Que partidos, que famílias e que futuro?
(Publicado no semanário O DIABO em 16 de Janeiro de 2018)
É muito desagradável que uma grande parte dos cidadãos eleitores, ao emitirem uma opinião sobre os políticos portugueses, usem palavras curtas mas de significado demasiado contundente.
É, por isso, urgente que os partidos comecem a preocupar-se com a imagem que apresentam publicamente, a fim de conquistarem a confiança dos eleitores e melhorarem a esperança que cada português deve ter no futuro do país onde, provavelmente, viverão os seus descendentes. Seria bom a que a acção didáctica exercida sobre os cidadãos – dos menos aos mais cultos – lhes criasse o desejo de imitar os bons exemplos vindos de cima, do alto da hierarquia político-administrativa. Isso levaria os eleitores a escolher, com mais fundamento e consciência, os seus representantes e defensores, com base nas qualidades que lhes reconhecem e admiram e, também, lhes orientaria os comportamentos, de forma mais condizente com os valores éticos e cívicos que infelizmente, parecem estar esquecidos de quem devia dar exemplo.
Os próprios partidos também estão a ser objecto de tais opiniões negativas mas, perante a actual lei fundamental, não se pode passar sem eles. Porém, cada um deve investir algum tempo e reflexão de equipa sobre os interesses nacionais, dos cidadãos, a fim de passar a dar primeira prioridade aos grandes assuntos nacionais aos quais devem ser subordinados os interesses privados do partido e dos seus familiares e amigalhaços.
Os exemplos vindos a público sobre algumas IPSS, subsidiadas abundantemente por dinheiro público, com dirigentes das famílias de políticos com ordenados principescos, e dando «emprego» a políticos, com o aval partidário, do governo e de autarquias são objecto de apreciações pouco abonatórias. E a sucessiva aparição de mais casos torna conveniente uma investigação rigorosa para aplicação de medidas correctivas e preventivas de repetição de escândalos. E, provavelmente, também haverá serviços públicos de que não se conhecem efeitos positivos para a vida colectica, a Nação, e que funcionam como palcos bem remunerados para indivíduos da partidocracia em que predominam familiares e amigalhaços, exigindo mais atenção talvez ao ponto de lhes ser aplicada a solução dada às três instituições que foram extintas para dar origem à ASAE.
Há muitos escoadouros, sem controlo, dos dinheiros sacados aos cidadãos através de impostos directos e indirectos, taxas e taxinhas. Uma boa análise da estrutura organizativa da máquina pública levaria ao encerramento de muita chafarica inútil e dispendiosa e a um melhor critério de nomeação de pessoal que deve ser selecionado pela sua preparação, experiência, competência, dedicação à causa pública, capacidade, sentido de responsabilidade, etc. A nomeação de familiares ou amigos para a função pública deve ser precedida de cuidados especiais, com garantia de que dispõem de visível superioridade em relação com os melhores concorrentes, para evitar posteriores crítica desagradáveis à imagem de quem nomeou. E, depois, todos devem ser avaliados pelos resultados do seu trabalho, que deve ser perfeito e útil ao país. As instituições para inspecções, auditorias e fiscalizações citadas pelo PM a quando dum caso ocorrido com uma IPSS devem ser também vigiadas para haver garantia da independência, do rigor e da honestidade como desempenham as suas funções.
Enfim, na partidocracia em que os portugueses vivem, há que definir as regras com deveres e direitos dos partidos, não imitar a aristocracia familiar destituída em 1910, mas construir um futuro ao nível dos tempos mais gloriosos da nossa História.
António João Soares
9 de Janeiro de 2018
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