidráulica, e
prevê-se que os trabalhos para execução da obra tenham início ainda durante o
mês de Dezembro. Esta decisão concretiza o que atrás foi dito, pois demonstra
sentido de responsabilidade e respeito pela segurança das pessoas.
Mas, infelizmente vemos o governo, responsável pelo que acontece no País, a fechar
os olhos às realidades que exigem intervenção urgente e, depois, se desculpar por
ignorância do que se passa, como nos fogos de Pedrógão Grande, o roubo de Tancos e,
agora, a tragédia de Borba.
E quanto à preparação de decisões é significativo o que está a sensibilizar os
bombeiros a propósito da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), e
da Autoridade Nacional de Protecção Civil que não os convence. Isso insere-se na
tendência para criar instituições sem utilidade visível a não ser a de dar salário
aos ex-jotinhas, as quais tomam designações variadas como actividades, agências,
observatórios, comissões, polícias, entidades reguladoras, etc. São muitas
dezenas e, do muito que custam aos contribuintes, não são vistos resultados na
melhoria da qualidade de vida das pessoas, nem aumentam a informação do Governo
sobre as realidades. ■
António João Soares
27 de Novembro de 2018
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